Profissional indeciso, pode?

Profissional indeciso, pode?

Todo início de ano, renovamos objetivos, estabelecemos metas e carregamos desejos e esperanças de um ano melhor e produtivo.

Nesta época do ano, muitas pessoas buscam uma nova vida para um novo ano, ou, um ano novo para uma vida nova. Há aquelas bem decididas, com planos bem traçados e também há aquelas indecisas, que ainda “patinam” sobre suas escolhas e com isso, podem sofrer por ansiedade pela escolha indefinida.

E é sobre um artigo de pessoas indecisas que escolhi compartilhar aqui, justamente por achar interessante o olhar da autora Bárbara Nór (Revista Você SA), já que vai contra a maré da exigência do mercado de trabalho e da sociedade contemporanea sobre agilidade nas tomadas de decisão.

A autora utiliza o termo “ambivalência” para definir pessoas indecisas que oscilam entre os opostos, caracterizando-o como uma qualidade e que pode ser de grande valia no ambiente corporativo, desde que seja utilizado adequadamente.

Em algum nível, todos nós expressamos a ambivalência e isto ocorre quando consideramos todos os aspectos de uma determinada situação ou questão, nos fazendo sentir divididos. Segundo a autora, algumas pessoas são mais propensas a agir de forma ambivalente, percebendo as adversidades cheias de nuances e detalhes dificultando a tomada de decisão, já que uma decisão parece não suportar todas as possibilidades analisadas.

Muitas vezes, para não dizer todas as vezes, a pessoa ambivalente é vista como indecisa e insegura, porém não devemos ter esta visão negativa. Ambivalência não é necessariamente um defeito, mas significa que se tem fortes convicções em duas direções, segundo Roberto Castanho, sócio diretor da consultoria Side-C e professor da ESPM de São Paulo.

Na visão de Roberto, “as pessoas ambivalentes nos motiva a buscar mais informações e a não nos contentarmos com a primeira resposta. Em uma situaçõa ruim, elas têm mais facilidade em encontrar aquilo que pode ser positivo. Também são muito hábeis em organizar as informações disponíveis e entender as consequencias de diferentes decisões. Apesar de o mundo corporativo exigir respostas rápidas e decisões assertivas e cobrar dos líderes uma postura mais objetiva, a ambivalência se bem usada, pode trazer benefícios para os negócios e para as equipes”.

De acordo com estudos europeus, líderes ambivalentes que se apoiam tanto a favor como contra uma ideia, despertam uma participação maior na equipe, já que são estimulados a buscar soluções diferentes para aquele problema, alcançando assim, resultados criativos e inovadores, relata Bárbara.

A autora destaca ainda, que a ambivalência é apenas uma forma diferente de ação. “Uma pessoa que age rapidamente e faz ajustes ao longo da ação para corrigir a primeira decisão normalmente é vista como alguém que resolve rápido. Já outra que pensa por mais tempo antes de agir, mas, uma vez decidida, age mais rapidamente, é vista como lenta e indecisa. São processos diferentes, mas, no fim, o tempo de entrega é o mesmo. A diferença é que o primeiro age antes e corrige durante o processo e o segundo tenta prever os possíveis erros para agir uma só vez. Ele leva mais tempo para decidir, mas sua ação tende a ser menos custosa no longo prazo”.

Segundo Carl Honoré, autor do livro “Solução Gradual”, pessoas ambivalentes “são úteis no time, pois agem como freio, filtro e balizador para colegas que são mais inclinados a decidir e agir rapidamente. Pessoas que sempre vêem todos os lados de uma discussão, precisa ser redefinidas: em vez de serem taxadas como indecisas de mente fraca, elas são profundas pensadoras que mantém as coisas em perspectiva e ajudam a nos proteger de decisões mal pensadas”.

Os ambivalentes também são favorecidos em situações complexas que exigem paciência, energia e tempo, já que possuem uma característica analítica.

No entanto, utilizar adequadamente esta “qualidade” é um desafio. Crescemos em uma cultura na qual somos obrigados a resolver todos os problemas e a principal dificuldade dos ambivalentes é a ideia de que há uma única resposta correta. E cair nesta armadilha pode ser aterrorizante e paralisante.

A autora traz dicas de como lidar adequadamente com a ambivalência no trabalho. A ideia é trazer o seu jeito de analisar o problema a seu favor, sempre.

  • Saiba identificar o nível de complexidade de um problema e busque focar-se no de maior complexidade (evite gastar energia em problemas de baixa complexidade).
  • Nos problemas de maior complexidade, exagere no cenário das possíveis decisões. O exagero força o cérebro a buscar outras situações já conhecidas e por vezes, elaborar novas associções trazendo soluções não pensadas.
  • Separe as variáveis que interferem na sua escolha: primeiro o que vai ganhar com uma decisão. Depois, o que perderá com ela. Por fim, o que ganha e perde caso escolha o contrário.
  • Estabeleça uma data limite para a tomada de decisão
  • Se permita experimentar decisões sem ter todas as informações disponíveis para aumentar sua confiança.
  • Caso perceba que questiona todas as suas decisões e se vê frequentemente sem conseguir escolher, pode ser o caso de buscar ajuda.

Cada vez mais, presenciamos a diversidade de perfis profissionais no ambiente corporativo. Somado a esta diversidade, temos as habilidades de cada um, as qualidades e os gaps.

Se conseguirmos ampliar a nossa visão e começarmos a enxergar os gaps como pontos de oportunidade e crescimento, conseguiremos nos beneficiar ainda mais com o potencial humano, favorecendo não só o profissional em seu desenvolvimento, mas também as empresas em sua produtividade.

Fonte: Revista você s/a – Edição 213

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