Programas e atividades que fazem a diferença na formação universitária

Programas e atividades que fazem a diferença na formação universitária

Esse artigo surgiu pela necessidade de passar uma mensagem a jovens que, por desconhecimento, não enxergam o mundo que é uma universidade e suas possibilidades além da formação linear da graduação. Alguns amigos e outros jovens me procuram perguntando o que eu fiz, quais atividades ou programas me inseri, como realmente vivi a universidade, uma vez que desconhecem muitas informações que ficam oculta entre campus e corredores.

A realidade que será tratada aqui, remete à minha experiência enquanto graduando e pós-graduando em enfermagem na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Contudo, as atividades ou programas apresentados podem ser os mesmo em muitas outras universidades ou centros universitários, podem ter nomes distintos, mas em sua essência são semelhantes.

Nesse artigo, exponho oito programas e atividades que podem contribuir consideravelmente para a formação de jovens e adultos que querem se inserir ou que já estão vivenciando o mundo universitário.

1. Ação Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS)

Está atrelado à extensão da tríade ensino-pesquisa-extensão. A ACCS é uma disciplina da graduação ou pós-graduação em que grupos de estudantes e professores, em uma relação com grupos comunitários, desenvolvem ações de extensão comunitária estabelecendo um intercâmbio entre os grupos de forma a promover transformação, aprendizado mútuo e produção do conhecimento frente a realidade onde estão inseridos.

Existem inúmeros grupos de ACCS, em todas as áreas do conhecimento, cabe então, ao estudante procurar quais permitem a sua inserção de acordo com o curso que desenvolve.

Trazendo um pouco de minha experiência, eu sempre busquei diversificar meu olhar enquanto futuro enfermeiro, e nesse sentido, procurei me estabelecer em grupos não do curso de enfermagem, mas de outros cursos em que permitiam a inserção de estudantes de enfermagem, desse modo, me inseri em ACCS de Farmácia, Dança e Teatro.

Há um grande crescimento quando saímos da nossa “caixa”, um leque de discursões diversificados, uma troca de conhecimento extraordinária, em que podemos aplicar na nossa profissão de base, além de promover uma grande rede de network e trabalhar com a promoção da saúde não somente com estudantes e profissionais da área da saúde.

Então, essa é uma disciplina de extensão que não deve faltar na experiência, vivência e currículo de nenhum graduando.

2. Programa de Iniciação Científica

O Programa de Iniciação Científica, é um programa que toda instituição de ensino superior deveria ter, já que, além de instrumentalizar o estudante a se aproximar de forma mais direta do método científico, proporciona maior pensamento crítico, criativo e reflexivo sobre sua profissão e a ciência que a envolve.

Trata-se então, de um programa voltado a alunos de graduação, cujo objetivo é se inserir diretamente no mundo e pesquisa acadêmica. Nele o estudante poderá desenvolver ou participar de um projeto de pesquisa em qualquer área do conhecimento com orientação direta de um professor doutor de sua instituição. Pode escolher de acordo com seu interesse de estudo ou ser aberto à outras temáticas que podem agregar à sua formação.

O aluno pode desenvolver sua pesquisa e aprender sobre o método científico com um auxílio de bolsa de fomento, o que ajudará nos seus estudos, mas o voluntariado não inviabiliza os ganhos nessa modalidade. Geralmente, o tempo para seu desenvolvimento é de 1 ano, mas o aluno pode renovar ao concorrer novamente até o fim de sua graduação.

Esse programa pode ser a porta para muitas outras oportunidades, se bem aproveitado. Entrada direta no mestrado, maior pontuação em avaliações de currículo, melhor desempenho em entrevista de emprego, são algumas dessas oportunidades.

Além disso, outros pontos positivos são, o aproveitamento de sua pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso da graduação, e a realização de curso de língua estrangeira durante o tempo de permanência no programa, sem custo algum, realizado na própria universidade.

3. Grupo de Pesquisa

O Grupo de Pesquisa está entre a atividade que eu mais pude vivenciar na graduação. Por ser discente de uma Escola tradicional e ser umas das primeiras do Brasil, havendo também um programa de pós-graduação sólido, existem diversos grupos de pesquisa trabalhando temáticas distintas entre suas linhas de pesquisa. Claro que pode ser a realidade de muitas universidades ou faculdades sem programas de pós-graduação, pois percebem o diferencial na formação do discente e na construção do conhecimento e reconhecimento da instituição.

O Grupo de Pesquisa proporciona o aluno um aprendizado com foco, principalmente, no método científico, na qual esse aluno pode se inserir em outra atividade dentro do próprio grupo, como a iniciação científica, item anterior já apresentado.

O estudante poderá se preparar, caso deseje, a seguir uma carreira voltada à pesquisa acadêmica, ao ensino, com a realização de mestrado e doutorado. Mas sua participação não inviabiliza a inserção em outros campos, pelo contrário, ajuda significativamente e atribui um diferencial ao profissional.

A participação no grupo de pesquisa é muito rica, não só pelo aprendizado sobre o método científico, mas por estar inserido em um ambiente com pessoas distintas, com diversas características, profissões, o que torna as discussões brilhantes. O aprendizado é mútuo e a troca de experiência é uma consequência.

Rossit e colaboradores (2018, pag. 1512) afirmam que “a oportunidade da convivência, de estar junto, aprender junto e de fazer junto, da aprendizagem compartilhada, do conhecimento de uns com os outros, das interações e das intenções de cada integrante do grupo, quando liderada com princípios norteadores e ancorada em conhecimento científico sólido, tem o potencial de se transformar em um espaço de desenvolvimento pessoal e profissional”.

4. Liga Acadêmica

As Ligas Acadêmicas são compostas/criadas por estudantes que decidem se organizar formalmente para discutir e aprofundar seus estudos em uma determinada temática específica de sua formação, que os aproxima de forma mais constante da prática de atenção à saúde na especificidade escolhida, mas com olhar ampliado do cuidado em saúde.

Os estudantes são supervisionados e orientados por um professor que às vezes são escolhidos pelos próprios alunos interessados, mas que também parte do interesse do docente em criar uma liga para reforçar seu ensino na disciplina que leciona.

A Liga Acadêmica proporciona ao discente maior convívio social, seja na universidade ou externamente em ações desenvolvidas para população em geral, permite o desenvolvimento de habilidades como o trabalho em equipe, comunicação, criticidade e autonomia, além de ser fator significativo para sucesso nas seleções de residências multiprofissionais e entrada no mercado de trabalho, por exemplo.

5. Monitoria

Nessa modalidade, o discente passa a ser um monitor de uma disciplina de seu interesse, com foco em contribuir para a formação dos demais alunos que cursam essa disciplina.

Nele, o monitor deve criar grupos de discussões para retirada de dúvidas acerca do assuntos abordados em sala de aula, executar um plano de trabalho para que os alunos possam se desenvolver melhor em seu processo de ensino-aprendizagem, contribuir para ser a ponte de comunicação entre o professor e os alunos, realizar pequenas tarefas ou trabalhos, que contribuem para o ensino, a pesquisa ou extensão à comunidades dessa disciplina; criar materiais didáticos para serem utilizados no processo de ensino, fóruns de discussão, seminários e muito mais.

Para o aluno monitor, os ganhos são extraordinários, segundo Matoso (2014) a monitoria proporciona o desenvolvimento de habilidades inerentes à docência, aprofundamento de conhecimentos na área específica e contribui com o processo de ensino-aprendizagem dos alunos monitorados.

A atividade de monitoria contribui para o desenvolvimento de competências pedagógicas e auxilia os estudantes na produção e apreensão do conhecimento.

6. Estágio Extracurricular

O estágio extracurricular é outra atividade de suma importância para constar no currículo de todo acadêmico, por diversas contribuições. O estágio possibilita a aproximação do estagiário à pessoa que demanda seus cuidados de saúde, promovendo assim um aperfeiçoamento em relação ao trabalho e abordagem com pessoas, o comportamento, atenção, respeito e ética. O estágio promove aprimoramento do ensino e aprendizagem ao aplicar os conhecimentos teóricos na prática, além de promover o aperfeiçoamento técnico-científico.

O acadêmico passa a conhecer o dia-a-dia e rotina de trabalho de sua profissão, a participar de reuniões de treinamento e discussão de casos em grupo, a desenvolver suas competências e habilidades necessárias e, tão importante quanto, a conhecer profissionais da área que possam se tornar referência, criar redes de contatos, além de revelar à instituição o seu talento.

O estágio extracurricular pode ser a primeira porta de entrada para o trabalho antes mesmo da conclusão do curso, nesse caso, o estudante deve aproveitá-lo ao máximo.

7. Programa de Educação Tutorial (PET)

Segundo o Portal do Ministério da Educação (MEC), o PET, assim como o programa de Iniciação Científica, é um programa que visa o aprimoramento do discente ao longo de sua formação, mas com vertentes voltadas ao Ensino, Cultura, Pesquisa e Extensão. Todo o trabalho no PET é voltado à interdisciplinaridade, abrangendo alunos de diversos cursos, mas acompanhado por um tutor e docentes colaboradores.

As normas operacionais estão todas contidas no documento de Orientações Básicas do Programa PET, que podem ser acessadas pelo Portal do MEC ou pelo Portal da Universidade em que o aluno está inserido, se a Universidade estiver inscrita nesse programa.

Mas cito algumas características contidas nesse documento: formação acadêmica ampla; atuação coletiva; interação contínua entre bolsistas e corpo docente e discente; implementação de ações voltadas para a comunidade; planejamento e execução de um programa com atividades diversificadas.

8. Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde)

O PET-Saúde, diferente do PET, como o nome já traz, é um programa voltado somente para o trabalho em Saúde. Ele foi criado em 2008 pela parceria interministerial MEC e Ministério da Saúde (MS) com o objetivo de fomentar grupos de aprendizagem tutorial na Estratégia de Saúde da Família (ESF), mas que foi estendido para outras áreas estratégias do Sistema Único de Saúde (SUS).

Nesse programa o aluno pode desenvolver um projeto de trabalho em saúde voltado para o fortalecimento das ações de integração do ensino-serviço-comunidade, por meio de atividades que envolvem o ensino, a pesquisa, a extensão universitária e a participação social.

O programa pode ser executado com ações voltadas à promoção e prevenção da saúde nas comunidades relacionadas no projeto, pode ser executado em diversos setores hospitalares, unidades básicas de saúde, na própria estratégia de saúde na família, emergências, e muito mais.

Como no PET, o trabalho realizado no PET-saúde é multiprofissional com foco na interdisciplinaridade, em que diversas áreas da saúde desenvolvem ações estabelecidas em seus projetos de forma a atender o que é preconizado pela Portaria Interministerial nº421, de 03 de março de 2010.

Também é um programa muito interessante e que deve ser explorado ao máximo pelos estudantes. Mas lembrando que, nesse em específico, é só para alunos de graduação na área da saúde.

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O intuito é de informar a todos discentes as atividades e programas que possam existir em suas universidades, claro que, além dessas que foram citadas, podem existir outras. Desse modo, o estudante deve procurar saber logo no início de seu curso, para planejar sua formação e desenvolver seu diferencial.

Caso se identifique por alguma atividade ou programa citado e estes não existirem em sua universidade, articulem-se entre colegas simpatizantes e exponha o interesse e desejo a docentes e ao programa de graduação.

Por Lázaro S. Silva

 Sites e Bibliografias consultadas:

UFBA - https://www.ufba.br/

Portal MEC - http://portal.mec.gov.br/

Matoso LML. A importância da monitoria na formação acadêmica do monitor: um relato e experiência. Universidade Potiguar. 2014; Ano 3(2).

Fonseca GS, Junqueira SR. Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde da Universidade de São Paulo (Campus Capital): o olhar dos tutores. Ciênc. saúde coletiva. 2014; 19(4):1151-1162.

Cavalcante ASP, et al. As Ligas Acadêmicas na Área da Saúde: Lacunas do Conhecimento na Produção Científica Brasileira. Rev. bras. educ. med. 2018; 42(1):199-206.

Rossit RAS, et al. Grupo de pesquisa como espaço de aprendizagem em/sobre educação interprofissional (EIP): narrativas em foco. Interface (Botucatu) [online]. 2018;22(suppl.2):1511-1523.

Excelente artigo Lázaro! Muito útil e verdadeiro!! A nossa experiência com alunos que passaram pela iniciação científica tem sido riquíssima! Parabéns!!!👏👏👏👏👏

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