A praga do novo normal: Os compartilhadores-gurus de conteúdo

(Por Ricardo Michelazzo)

Esse texto trata-se de uma visão exclusivamente pessoal sem a menor intenção de ter qualquer juízo de valor sobre as pessoas que praticam esse tipo de atividade, apenas trazendo o foco da influência do que é propagado em redes sociais e a responsabilidade que se deve ter em cima delas. 

Nunca se compartilhou tanto conteúdo como agora e, como consequência, nunca se compartilhou tanto conteúdo ruim. E ai que mora o perigo.

O compartilhamento de conteúdo virou item quase que obrigatório para qualquer grande “guru” e como temos cada vez mais gurus, facilmente temos contatos com seus conteúdos. E como todo bom enlatado, tem lá suas fórmulas. Compartilhadores tem seu comportamento bem parecido uns com os outros: fazem suas lives em seus ambientes super legais, descolados com o fundo cheio de coisas que rementem ao modernismo e inovação, e todos no mesmo horário. Até ai tudo bem, o problema é quando mergulhamos no conteúdo, um absurdo atrás do outro. Dentro dos vários absurdos eu gostaria de destacar 3 práticas que eu julgo as mais nocivas. São elas:

1)     As famosas e irresponsáveis “cagadas”de regras:

Desculpe o linguajar informal demais, mas faltou um nome melhor para descrever aqueles que sempre tem uma formula perfeita que se encaixa perfeitamente com os problemas da audiência ou até mesmo de todas as empresas do mercado em geral. É impressionante como falta tato ou até mesmo responsabilidade no conteúdo em que se é exposto, especialmente ao responder uma pergunta. As verdades são ditas como se não importasse a realidade de cada cliente e seus respectivos negócios. Como se todos estivessem com os mesmos patamares de negócios, tivessem a mesma estrutura de organização de empresa, de sortimento de produtos, de força comercial com fornecedores e por ai vai. Nada disso importa, faça os que eles dizem e fature X milhões por mês (eles adoram falar em milhões) mesmo sem saber que se algumas empresas chegar nesse volume X de faturamento elas vão quebrar por que podem não ter dinheiro para bancar o fluxo de caixa.

2)     Um currículo fraco e uma vivência limitada:

Dotados de uma oratória ímpar, os compartilhadores-gurus tem uma capacidade de dar volume ao pouco de realizações que já fizeram. É nítido que pouco tempo de atuação no mercado é capaz de produzir uma quantidade absurda de experts, nas mais diferentes áreas e especializações. Mas é claro que essa falta de oportunidade de viver muitas situações diferentes, vai fazer com que os compartilhadores-gurus digam muitas besteiras. Claro que pra combater essa falta de densidade de conteúdo, o caminho e trazer para seu discurso situações vividas por outras pessoas ou outras corporações, afinal de contas o que vale é ter coisa pra falar, nem que seja coisa que tenha sido ouvida ao invés de vivida.

Em conjunto com as “verdades absolutas” vem também muita frase de efeito, aquelas para fechar com chave de ouro, afinal de contas, os compartilhadores-gurus estão por ai para levantar a barra do mercado.

3)     Propósito é bem diferente de Auto Promoção: 

Sim, isso é completamente óbvio não é? Parece que não. Aliás, o mais comum é ver auto promoção dos compartilhadores-gurus disfarçadas de propósito, o propósito de transformar as empresas.  O proposito tem a ver com a realização pessoal, de estar alinhado com suas crenças, com o seu objetivo de deixar um legado pro mundo. Aliás chegamos a um ponto interessante aqui. Todos os compartilhadores-gurus tem muito esse objetivo de deixar legado pro mundo, mas cá entre nós, quantos deles tem feito alguma coisa pra isso? NENHUM. O que importa é gerar conteúdo generalista apoiado na sua história de sucesso, para que seus seguidores assistam, comentem, agradeçam, elogiem, idolatrem e que os compartilhadores-gurus possam RE-POSTAR em seus feed e stories de redes sociais. Ou seja, precisa alimentar mais do que o propósito, tem que alimentar o ego também.

Quer saber quem trabalha por propósito ou por promoção? Analise o comportamento das pessoas em épocas de votação dos vergonhosos prêmios para profissionais do e-commerce. 

Claro que compartilhar conteúdo é muito importante e relevante, mas isso tem que ser feito com responsabilidade, sem a necessidade de formulas ou respostas prontas, mas que façam as pessoas refletirem e entender até onde elas podem aplicar o conteúdo aprendido em seus próprios negócios, essa é o verdadeiro proposito de dividir o que se aprendeu, muito mais do que seus likes e seguidores

E para quem acompanha esses geradores de conteúdo, é hora de serem mais críticos, parem de acreditar em tudo que se ouve / assiste e parar de idolatrar pessoas que pouco tem a agregar. Não dá pra ser inocente (para não dizer burro) para acreditar que uma pessoa que nunca te viu, não conhece nada do teu negócio vai poder te ajudar mais do que você mesmo que vive os problemas todos os dias. E lembre-se: quem fala demais dá bom dia a cavalo

15/11/2020