Prevalência de Sobrepeso e Obesidade Entre Adolescentes Brasileiros com Diabetes mellitus Tipo 1 é Elevada
Quase um quarto dos adolescentes com Diabetes mellitus Tipo 1 apresenta sobrepeso ou obesidade. Isso é o que mostra um estudo realizado em 14 unidades de saúde públicas de dez cidades brasileiras. A pesquisa publicada no início do ano no periódico Diabetology & Metabolic Syndrome[1] identificou ainda prevalência elevada de fatores de risco tradicionais para complicações micro e macrovasculares crônicas relacionadas ao diabetes.
O trabalho foi conduzido pelo Brazilian Type 1 Diabetes Study Group (BrazDiab1SG), que é composto por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio Janeiro (Uerj), do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), da Associação dos Diabéticos de Bauru (ADB), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), do Hospital Regional de Taguatinga (HGT), do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (CEDEBA), do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Inicialmente, foram selecionados 1.760 pacientes com diabetes tipo 1 acompanhados em unidades de saúde de todas as regiões do país. Desse total, 367 eram adolescentes e compuseram a amostra final. Metade dos participantes (50,1%) era do sexo feminino e a média de idade foi de 16,4 anos. A média do tempo de duração do diabetes foi de 8,1 anos e a média dos níveis de hemoglobina glicada foi de 9,6%.
Os pesquisadores observaram que, dos 367 adolescentes avaliados, 79 (21,5%) tinham sobrepeso e 16 (4,4%) tinham obesidade. Segundo os autores, a elevada prevalência de sobrepeso e obesidade nesse grupo marca uma mudança no perfil do paciente com diabetes tipo 1, que por um longo período esteve associado a um fenótipo magro.[2]
Segundo a Dra. Marília Gomes, professora titular da disciplina Diabetes e Metabologia da Uerj e uma das autoras da pesquisa, essa situação reflete mudanças de estilo de vida das crianças e dos adolescentes, como diminuição da prática de atividade física e aumento da ingesta de alimentos com alta densidade calórica. “Independentemente da presença de sobrepeso e obesidade, a adesão à dieta é difícil nessa faixa etária”, ressaltou a especialista em entrevista ao Medscape.
A análise dos participantes revelou que, em geral, os adolescentes com sobrepeso ou obesidade eram meninas, mais velhos, tinham maior tempo de duração do diabetes, maior frequência de acantose nigricans e eram atendidos em unidades de atenção terciária. Outro achado foi que, ao corrigir a dose de insulina pelo peso, os participantes com sobrepeso ou obesidade usavam uma dose/kg menor do que aqueles sem sobrepeso ou obesidade, porém a dose total de insulina dos primeiros por dia era maior. Segundo a Dra. Marília, isso se deve à ocorrência de resistência à insulina decorrente do excesso de peso.
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A elevada prevalência de vários fatores de risco cardiovasculares também chamou a atenção da equipe. Os especialistas notaram, por exemplo, que os adolescentes com sobrepeso ou obesidade tinham taxas maiores de dislipidemia, representada por maiores níveis de colesterol total e de LDL. Quando comparados aos participantes com peso ideal, o grupo com sobrepeso ou obesidade também apresentou hipertensão arterial, maior frequência de história familiar de hipertensão e de presença de síndrome metabólica.
Em contrapartida, os pesquisadores não identificaram associação entre sobrepeso/obesidade e doença renal crônica, retinopatia diabética e marcadores laboratoriais de doença hepática gordurosa não alcoólica.
O estudo revelou ainda que menos de 20% dos pacientes com diabetes tipo 1 avaliados, nos grupos com e sem sobrepeso/obesidade, tinham controle glicêmico adequado. Segundo a Dra. Marília, o dado está de acordo com a taxa que é observada no Brasil. Ela lembrou que existem vários fatores por trás desse achado, entre eles, a dificuldade dos familiares de entender a doença, seja por déficit cognitivo ou por questões socioeconômicas, assim como a carência de equipes multidisciplinares em saúde capazes de responder às necessidades relacionadas à doença dos pacientes.
Fonte: Medscape- 22 de abril de 2022 -Por Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)
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