A PROMÍSCUA RELAÇÃO ENTRE INADIMPLÊNCIA E LUCRO BANCÁRIO
A estimativa recente divulgada de R$ 18 bilhões de lucro dos grandes bancos brasileiros no segundo trimestre deste ano, em meio a um cenário de crise e desemprego no Brasil, é um bom motivo para iniciarmos uma reflexão sobre as instituições financeiras na sociedade atual. Não quero aqui questionar a importância do sistema bancário como vetor de desenvolvimento econômico, que é evidente, mas fomentar um diálogo sobre relações promíscuas.
Se você ainda não entendeu o sentido desta palavra no contexto, segue um outro dado para ajudar no embasamento da nossa conversa. A Serasa Experian divulgou um balanço, há poucas semanas, cujo conteúdo demonstrava crescimento no número de inadimplentes pelo sexto mês consecutivo. Para traduzir melhor o cenário, 62 milhões de brasileiros, ou quatro em cada 10, não conseguem saldar suas dívidas. Um recorde na série histórica dos dados divulgados pela Serasa. O crédito para pessoas físicas foi a maior fonte dos lucros dos bancos no período, segundo relatório divulgado pelos especialistas do mercado. Será isso apenas uma coincidência ou há uma fortíssima correlação entre lucro dos bancos e inadimplência?
Com base nessas informações, fico me perguntando por que a situação sempre se repete: o mundo ou os países podem estar em recessão, mas ao mesmo tempo os bancos continuam registrando lucros bilionários. Gostaria de analisar essa questão com uma ilustração baseada em um cenário de pesca. Vamos imaginar um pescador (os bancos) lançando a linha com o anzol e a isca na água, o que significa aumentar o volume de dinheiro em circulação. Normalmente isso é feito baixando as taxas de juros e facilitando empréstimos pessoal, consignado, cheque especial, cartões de crédito, bem como financiamentos de imóvel, veículos, máquinas industriais.
Como resultado, ocorre maior geração da atividade econômica, com mais empregos, mais gastos, crescimento na demanda e investimento das empresas (por meio de finnanciamentos) no aumento da produção para atender o mercado. Neste ciclo as pessoas ficam mais confiantes, com a impressão de prosperidade, segurança no trabalho e estabilidade econômica. Esse sentimento favorece a tomada de decisões importantes como o financiamento do imóvel próprio ou veículo.
A questão é que, ao atingir esse ponto, os bancos invertem a ordem das coisas. Passam a recolher o carretel de linha. As taxas de juros aumentam, juntamente com a inflação, e as pessoas passam a comprometer boa parte de seu orçamento para pagar as dívidas. O dinheiro some de circulação e todos simplesmente deixam de comprar: o comércio vende menos, a indústria produz menos e os empresários são obrigados a demitir funcionários. Muitas empresas são fechadas. Pessoas e empresas vão à falência. E os bancos? Bem, eles se apoderam das riquezas, ficando com imóveis, veículos, terras e tudo aquilo que as pessoas conseguiram comprar com o dinheiro fictício fornecido pelos bancos. A cada crise financeira, o sistema bancário sai mais fortalecido. É como um parasita que suga toda a energia das vítimas.
Mas aí surge a grande pergunta: como fazer para fugir ou evitar esse sistema. Em primeiro lugar, fique atento às condições e prazos oferecidos pelos bancos. Mas se ainda assim você precisou tomar o dinheiro e não está conseguindo pagar, procure ajuda de um especialista. É possível que o seu contrato seja revisto em juízo e, tanto os juros como o montante devido, renegociados dentro de condições e prazos mais aceitáveis.