PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM
A aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido através da vivência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. No decorrer do processo de ensino e aprendizagem, as potencialidades, a bagagem de saberes e as experiências de cada pessoa devem ser consideradas e valorizadas. As construções e reconstruções do conhecimento precisam ocorrer de forma significativa para todos os envolvidos, ou seja, tanto para quem ensina como para quem aprende. Certamente, a aquisição e assimilação de conhecimentos não se iniciam somente quando a criança, jovem ou adulto ingressa em um sistema formal de ensino ou termina ao final do ciclo de ensino fundamental, médio ou superior. Na realidade quando a vida se instala em um ser humano inicia-se a ação de aprender e ensinar, o “start” é automático e processo é ininterrupto. Igualmente, desde o começo da existência para que ocorra o desenvolvimento físico e mental é fundamental um mediador, ou seja, alguém ou algo capaz de facilitar, incentivar e motivar às aprendizagens, possibilitando a formulação de estratégias e ações para resolução e a superação de situações cotidianas. A integração a outros seres humanos é condição primordial para a concepção e desenvolvimento de cada pessoa, pois, além de sermos seres integrais somos predominantemente seres integrados.
Nesse contexto, a educação deve ser entendida como uma busca contínua pelos saberes, uma troca de experiências, um pensar e repensar crítico, curioso, reflexivo, responsável, participativo, consciente, enfim, uma recriação baseada na criação dos conhecimentos já adquiridos ao longo dos anos pela humanidade. O essencial nesse processo é que não precisamos inventar a roda novamente a cada nova geração, mas inovar, expandir a ideia, pensar e fazer algo novo a partir desse conhecimento.
Segundo a Psicologia, as três tendências teóricas que servem de base para o estudo do “como se aprende” são o Behaviorismo (prevê comportamentos através de associações); a Gestalt (define a percepção do todo como fator mais importante); a Psicanálise (entende a afetividade e o inconsciente como objeto de estudo).
Para os estudiosos da Psicanálise, o desenvolvimento humano depende dos seguintes fatores: natureza orgânica, as experiências, a transmissão cultural (meio) e a equilibração, entrando em cena os aspectos físicos - motor, intelectual, afetivo - emocional e social, todos relacionados entre si. Além disso, a aprendizagem leva a um comportamento diferente do anterior e isso pode ser ocasionado pelo crescimento físico, descobertas, tentativas e erros, educação, etc.
Com relação a essas concepções sobre aprendizagem, vários teóricos contribuíram para compreensão deste fenômeno, entre eles estão Henri Wallon, David Ausubel, Jerome Bruner, Jean Piaget, Lev Vigotsky, Erick Erickson, Sigmund Freud, Emilia Ferreiro, Paulo Freire e tantos outros.
Durante os estudos sobre as diversas teorias da aprendizagem, destacam-se duas categorias: as teorias do condicionamento (estimulo e resposta) e as teorias cognitivas (relação sujeito–meio–objeto). A primeira leva em consideração as condições ambientais e as conseqüências comportamentais. A segunda trata o processo de organização das informações e integração do material pela estrutura cognitiva.
A evolução deste tema só pode continuar se entendermos as três maiores concepções que regem o comportamento retrogrado ou avançado de compreender a maneira como cada sujeito aprende:
- Inatismo - concebe que as pessoas já nascem com os conhecimentos, vincula a ideia de desenvolvimento e maturação, racionaliza a realidade. A pessoa nasce sabendo, precisando somente de um facilitador para que os conhecimentos aflorem (processo de ação interna).
- Empirismo - relaciona os conhecimentos práticos às experiências, ou seja, só podemos aprender se alguém nos “der” o conhecimento ou para a maioria de seus seguidores, as pessoas precisam de um depósito de saberes em sua “cabeça vazia”.
- Socio-construtivismo – surge como um novo caminho, apontando a ação do próprio sujeito na sua própria aprendizagem bem como intervindo na aprendizagem do outro, dessa forma, a aprendizagem é realizada através da relação do sujeito com o objeto mediado pelo meio social.
Segundo o artigo escrito por Juan José Mourinõ Mosquera e Silvia Maria Aguiar Isaia (1987), Vigotsky foi um inovador ao estabelecer um novo tipo de relação entre desenvolvimento e aprendizagem, pois a partir da “zona proximal de desenvolvimento” ele “...afirma que a aprendizagem desperta uma série de processos evolutivos internos, capazes de operar quando o indivíduo encontra-se em interação com seu ambiente sociocultural.” A partir de algumas afirmações feitas por esse teórico, a “zona proximal de desenvolvimento” se refere à ponte que liga o conhecimento já adquirido e assimilado ao conhecimento que está prestes a ser construído.Também Vigotsky define o aprendizado como “um processo pelo qual o indivíduo adquire informação, habilidades, valores, etc..., a partir de um contato com a realidade do ambiente e as outras pessoas.” Deste modo, constata-se a grande responsabilidade do professor/instrutor na escolha de seus modelos epistemológicos e pedagógicos/andragógicos, pois sua postura também influi diretamente na maneira de pensar e atitude dos aprendizes.
Portanto, o aprender e o ensinar estão implícitos na situação de aprendizagem, por isso, o relacionamento entre os sujeitos é feita através da interação, intervenção, compreensão, questionamentos, criação de estratégias e hipóteses, confrontação de ideias propiciadas por pessoas, livros, filmes, problemas do cotidiano profissional, etc..
Outro fator importante é estabelecer a correlação entre os saberes, o conflito deve levar a superação e, principalmente, a interação sociocultural que cada conhecimento estabelece. Neste caso, pode-se afirmar, o educador seria responsável em provocar e desafiar o educando a formular estratégias para a resolução de situações problemas e possibilitar-lhe a troca com seus pares. Portanto, o professor/instrutor deve planejar pensando em levar o aprendiz a um novo estágio de desenvolvimento, formulando questões além do estágio no qual o mesmo se encontra.
Outra forma de interação social e cognitiva é a utilização de jogos formais e informais, esse recurso didático não é novidade, pois quando surgiu a “Escola Nova”, da qual faziam parte Jonh Dewey, Maria Montessori e outros estudiosos, essa ferramenta já era amplamente utilizada. O jogo se torna significativo para os educadores e educandos na medida em que existe a troca de saberes e experiências, o diálogo, a observação e o consenso na criação e respeito às regras. Certamente, o jogo deve estar fundamentado por um objetivo e uma aprendizagem, por isso devem ser adequados e adaptados ao grupo, respeitando a especificidade de cada situação de ensino.
É indispensável destacar que as aprendizagens não são adquiridas ou assimiladas de forma isolada ou compartimentada, são como fios em uma teia onde todos os conhecimentos se fundem em algum ponto, ligados e relacionados entre si, dependem desse entrelaçamento para se concretizar. Na maioria das vezes, nem nos apercebemos disso e, por esse motivo, não se pode separar e/ou tratar alguns conceitos como se fossem peças de um quebra-cabeça incompleto, já que a interdisciplinaridade faz parte do dia-a-dia, tudo está conectado. Para que o processo de ensino aprendizagem seja construtivo é imprescindível a participação ativa do educando, bem como é produtivo utilizar situações criativas e desafiadoras contidas no seu dia-a-dia. Essas atividades propostas devem favorecer a compreensão dos temas de estudo, possibilitando a elaboração e definição de diretrizes e estratégias para atingir determinado objetivo, agir de forma assertiva e resolver efetivamente os problemas com a finalidade de eliminá-los. Da mesma forma, é essencial valorizar o caminho percorrido e, não somente o resultado final, a prioridade é entender a lógica utilizada ao sugerir alternativas e solucionar os problemas, pois, certamente, os objetivos de analisar, avaliar, criar e aplicar às novas situações enfrentadas diariamente serão alcançados.
Para Cortella (1998 pag.98) “... a relação de Conhecimento é uma relação entre sujeito e objeto; tem que haver um sujeito que conhece e um objeto que é conhecido, mas a Verdade, não está nem no pólo do sujeito, nem no pólo do objeto e sim na relação entre eles.” O mesmo autor (1998, p.74), ainda ressalta a dedicação de Sócrates em refletir: - Como estabelecer verdades que sejam válidas para todas as pessoas? Ao analisar as teorias socráticas e relembrar a história de vida desse filósofo, identifica-se sua crença em que cada um pode deixar aflorar a sua verdade, ou seja, no interior de cada pessoa está a sabedoria. Portanto, complementando essa ideia, ele acrescenta, para que esse saber gestado dentro de cada ser humano conseguisse ser externado bastaria uma pessoa capaz de pari-los, através de questionamentos e/ou intervenções. Enfim, por intermédio do diálogo ele suscitava seus interlocutores a pensar, a refletir e a repensar seus conceitos, levando-os a se tornarem indivíduos proativos no processo de ensino aprendizagem.
Da mesma forma, no construtivismo o professor age como um mediador na construção do conhecimento, problematizando a situação para que o aluno crie e recrie os saberes necessários para embasar novos conhecimentos, fazendo com que isso se torne um processo contínuo. De tal modo, o aprendizado só acontece quando existe equilíbrio entre o que é comunicado e os pontos referenciais de conhecimento do ser humano.
Os fatores da aprendizagem envolvem:
- Motivação: o educador, inicialmente, procura estabelecer um relacionamento amistoso com os sujeitos, assim, terá condições de identificar os interesses dos envolvidos bem como ajudá-los a persistir quando encontrarem dificuldades.
- Concentração: o educador deve considerar alguns pontos para conseguir melhores resultados em relação à atenção: humor, entusiasmo, aplicação prática, recursos auxiliares de ensino e participação.
- Reação: o educador deve estimular os educandos a participar: favorecendo a realização de anotações; estimulando as falas e depoimentos sobre o tema proposto; possibilitando a ampliação das idéias destacadas; oportunizando momentos para perguntas, sugestões e apresentação dos resultados dos exercícios.
- Realimentação: o educador deve fornecer feedback, isso exige disposição para ouvir. Para facilitar a aprendizagem, o instrutor deve, em muitos momentos, deixar de ser emissor e assumir o papel de receptor para saber em que medida os envolvidos estão compreendendo o que está sendo comunicado. E a partir daí, informar aos participantes acerca do quanto estão acertando do que estão compreendendo.
- Memorização: o educador deve favorecer a retenção, garantindo a organização do material a ser apresentado. Inicialmente, ele proporcionará uma visão geral do assunto a ser tratado, em seguida, a apresentação será pormenorizada, por fim, fornecerá um resumo (“todo-parte-todo”). Faça uso da repetição criativa, ou seja, pode-se expressar a mesma coisa de maneiras diferentes, utilizando recursos diversos (exposição oral, texto, cartaz, slides, etc..). Outro procedimento didático a ser utilizado é a recapitulação, pois, serve para trazer a mente aquelas coisas que estavam esquecidas ou nos limites da “memória a curto prazo”.
- Transferência/Aplicabilidade: o educador para favorecer o alcance deste nível, o facilitador pode empregar exemplos/modelos que esclareçam a aplicação dos conhecimentos a situações específicas; propor exercícios e trabalhos práticos; favorecer o debate acerca da aplicação dos conhecimentos; utilizar jogos, estudos de caso e dramatização.
Dessa forma, é de suma importância destacar o papel do educador como mediador entre o sujeito e o objeto, a partir dos fatores descritos anteriormente, nota-se que a intervenção para a aquisição e assimilação dos saberes é realizada de forma intencional.
“O aprendizado é um modo particular de construção de conhecimentos em uma situação em que há uma intervenção intencional externa. O docente vai apresentar, então, situações que considera que possam favorecer essa construção de conhecimento.” (KAUFMAN, CASTEDO, TERUGGI, MOLLI NARI,1998, p.18)
Além disso, o educador deve ter consciência de que todo conhecimento trazido pelo aprendiz é expressivo e possui uma lógica própria de pensamento, sempre que estiver contextualizado deve ser respeitado, valorizado e utilizado para que ocorra uma aprendizagem significativa. Para Paulo Freire (1991), valorizar o conhecimento que o educando traz deve ser o ponto de partida para a aprendizagem.
Logo, é fundamental o professor ser um pesquisador e um observador, elaborando e aproveitando as situações nas quais o conhecimento circule, onde as questões apareçam, transformando a aprendizagem numa construção prazerosa, vinculada a realidade do grupo a que pertence. Conforme Paulo Freire (1978, p.17), “O educador deve ser um inventor e um reinventor constante dos meios e dos caminhos com os quais facilite mais e mais a problematização do objeto a ser desvelado e aprendido pelos alunos.”
Portanto, o processo educacional deve gerar no ser humano a autodescoberta e a compreensão do papel que exerce em relação ao universo no qual está inserido, isso, ocorrendo através da alternância continuada de sua ação de aprender e ensinar. Nesse processo dinâmico, os conhecimentos teóricos e práticos agregam valor na medida em que a pessoa percebe o propósito de sua existência e a influência de seus atos nos diversos ambientes em que convive. As informações vão se organizando em sistemas operatórios de inteligência, deste modo, “O importante nas relações entre educador e os educandos é o exercício da atitude crítica em face do objeto e não o discurso do educando em torno do objeto” (Freire, 1978). Na realidade o essencial é agir conscientemente, pois o saber só é válido quando o ser humano autoriza-se a transformá-lo em ação.
Dessa forma, baseado nas ideias construtivistas, verifica-se que o processo de ensino aprendizagem não é neutro, fundamenta-se na interação entre o sujeito, o objeto e o meio, sendo que a construção de conhecimentos deve ser realizada de forma significativa e contextualizada, respeitando e valorizando o saber do educando.
Mas afinal, essas teorias podem auxiliar na elaboração um projeto pedagógico de educação e treinamento organizacional?
Tranqüilamente, pois, também nessa situação o educador/instrutor é um mediador no processo de ensino aprendizagem e o participante é o sujeito em interação com outros sujeitos na busca de alcançar objetivos comuns e conhecimentos teóricos e práticos fundamentais para sua atuação profissional, sendo co responsável por sua aprendizagem. Consequentemente deve ser estimulado a participar ativamente das atividades propostas, tais como: debates, relatos de experiências profissionais, resolução de exercícios de aplicação, integração com os demais participantes, elaboração de planos de ação, etc..
Aqui, torna-se relevante ressaltar que a educação de adultos dentro de um contexto organizacional tem suas particularidades, geralmente, pela diversidade cultural, social, educacional, etc... São sujeitos advindos de um sistema formal de ensino (ensino fundamental, médio, superior) não padronizado em sua base curricular. Para que a prática educativa proposta seja coerente é preciso compreender como os adultos aprendem.
Quando abordamos a educação de adultos em nossos cursos e treinamentos, baseamo-nos no conceito elaborado por Malcolm Knowles que define andragogia como “... a arte e a ciência de orientar e auxiliar os adultos a aprender”. Deste modo, ao elaborar um planejamento orientado para a aprendizagem organizacional é preciso levar em consideração as premissas andragógicas, são elas:
- Autonomia - A aprendizagem é centrada no aluno, na independência e auto-gestão da aprendizagem, a pessoa precisa entender os benefícios/vantagens de sua aprendizagem (o que; por que e para que aprender?)
- Experiência – Os adultos possuem vivências adquiridas ao longo de sua existência que são base de seus conhecimentos e ações, esses conhecimentos precisam ser levados em consideração na construção de novas aprendizagens. Promover debates e exercícios para discussão e resolução de problemas em equipe é uma ótima forma de aproveitar a diversidade de
- Aplicabilidade imediata – As pessoas estão pré dispostas a aprender e precisam reconhecer a utilidade e aplicabilidade em sua vivência cotidiana. Isso pode ser reforçado com a utilização de atividades e exercícios onde exista uma relação entre a teoria e a prática.
- Motivação – Os adultos são automotivados para aprendizagem por suas metas internas e pelas ações que julgam fundamentais para satisfazer desejos e assim alcançar o equilíbrio de suas necessidades. Aprendizagens contextualizadas e baseadas na resolução de problemas que o auxiliem a criar alternativas para atingir seus objetivos são muito produtivas.
Também o ambiente, ou seja, o espaço onde será realizada a aprendizagem deve ser agradável e propicio para realização de atividades, jogos interativos, troca de experiências e conhecimentos práticos, etc...
A partir destas premissas podem-se identificar as principais características do adulto que aprende, porém deve-se ter consciência de que as pessoas almejam benefícios e vantagens diferentes ao aprenderem, possuem vivências profissionais distintas, reagem de forma peculiar em contextos idênticos e são motivadas por diversas causas.
Concorda-se com Eduardo Ferraz quando ele afirma: “O problema muitas vezes consiste em esperarmos que pessoas com personalidades completamente diferentes obtenham resultados parecidos. Isso não faz o menor sentido!”
Assim, ao planejar os cursos e treinamentos bem como os materiais de apoio deve-se considerar e usar o mais variado arsenal de linguagens e recursos didáticos capazes de incentivar e possibilitar a aprendizagem das pessoas envolvidas.