Prostituição Co.
Recentemente, li aqui no LinkedIn um texto em que a prostituição era apresentada como um negócio, que poderia muito bem se organizar administrativamente para progredir e se desenvolver como qualquer outro negócio. O texto, ao que me recordo, sugeria que por se tratar de uma atividade empresarial, a prostituição precisa se ver livre de preconceitos e de estereótipos para passar a ser vista como o que realmente é: um serviço, um negócio de prestação de serviços dentro do contexto da indústria do sexo.
A ideia ali apresentada era que, com a mente aberta, começássemos a pensar na prostituição em termos de um empreendimento organizado, em vez de uma profissão que tantas vezes é vista como um negócio sujo e ilegal. Assim, poderíamos olhar para a atividade como olhamos para empreendimentos e não para a o fato de que se baseia naquilo que de fato ela produz: a exploração do indivíduo como uma criminosa ofensa aos direitos humanos. A prostituição centra-se principalmente na fisicalidade, e até mesmo os indivíduos de mente mais aberta hesitam antes de consentirem a legalidade da prostituição. E talvez diante do mascaramento e da organização dada à atividade de exploração do corpo de alguém, não importa muito o quão liberais as pessoas se considerem. O fato que não pode ser negado, apesar da embalagem limpa e bonita é que pessoas serão exploradas por outras, não por sua força de trabalho, mas pela comercialização do próprio corpo. Uma corporação ou uma empresa voltada para serviço de prostituição poderá ter clientes satisfeitos ao final do serviço, mas no final do expediente, terá seres humanos infelizes, destruídos internamente e distantes, muito distantes de uma vida digna na sociedade. Mas para que o debate sobre tão delicado assunto possa prosseguir de maneira adequada, é preciso observar que a apresentação da prostituição como uma situação de trabalho independente e organizada como um negócios para mulheres, precisa apagar os estereótipos negativos que têm sido associados à prostituição por tanto tempo. Precisa que não se pense naquilo que de fato é. Precisa que se abdique da ideia de que o ser humano que se prostitui incorre em um comportamento desviante e cria ou é resultado de um problema social que precisa ser enfrentado e não regulamentado ou institucionalizado.
Caso essa visão prepondere, é bem possível que se consiga retirar da atividade a visão degradante de homens e mulheres vendendo-se por dinheiro, substituindo-a pela imagem mais limpa, formal e corporativa de dois adultos negociando serviços de forma semelhante a qualquer empresa bem organizada. Nesse contexto, a prostituição não continuaria a ser vista como sujeira e desespero se tivesse a presença do governo apoiando e monitorando a forma como as prostitutas são tratadas, bem como institucionalizando a atividade.
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Por outro lado, admitindo-se que as mulheres possam não aspirar a ser prostitutas quando são pequenas, as mulheres recorrerão à prostituição como forma de apoio financeiro quando todos os outros recursos estiverem escassos. E nesse caso, poderiam ser oferecidos cursos de formação ou de aperfeiçoamento como os que hoje são desenvolvidos para o mercado de trabalho convencional. Todo um sistema de ensino profissional poderia ser desenvolvido para que as futuras profissionais se vissem como tal, sem jamais pretender mudar de profissão. A sociedade deveria tornar a prostituição tão segura quanto possível para estas mulheres, abrindo suas mentes à ideia de ser a sua exploração administrada como um negócio independente e monitorado, aprovando leis que tornarão a prostituição legal. Dessa maneira, pode-se inclusive lutar pela mudança nos padrões internacionais de direitos humanos, de forma a se criar uma cultura de que a prostituição não é mais exploração, mas algo como empreendedorismo.
Acontece que por menos que se queira enxergar a realidade como ela é, a exploração das mulheres é isso mesmo, exploração e uma violação dos direitos humanos e mais, um lugar de risco, onde frequentemente ocorre violência generalizada contra as mulheres. Criando-se empresas ou corporações bem geridas para os serviços de prostituição, a sociedade poderia ela mesma alterar o status sociocultural das mulheres, que passariam a ser vistas como profissionais de uma prática legal e reconhecida pela sociedade. O problema social, no entanto, não estaria resolvido e seres humanos continuariam sendo degradados e violentados.