Profissionais do futuro
Ao escrever este artigo, refleti a respeito do que ele poderia alcançar, se realmente conseguiria atingir meus objetivos em levar informações que realmente valham para profissionais que educam formando cidadãos, para profissionais que desejam mudar de profissão e ainda àqueles jovens que buscam o primeiro trabalho.
Muitos amigos me julgaram quando iniciei meu Networking para mudar de área, apesar da baixa remuneração, não compatível ao que um chefe de família deveria receber, eu estava com 44 anos, pedagogo formado, totalmente confortável, realizado no trabalho com minhas crianças, feliz como profissional.
Entretanto, a percepção de que as crianças ao passar para a adolescência estavam se perdendo para o crime, para as drogas, para a morte precoce, me fez sentir a responsabilidade de fazer algo efetivo, que pudesse dar aos nossos jovens uma nova perspectiva que não fosse consumista, nem imediatista, com valores concretos que possam permitir que se tornem pessoas de bem para nossa sociedade.
Um dos meus contatos, uma amiga de um emprego anterior, sugeriu que eu poderia ministrar cursos livres em Instituição de Ensino e Aprendizagem, pois minhas formações em administração hoteleira, turismo, lazer, eventos, entre outras adquiridas através de minha trajetória, poderiam me ajudar a alcançar meu objetivo de trabalhar com adolescentes, compartilhando meus conhecimentos, experiências e levando estes jovens a construir um futuro mais sólido e promissor.
Na verdade, não seria apenas ministrar cursos livres em uma instituição renomada de educação, havia o desafio de trabalhar dentro de uma das unidades da Fundação Casa. Para isso, eu deveria abrir mão do emprego de dois anos já constituído e construído na prefeitura de Osasco; um projeto excepcional daquele município, trocando por um trabalho sem garantia de efetivação posterior e aceitar o desafio destas formações aos adolescentes, com o tempo programado de apenas três meses.
O profissional da atualidade tem de ter como consciência o autoconhecimento de seu potencial, estudar o mercado onde está escolhendo trabalhar; arriscar faz parte da busca por objetivos sólidos pautados nos conhecimentos acadêmicos e empíricos, dentro do senso comum lógico para construção de uma possível nova carreira, é preciso trabalhar, acreditar e fortificar um Networking confiável.
Mesmo com todas as críticas, estudei o mercado, busquei informações no campo no qual estava por iniciar, pedi demissão do emprego de Osasco e assumi dentro de uma das unidades da Fundação Casa os cursos livres de iniciação ao marketing, iniciação ao telemarketing, recepção de eventos, conto de história e recreação.
Posso afirmar que a realidade de lecionar dentro de uma unidade da Fundação Casa não é para qualquer pessoa, fiquei impressionado pelo esquema de segurança na utilização de materiais que levamos para a sala de aula, com os relatos dos jovens de sua vivência e cotidiano reclusos do meio social. Presenciar cenas de escudos e cassetetes já são impactantes pela televisão.
Tudo que passei ali foi muito diferente dos Workshop que ministrei em faculdades e hotéis, dos treinamentos de atendimento ao cliente hoteleiro ou de lazer para iniciantes, de lidar com sequestradores de motoristas, período que trabalhei com prevenção a roubo de cargas. Não estava preparado para nenhuma daquelas situações que vivi, todavia, meu objetivo permaneceu sólido: fazer algo para levar àqueles jovens algum motivo para mudança, pois naquele momento seria remediar a ausência de competência na nossa educação.
Creio que minha experiência trabalhando no Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social), pela prefeitura de São Paulo, com abordagem social a crianças em situação de vulnerabilidade, prevenção ao trabalho infantil e exploração sexual, me ajudou muito a compreender aquela realidade e poder entender quais as necessidades básicas de um interno da Fundação Casa. Foi equivalente a um nível superior e uma pós-graduação de três meses o que me fortaleceu a ideia de permanecer nesta área construindo objetivos para aqueles e quaisquer outros jovens.
Ao final da formação, solicitei aos meus alunos um trabalho de conclusão de curso, uma redação que demonstrasse o que conseguiram aprender: valores humanos e cidadania com o conteúdo didático. Alguns fizeram questão de ler em voz alta, outros mais tímidos deixaram para que eu pudesse ler em outra oportunidade, porém um dos relatos, já nas três primeiras linhas, chamou minha atenção e me deu a certeza de estar no caminho correto, dizia algo próximo disso: “Professor, após 22 passagens pela Fundação Casa esta é a primeira vez que possuo o objetivo de deixar o crime”.
Não tive vergonha de me emocionar ou mostrar fraqueza diante deles, pois ali estava sendo eu: ser humano, pai, professor e cidadão que luta e constrói uma sociedade melhor para meus filhos e netos.
Desde o último dia ali, tive a certeza que seria um perseguidor de objetivos para nossos jovens, então abri “MEI” (Microempreendedor Individual) como intuito de ministrar formações para profissionais da área social, em SAICAS, SEAS, CRAS e demais órgãos ligados as prefeituras que necessitam de profissionais dedicados à resolução de problemas nestes órgãos.
Assim permaneci até o dia que participei do processo seletivo do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola) para trabalhar como Instrutor de aprendizagem no “Programa Aprendiz Legal” no qual estou atualmente, aprendendo e compartilhando meus conhecimentos em diversos ramos de atividade de minha trajetória. Todo dia é um novo desafio e uma conquista, podendo acompanhar a evolução de jovens em sua primeira oportunidade de trabalho e ainda construindo cidadãos críticos que farão a diferença em nossa sociedade.
Venho relatar algo que julgo relevante, mesmo atuante na área social não compreendia a realidade de alguns jovens.
Em um dos encontros onde o tema era contexto social e cidadania discutíamos o acesso à cultura e lazer, uma aprendiz de 20 anos chamou minha atenção quando relatou que acreditava que o centro de São Paulo seria Santo Amaro, um bairro da zona Sul de nossa cidade. Me remeteu a música “Da ponte pra cá” dos Racionais:
“Não adianta querer,
Tem que ser tem pá,
O mundo é diferente da Ponte pra cá.
Não adianta querer ser
Tem que ter pra trocar...”
A jovem relatou que nunca tinha ido além de sua região em 20 anos de sua existência e realmente alusão da música fez sentido para mim, onde jovens nascem, crescem e morrem na periferia sem se quer conhecer nossa cidade e suas opções de educação, lazer, cultura, esporte e etc.
Atualmente acompanho o desenvolvimento intelectual, cultural e profissional da jovem que realiza novas descobertas e posta em suas redes sociais seus passeios e aprendizado a cada semana, junto com ela arrasta alguns jovens de seu convívio e se transformando em mais uma multiplicadora.
Em breve desejo apresentar as escolas públicas e privadas um projeto pessoal que trabalha Trajetória, Objetivos e Perspectivas dos profissionais do futuro, onde realizo cinco encontros: O primeiro falo de minha trajetória pessoal profissional e como lidar com imprevistos na vida social e profissional, no segundo, contextualizo as questões sociais e participação em sua comunidade. No terceiro encontro apresento as possibilidades das profissões do futuro e o que é necessário para mudar de carreira. No quarto e quinto, através de rodas de conversa e de estudos realizados com os grupos participantes criam projeto no campo social e profissional, trabalhando o desenvolvimento coletivo e individual para construção sólida de objetivos a conquistar.
Diariamente vivo a alegria de trabalhar em instituição sem fins lucrativos que tem os mesmos valores que os meus, que acredita no que acredito e colhe os frutos de um trabalho sério e realizador.
Quero sempre dizer que sou instrutor de aprendizagem, professor, pai, avô e cidadão trabalhando para construção de uma grande Nação, pois o caminho de nosso país é a informação e a Educação.
Assitente Técnico de Saúde I na Instituto Adolfo Lutz
4 aGilber, meus sinceros parabéns pelo seu brilhante trabalho. Siga em frente com os seus objetivos, nunca é tarde para fazer a boa diferença. Realmente é de sentir orgulho por tudo isso. Abraços