Psicólogo-jogador e jogador-psicólogo

Psicólogo-jogador e jogador-psicólogo

Há algumas semanas, me deparei com este texto do Lead Designer de Teamfight Tactics, Mortdog. Resumidamente, ele discute a expectativa que existe dentro da comunidade de que os desenvolvedores sejam bons jogadores, para que assim possam ser melhores devs. O sentimento, segundo ele, é de que o ranking que ele ocupa dentro do jogo valida suas decisões, aos olhos do público. Recomendo a leitura integral do texto, mas deixo um pequeno spoiler:

"Forçar-se a alcançar os rankings mais altos na tabela não é a melhor maneira de usar seu tempo se o principal objetivo do dev de TFT (ou qualquer outro jogo) é fazer de seu jogo o melhor que ele pode ser" (tradução livre).

Essa provocação me levou a pensar em como isso se encaixa na realidade de um psicólogo do eSport. Até que ponto jogar pode nos ajudar a sermos melhores profissionais?

Quando jogamos, ainda que casualmente, entramos em contato com um pequeno pedaço do mundo dos nossos ciberatletas. Começamos a nos apropriar dos termos usados pela comunidade; entendemos a velocidade necessária para processar tudo o que acontece na tela; percebemos o quanto uma comunicação falha atrapalha o andamento da competição, entre muitos outros aspectos.

E como isso nos auxilia na prática? Nesse texto, vou focar apenas na parte da linguagem, deixando os outros aspectos para os próximos artigos. Vamos lá.

Ser capaz de entender os termos e gírias usadas dentro e fora do jogo facilita nosso vínculo com as pessoas do time. A linguagem surge como um certo "teste" por parte dos jogadores, que exigem uma certa comprovação do nosso conhecimento do jogo. Ela também nos faz entender melhor o que está envolvido nas jogadas que nos são descritas.

Como assim?

Imagine que um dos atletas diga "roletei aqui para bater minhas peças, poupar vida e jogar para salvar posição". Entendeu alguma coisa? De início, eu também não.

Cada modalidade tem suas especificidades. No caso da frase acima, dentro do Teamfight Tactics, "roletar e bater peças" significa tomar uma decisão de gastar seu dinheiro acumulado no jogo, a fim de aumentar a força dos seus personagens. "Poupar vida" e "salvar posição" implica que é preciso traçar um plano (ou planos) de ação diferente do que tinha se imaginado.

Em suma, ao assimilar o que está sendo dito, podemos associar quais habilidades psicológicas são necessárias para que aquela ação ocorra bem. Passamos a entender quais momentos do jogo demandam mais do atleta, e conseguimos investigar e planejar nossas intervenções com mais propriedade.

Apesar dos benefícios que essa imersão traz, uma coisa é clara: jogar é algo que demanda tempo. Uma só partida passa facilmente de 30 minutos em várias modalidades, fazendo com que não seja uma opção viável dentro da rotina de muitos profissionais - e não precisa ser. Temos muitas outras maneiras de estudar a modalidade, como conversar com os próprios atletas e com a staff, acompanhar lives, assistir vídeos didáticos, entre outros. Assim como nosso trabalho segue todo um processo, nossa familiaridade com o jogo também obedece a um ritmo.

E você? Já passou por alguma situação que envolveu conhecer um esporte, livro, série ou atividade diferente para poder se aprofundar na prática? Conta aí!

Antonio Longo Neto

Larissa Lamas D'Ascenção

Energy Wholesale Underwriter | Swiss Re Corporate Solutions

2 a

Creio que faz toda a diferença você poder praticar para entender o contexto e melhorar a abordagem com o time, inclusive em relação à linguagem que usam... Muito bom!

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