Preparando o Solo

Preparando o Solo

O semeador saiu a semear. Quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram-na. Outra parte caiu nos lugares pedregosos, onde não havia muita terra; logo nasceu, porque a terra não era profunda e tendo saído o sol, queimou-se; e porque não tinha raiz, secou-se. Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra caiu na boa terra e dava fruto, havendo grãos que rendiam cem, outros sessenta, outros trinta por um.

Sempre gostei de ouvir as histórias das pessoas do campo, sejam daquelas devidamente capacitadas por técnicas e estudos avançados, sejam daquelas forjadas pela vida exigente da enxada e das mãos calejadas.

A percepção obtida pelo olhar atento e paciente da natureza conduz à conclusões fabulosas, principalmente ao discernimento do fato de não termos o domínio sobre tudo. Exige-se uma observação integral do conjunto de elementos do ecossistema estudado para se conseguir qualquer resultado satisfatório no que se venha a empreender.

Nisto reside o fato de que qualquer produção a ser intentada no campo clama por uma apurada etapa de preparação.

A colheita futura exigirá não só uma seleção apurada da semente e, também, não somente um competente semeador. A preparação prévia do solo será determinante ao resultado.

Por óbvio que, para a obtenção de frutos de qualidade, há que se ter uma seleção criteriosa da semente. Mas de nada ela valerá se não houver um rigoroso cuidado com o solo.

Segundo a Embrapa[1] “o preparo do solo visa a melhoria das condições físicas e químicas para garantir a brotação, o crescimento radicular e o estabelecimento da cultura”.

O correto manejo do solo, em momento anterior à ação de semear, é condição categórica para o futuro do fruto almejado.

De alta relevância, também apontada pelo mesmo artigo acima mencionado, é o fato de as culturas semeadas possuírem ciclos e, assim, exigirem que a preparação do solo leve em consideração não apenas um único plantio, mas sim mais de um da mesma cultura de forma a perpetuar no tempo o sucesso do plantio da próxima cultura que venha a ser semeada.

Por exemplo: um plantio de cana-de-açúcar prevê que um mesmo solo seja utilizado para cerca de 30 operações de semeadura e colheita ao longo de cinco anos. Qualquer equívoco na preparação do solo levará ao impacto no resultado de outras colheitas em processos distintos em anos futuros.

Neste estudo proposto por SANTIAGO e ROSSETTO: a “alta produtividade e longevidade estão relacionadas com o sucesso no preparo do solo”.

Os autores citam etapas do processo de preparo do solo e, inclusive, apontam fatores externos, como a ação do clima, para demonstrar que há um processo prévio que deve ser minuciosamente estudado e executado pelo futuro semeador de forma a inclinar à majoração dos resultados da colheita, mitigando os riscos inerentes.

Agora te convido a, por um segundo, parar e pensar nos trabalhos que têm realizado. Vislumbrar seus projetos futuros.

Você, estudante do Ensino Médio. Quais são seus sonhos? Ser um grande médico, um articulado advogado, um notável engenheiro, um criativo arquiteto, um bem sucedido empreendedor?

Ou você, profissional! Quais suas metas? Abrir uma nova loja? Fazer crescer sua carteira de clientes? Duplicar seus lucros?

Na mesma linha vale indagar: e uma organização? Qual seu olhar de futuro? Conquistar um novo mercado? Internacionalizar? Majorar o ROI?

É fabuloso perceber que desde cedo, em nosso desenvolvimento pessoal ou organizacional, somos instigados a perquirir quais nossos sonhos, quais nossas missões, nossas visões de futuro.

Somos chamados, constantemente, voluntaria ou involuntariamente, a nos alimentarmos de sonhos, sejam eles de consumo, de bem estar, de realizações.

Claro que isto nos alimenta, nos motiva, nos impulsiona em ir além e nem de longe pretendemos aqui afirmar que este processo é equivocado. Uma pessoa, uma organização que sonha se revela viva.

E a concretização dos sonhos, da missão, da visão de futuro é o fruto de uma conduta de dedicação intensa, do emprego dos melhores recursos, da persistência do semeador.

Temos, então, o semeador, que é você, que é sua organização. Temos também o sonho, a missão, a visão de futuro que é a semente da qual, esperasse, que venha a germinar e brotar o fruto da colheita.

O que mais faltaria?

Te convido a voltar ao início deste artigo.

O que torna a produtividade alta e longeva, além da capacidade do semeador e de uma boa semente? Resposta: A preparação do solo.

Você ou sua organização estão inseridas numa localidade, numa região, num espaço físico bem definido.

Ao seu redor circundam inúmeras pessoas e uma variedade de empresas dos mais diversos ramos.

A sua semente é lançada neste solo, em meio a pessoas, físicas e jurídicas, que você desconhece, que você não tem qualquer domínio e que podem, e irão, impactar na sua produtividade.

Neste ponto eu te pergunto: o quanto você tem se ocupado com a preparação do solo?

Os problemas dos outros não são seus problemas?

Uma pessoa pedindo para vigiar o seu veículo no momento em que estaciona. Um assalto a mão armada. Um doente que não consegue vaga no hospital. Um aluno desrespeitando o professor em sala de aula. Uma família na porta de uma delegacia por conta de briga entre irmãos. Um prefeito acusado de corrupção.

Seriam estas circunstâncias que acometem seu “solo”?

Por um acaso sua semente está sendo lançada em algum pedaço de terra em que nenhuma outra pessoa ou organização exista?

Em sua organização possuem pessoas trabalhando? A família destas pessoas estão bem a ponto de permitir que seus funcionários trabalhem com mente e coração inteiros?

Isto é o solo para que seus sonhos, sua missão, sua visão de futuro germinem e sejam coletadas com alta produtividade e longevidade?

E o quanto você tem se ocupado com ele?

Uma das falas que mais gosto de ouvir daqueles que trabalham na área rural é que o tempo no campo não é o mesmo da cidade.

Não significa que o relógio lá não funcione como cá, tão pouco que o dia tenha variação de suas vinte e quatro horas.

Significa, sim, que o campo mostra que, sem pressa, as coisas podem e devem ser feitas passo a passo, tijolo sobre tijolo. Que nem o desespero em ver terminado o plantio, nem a desistência por ser um trabalho árduo, levarão ao alto e longevo resultado.

Aponta para uma ação cheia de vontade, percepção, engajamento, mas, acima de tudo, de esperança. Esperança que se manifesta na certeza de que a semente irá germinar e permitirá inúmeras colheitas fabulosas.

Sejam quais forem seus sonhos, a missão e a visão de futuro de sua organização, elas serão frutos de seu empenho como semeador, da ótima seleção de recursos que são as sementes do seu plantio.

Porém a produtividade estará intimamente ligada com o seu empenho e envolvimento em preparar o solo.

Bom arado.


___________________

[1] SANTIAGO, Antônio Dias e ROSSETTO, Raffaella. In: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/...


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