Precisamos falar do Agro
Meus caros leitores, trago hoje para estrear esse novo projeto um tema relacionado à minha atuação profissional e também uma preocupação que venho tendo nos últimos meses.
Estamos vivendo em um mundo cercado de informações que partem de todos os cantos e que chegam à palma de nossas mãos em uma velocidade estrondosa. Informações das mais variadas formas: em telejornais, rádios, podcasts, documentários em serviços de assinatura (streaming), textos impressos, em e-mails, nas mídias, redes sociais. Nunca foi tão fácil pesquisar sobre um assunto e encontrar uma vasta relação de fontes para essa nossa busca. A facilidade de informações encontradas hoje nos coloca em uma armadilha intelectual onde ficamos rodeados por apenas aquilo que “fala nossa língua”, daquilo que “é da nossa praia”, do que gostamos de ler, ver e ouvir. Os algoritmos da internet são esses “orientadores”, que nos direcionam a um caminho de pedras polidas, contendo tudo o que nos agrada. Isso vai moldando nosso pensamento, limitando nossa formação de opinião.
Mas amigos, o trabalho que apresento a vocês hoje não tem como assunto principal a tecnologia, esses algoritmos, ou a discussão sobre veracidade ou não de informações espalhadas pela internet. Mas logicamente está relacionado a tudo isso. A consequência deste mar de informações e opiniões, conduzem uma significativa parte da população a adotar um posicionamento extremista e bastante perigoso, que pode trazer danos irreversíveis ao nosso modo de viver, ao nosso país.
Temos uma das maiores riquezas que qualquer país sonha ter, somos exportadores desta riqueza, abastecemos o mundo com ela. Somos grandes geradores de conhecimento sobre o assunto, temos o “know how”, experiência de sobra... sobre a PRODUÇÃO DE ALIMENTOS. Produzir alimentos e ser autossuficiente é o maior patrimônio que um país pode ter. Isso é ou não é um privilégio, uma benção? Além do Brasil ser um grande produtor, ainda conseguimos exportar alimento para o mundo. A produção agropecuária brasileira está em destaque há décadas. O agronegócio brasileiro se sustenta como um dos principais modelos de eficiência econômica do mundo. Somos responsáveis pela segurança alimentar, isto é, o acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes, que garantam o direito humano à alimentação adequada.
Com uma média de 21 bilhões de dólares de produtos agrícolas exportados anualmente, desde 2014, o Brasil consolida-se ano a ano entre os maiores exportadores de produtos agroindustriais do mundo. Um grande exemplo desse sucesso são as exportações de carne bovina, que aumentaram em mais de 30% desde 2012, abastecendo em grande parte os mercados asiático, europeu e até o norte-americano. Nesse complexo de carnes, somos ainda o maior exportador e o segundo maior produtor mundial de carne de frango, respondendo juntamente com os Estados Unidos por mais de 50% de todo frango produzido no mundo. Esse sucesso no comércio de carnes está também relacionado às condições sanitárias do país, mantidas por meio dos órgãos fiscais e sanitários competentes e por produtores compromissados, que cumprem o alto número de exigências impostas pelos países importadores. Os Programas Sanitários do Ministério da Agricultura e das Secretarias Estaduais são vistos como exemplos de atuação e estratégia por outros países no controle e erradicação de doenças. Temos um programa de vigilância ativa em relação à Influenza Aviária (H5N1), mesmo nunca tendo ocorrido um único caso em território brasileiro. Somos também livre de febre aftosa em todo o país, com ou sem vacinação. Estamos em fase de erradicação da brucelose e tuberculose bovina. Fazemos nossa lição de casa, muito bem!
Além do setor pecuário, o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de café do mundo. Apesar dos desafios, a indústria brasileira do café tem sido capaz de crescer e competir no mercado global, e os últimos números mostram que as exportações estão se recuperando. A exportação de soja do Brasil em 2022 pode ir ao recorde de 90 milhões de toneladas. A Conab (Companhia Nacional do Abastecimento) indica uma produção total de milho em 2021/22 acima de 117 milhões de toneladas, um recorde e 34% maior que a temporada 2020/21. Vivemos em um estado onde o agronegócio é responsável por 14% do seu PIB, sendo puxado pela produção de cana-de-açúcar, pelo café, pela soja e também bovinocultura.
Nesse contexto, vocês leram até aqui várias vezes as palavras “sucesso”, “maior produtor”, “maior exportador”, “recorde de produção”. Isso nos traz uma identidade como nação, nos remete a lembranças de familiares, antepassados que fizeram das lavouras e pastagens o terreno do seu ganha pão, erguendo esse país. Isso nos enche de orgulho. Concordam? Não há como um único brasileiro não sentir isso! Ou será que há?
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Infelizmente sim. O próprio cidadão brasileiro é o maior obstáculo à produção agropecuária brasileira, ao agronegócio. Justamente porque boa parte da população se acomodou, não leem mais, não tem a curiosidade de enxergar os diferentes pontos de vista sobre um assunto. Será que por medo de se magoar com um posicionamento, uma ideia contrária? São movidos a uma cultura de polarização que domina o país? Formam suas opiniões baseados em uma única fonte de informação e colocam isso como uma verdade absoluta que qualquer questionamento se torna uma ofensa.
Pois bem, o agronegócio brasileiro é visto por milhares de brasileiros e milhões de estrangeiros como um vilão, algo que deve ser combatido, boicotado, aniquilado. Há muitos interesses escondidos, e até outros escancarados, sobre o que é divulgado do agronegócio, colocando em confronto o setor agropecuário e o meio ambiente. Segundo dados da EMBRAPA, nos mais de 850 milhões de hectares, as propriedades rurais ocupam 30% do território brasileiro, sendo 8% de pastagens nativas como Pantanal, Pampas e Caatinga; 13% de pastagens plantadas e 9% de lavouras e florestas plantadas. De acordo com outras pesquisas publicadas recentemente em importantes periódicos por grupos de pesquisa da USP e dados do IBGE, temos uma área de vegetação protegida e preservada superior à de outros grandes produtores mundiais, como EUA, China, Argentina e Austrália. Os dados são ainda conflitantes, mas estudos mostram que essas áreas de preservação chegam de 55 a 66% do território nacional. Mesmo com esses dados sendo divulgados e de livre acesso, porque o agronegócio brasileiro é diariamente questionado, sabatinado e colocado em um paredão de fuzilamento, sem qualquer chance de defesa?
A superficialidade de informações colocada pela grande mídia brasileira aliada à falta de interesse de boa parte da população em pesquisar mais o que se lê, faz com que o Brasil fique à serviço de grupos que enxergam o cenário atual como a grande oportunidade de colocar seus interesses em prática. Em 2020 a Associação Nacional dos Fazendeiros e a ONG Parceiros contra o Desmatamento, ambas dos EUA, publicaram um relatório técnico denominado “Farms Here, Forests There”, isto é em tradução livre “Fazendas Aqui, Florestas lá” que defende que países ricos, em especial os EUA, devem desenvolver a agricultura, cabendo os países tropicais, especialmente o Brasil, preservar as florestas. O documento cita vários dados e o quanto o desenvolvimento das atividades agropecuárias nos países tropicais prejudicam os agricultores norte-americanos. A verdade é que o sucesso da produção agropecuária brasileira incomoda muita gente. Somos líderes em produção e exportação de commodities com apenas 30% do território disponível para este fim. Desbancamos países como o próprio EUA, França, Irlanda, Argentina no mercado global de carnes. O Brasil é o “time” a ser batido, somos há muito tempo a bola da vez. Produtores fazem manifestações na França por conta de o país importar 45% da carne de frango que sua população consome. Importam de países como o Brasil, Tailândia e Ucrânia. A França impõe exigências de rastreabilidade, veta importação de países que utilizam antibióticos promotores de crescimento em frangos (que não são hormônios, diga-se de passagem). E o Brasil o que faz com tudo isso? Atende todas as exigências impostas e expande ainda mais seu mercado sem precisar aumentar a área territorial de suas culturas de grãos e de animais. Somos muito eficientes nesse ramo. Somos líderes neste ramo por mérito.
Certo dia vi uma propaganda na internet de camisetas com frases bem humoradas e em uma delas estava escrito em inglês: “Agricultura: a gloriosa arte de perder dinheiro enquanto trabalha 400 horas por mês para alimentar aqueles que acham que você os está envenenando.” Hilário, não? Será que é isso que pensam alguns artistas, estrelas de Hollywood, Youtubers, influenciadores digitais que atacam nossa produção agropecuária e políticas agrárias com dados e informações ultrapassadas, desatualizadas? Gritam, não dialogam, por todos os cantos discursos arrogantes baseados em uma ideia, um cenário irreal como se a atividade e a tecnologia empregadas hoje na produção fossem a mesma das décadas de 70 ou 80! “O Brasil aumentou sua produção? Então mais florestas foram derrubadas, queimadas! Vamos salvar as “girafas” da Amazônia!”. Como falei anteriormente, não precisamos mais disso para aumentar nossa produção. Essas pessoas não ouvem aqueles que se opõem à sua maneira de pensar. Acredito que esse é um dos problemas. Então como podem formar uma opinião se não querem enxergar todo o cenário, mas somente querem os aplausos do seu público? E esse público que aceita e propaga essas informações, infelizmente, é muito grande.
Esse assunto não está limitado às diferenças de ideologias, hábitos pessoais de alimentação ou consumo. Independente do lado que estamos, se defendemos ou atacamos o agronegócio brasileiro, nós recebemos rótulos por esta posição. Se você é um consumidor de carne você se torna da noite para o dia o responsável pelo aquecimento global, pelos desastres naturais, pelas queimadas na Amazônia, pela destruição da Mata Atlântica, pela extinção de animais selvagens, pela extinção do povo indígena. Por outro lado, se você é vegetariano ou vegano, você é defensor da natureza e do meio ambiente, é visto como um alienígena na população, ama verdadeiramente os animais mais do que qualquer outra pessoa. Isso é uma questão pessoal, não um programa alimentar ou nutricional imposto pelo Estado. Eu não posso obrigar um ser humano a ser vegano ou continuar onívoro, nem vou brigar. Sendo bem franco, não estou nem aí para os hábitos de consumo das pessoas porque isso é pessoal! Mas vemos uma imposição da sociedade em classificar, rotular um indivíduo pelos seus hábitos pessoais e maneiras de pensar. Precisamos mesmo desses rótulos? Será que não podemos mais argumentar ou contra-argumentar com o objetivo de formar a própria opinião e, por meio dela, nos posicionarmos? A discussão e troca de informações faz parte de nossa história. A ciência é renovada todos os dias. Os números que citei anteriormente estão sendo processados neste momento por todos aqui, homens que anseiam pela verdade, pelos fatos, sem viés ideológico. Fazemos isso pois é algo natural, benéfico e não prejudicial à sociedade. Isso constrói ciência, isso é a base do desenvolvimento dos povos, isso promove o conhecimento. Certamente os IIr.·. pensarão a respeito. Confrontem sim essas informações, leiam, busquem a verdade, se posicionem. Precisamos agir, não nos omitir.
Essa minha abordagem sobre o agronegócio é só um exemplo de situação que devemos sim levar em consideração para termos nossos posicionamentos e promover uma discussão com base em dados, em fatos. Independente do posicionamento de cada um de nós brasileiros sobre o assunto, uma coisa é unânime: devemos todos desejar o sucesso do agronegócio brasileiro, pois somos totalmente dependentes de seu êxito. A comida que chega ao prato hoje, começou lá no pasto, na lavoura, no pomar. Por mais caótico e difícil os tempos atuais, não temos problemas com o abastecimento de alimentos graças ao produtor rural e todos que participam desta cadeia produtiva. “O agro é o Brasil que dá certo”, dizem. Eu concordo.
Minha avó sempre dizia que “cara feia é fome”, quem sabe não é esse o motivo de toda essa falta de diálogo e empatia com diferentes posicionamentos? E aí? Concordam ou não? Vamos discutir? Vamos dialogar?
MÉDICA VETERINÁRIA
2 aParabéns Professor Danilo! Ótima abordagem sobre a produção e qualidade dos alimentos que chegam a mesa da população. O nosso país é muito rico em diversidade, qualidade, quantidade e isso incomoda o mercado lá fora, e infelizmente muitas pessoas não tem conhecimento e também não buscam saber a verdade à respeito.
Veterinarian at Habitat Vet Clinic
2 aA Medicina Veterinária é de extrema/enorme importância para uma sociedade, produzir alimentos de origem animal com qualidade e quantidade suficientes para alimentação humana e exportação alavancam a economia, o controle de inúmeras zoonoses, diversas pesquisas na área de ciências médicas veterinárias são alguns exemplos. Parabéns!!!
Professor permanente externo no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal na UVV- ES. na Universidade Vila Velha - UVV
2 aParabéns Danilo. Produzir alimentos em quantidade e com qualidade, livres de agentes patogênicos causadores de doenças no ser humano - as zoonoses. O agronegócio brasileiro representa grande parte do PIB brasileiro. Parabéns a todos os profissionais envolvidos com as diferentes cadeias produtivas de alimentos.