Produtividade Tóxica: Redefinindo o Valor do Trabalho

Produtividade Tóxica: Redefinindo o Valor do Trabalho


Já parou para pensar no impacto de viver em um ritmo de produção incessante? Hoje, quero voltar ao tema da produtividade tóxica, um conceito que Jennifer Moss, autora e especialista em cultura de trabalho, definiu como “a compulsão por ser produtivo a todo momento”. Embora isso possa soar como o ápice da dedicação profissional, o que seria visto, portanto, como elogioso, escondem o fato do quanto os custos podem se tornam elevados: exaustão, relações fragilizadas e uma vida que é produtiva, mas não plena.

Os Dados Além da Narrativa

Um estudo recente do Mercer Global Talent Trends Report aponta que 82% da força de trabalho global está em risco de burnout. Entre os motivos, destacam-se a sobrecarga de trabalho, exaustão e pressão financeira. É o retrato perfeito da produtividade tóxica, onde o ato de "fazer mais" é enaltecido, mas raramente questionado.

Outro dado intrigante vem da Slack Workforce Index, que revelou que funcionários que se sentem obrigados a trabalhar após o horário regular registram 20% menos produtividade e relatam o dobro de burnout. O paradoxo é claro: produzir sem descanso não é eficiente, nem sustentável.

Um Problema Sistêmico

A produtividade tóxica não nasce do nada. Ela é alimentada por vários fatores, como a cultura do perfeccionismo, que associa valor pessoal às realizações, e a influência das redes sociais, que amplificam comparações sociais e criam uma ilusão de “competência infinita”. Durante a pandemia, essa tendência foi intensificada, pois muitas pessoas se apegaram ao trabalho como forma de controle em tempos incertos.

O Preço da "Hero Culture"

É comum, especialmente entre executivos e gestores, glorificar comportamentos como trabalhar além do horário, abrir mão de férias e estar sempre conectado. Esse modelo, que Moss chama de "hero culture", reforça a ideia de que descanso é fraqueza e que comprometimento está diretamente ligado à capacidade de suportar exaustão.

O custo elevado desse "heroísmo" é visível. Funcionários que trabalham aos finais de semana ou feriados apresentam menor motivação intrínseca e maior desejo de sair de seus empregos, segundo Laura Giurge, pesquisadora da London School of Economics.


Estratégias Práticas para Romper o Ciclo

  • Modelar Comportamentos Saudáveis:

Demonstre a importância do descanso, tirando férias de forma transparente (o chamado “loud vacationing”).

Respeite o horário de trabalho da equipe e evite enviar e-mails tarde da noite.


  • Reduzir o Excesso de Reuniões:

Experimente iniciativas como "doomsday meetings" ou dias livres de reuniões, como fizeram empresas como Shopify e Asana.

Priorize encontros realmente necessários, reduzindo sua duração e frequência.


  • Reavaliar a Métrica de Sucesso:

Em vez de valorizar apenas as horas trabalhadas, reconheça a qualidade e os resultados entregues.


  • Promover Empatia:

Na verdade não se trata mais da questão de decidir se a empatia é necessária, mas como implementá-la de forma eficaz.


Uma Reflexão Final

Estamos diante de uma crise mas também de uma oportunidade rara de redesenhar o mundo do trabalho. Como Jennifer Moss destacou: “Quando nos perguntamos o que lamentaremos em nosso leito de morte, a resposta dificilmente será: ‘Gostaria de ter passado mais tempo em reuniões.’”

E você? Como tem lidado com os desafios, e os "excessos" da produtividade no seu ambiente de trabalho? Vamos conversar nos comentários.


Se você deseja que aprofundemos este tema, mais materiais e estratégias envie sua mensagem nos comentários, deixe sua sugestão ou confirme o interesse.



Marcos Marinho é Psicólogo e Mestre em Psicologia | Consultor Estratégico em Transições de Carreira e Saúde Mental no Trabalho, Membro do Conselho Consultivo da Harvard Business Review e Global Research Panel Contributor at McKinsey.

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