Publicidade gera tristeza?

Publicidade gera tristeza?

Quanto mais publicidade você assiste, menos feliz você se sente. Essa foi a conclusão de um estudo* feito com 900 mil pessoas em 27 países na Europa, conduzido por um professor da Universidade de Warwick, que há mais de 30 anos estuda as razões da nossa felicidade.

Para minha surpresa, ele apresenta números fortes: ser exposto ao dobro de propagandas faz sua satisfação com a vida cair 3%. Como referência, isso é metade da queda que um divórcio provoca. Quem diria...

Mas por que isso acontece? A opinião dos pesquisadores é de que as propagandas nos geram uma sensação de insatisfação. Ao tentar nos convencer a comprar algo novo, os marqueteiros estabelecem uma nova referência do que é bom. Mas quanto mais a gente vê anúncios de xampu com cabelos perfeitos, menos satisfeitos estaremos com o nosso visual. Em uma escala maior, se ficamos o tempo todo assistindo famílias "ideais" tomando café da manhã com tranquilidade, pessoas resolvendo facilmente todas as suas dívidas ou cenas luxuosas de um novo carro importado, isso pode nos deixar frustrados com as nossas próprias vidas, bens, conquistas e experiências.

Antes de começar a atirar ovos nos marqueteiros, preciso lembrar que eu sou um deles. Fiquei alguns dias pensando sobre isso. Por um lado, pode haver alguma lógica nessa teoria. Mas, por outro, não conheço nenhum publicitário que queira entristecer os seus clientes. Ao contrário, tendo a achar que os consumidores compram mais quando têm um sentimento positivo por algo, e não quando estão deprimidos.

Mas vejo dois fatores que podem explicar uma eventual relação entre publicidade e satisfação com a vida: as propagandas exageradas e a nossa mania de nos compararmos com os outros.

Ficar o tempo todo recebendo estímulos de barrigas chapadas com oito gominhos, crianças engomadinhas e relacionamentos amorosos perfeitos é "dose para elefante". Está cheio de anúncios por aí mostrando pessoas conseguindo a casa própria em um estalo de dedos, recebendo abraços carinhosos do chefe e viajando pelo mundo pagando "quase nada". Como se existisse o universo mágico das propagandas. Um planeta onde não há dificuldades, rugas, celulites, discussões ou fracassos.

Quem nunca ouviu um anúncio que começa com a frase "seus problemas acabaram"? Pois é. Isso precisa melhorar. Mas vejo um claro movimento nessa direção e acredito que a pandemia vai ajudar nessa tarefa.

Ao mesmo tempo, não posso ser contra as propagandas que verdadeiramente mostram as qualidades dos seus produtos. Isso é informar. Se assumirmos que ver algo mais belo nos deixa tristes, então deveríamos ser contra as pessoas que usam maquiagem na rua, por exemplo. Afinal, olhar para alguém arrumado também vai nos fazer ficar deprimidos, não? Se é verdade que as propagandas nos deixam infelizes por mostrarem algo melhor do que temos, imagine então o que os posts dos influenciadores do Instagram fazem com os nossos sentimentos?

E aqui chegamos ao segundo ponto: a grama do vizinho. Ela é sempre mais verdinha que a nossa. E nisso mora um grande problema.

A vida não é uma competição, mas a gente finge que não sabe. A euforia com a compra de uma nova televisão dura apenas alguns dias, até o cunhado comprar uma maior. A felicidade por ter feito uma viagem diminui quando ficamos sabendo que a vizinha foi para um hotel com mais estrelas. A comparação do salário, notas na escola, aparência, conta bancária ou número de curtidas acontece o tempo todo, roubando nosso contentamento e nossa capacidade de aproveitar o que temos e o que somos.

O marketing pode melhorar. Mas o nosso entendimento sobre a vida também. A felicidade nunca vai estar em ter mais ou ser melhor que os outros.

Viver de comparações é como correr atrás do vento. A grama perfeita do vizinho não existe. Nem a vida retratada na clássica propaganda de margarina.

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*Estudo publicado na Harvard Business Review e artigo também publicado na minha coluna no UOL

Flavia Molina

Chief Marketing Growth Officer na Pernambucanas

3 a

Boa pergunta, João! Acredito que a publicidade que provoca essa tristeza é aquela que não se conecta com o consumidor de forma verdadeira. Quando estimulamos o consumidor a se sentir inferior ao nosso produto, não estamos oferecendo solução, apenas um novo problema. No final do dia, empresas e clientes saem insatisfeitos com o resultado dessa falsa troca. Pessoas reais querem soluções reais.

Ana Paula Pegoraro

Supervisora de conteúdo e tutora do MBA de Gestão em Saúde - USP Aluna do Doutorado do Instituto de Economia Universidade de Campinas (IE/UNICAMP)

3 a

Acho que você é o primeiro marketeiro que eu conheço que eu amo! Sabe, quando fui escolher minha profissão, nunca pensei em Maketing, porque tinha esse estereótipo de que era a área "suja" da empresa que ia precisar fazer as pessoas se sentirem tristes enquanto não tiverem um produto meu. Você mudou a forma como eu vejo o marketing, dá pra ser decente, humano, ético em qualquer área. E dá para não ser também. É uma escolha diária e eu estou muito feliz de ver que tem pessoas como você escolhendo o bem!

Cristiane S.

Logística/ Pedagogia/Processos Escolares/Desenvolvimento na Educação Infantil/Gestão Escolar

3 a

Publicidade não gera tristeza não, nós temos o livre arbítrio para escolher o que queremos ver e assistir na Publicidade.

Felipe Oliveira

CEO | Consultor Especialista em Marketing e Comunicação | Expert em Mídias Sociais | Produtor de Conteúdo | Designer | Inteligência Artificial para Negócios e Vendas | Escritor | Influenciador Digital

3 a

No meu ponto de vista a publicidade não gera tristeza. O que gera tristeza é o indivíduo assistir a propaganda, o comercial e não conseguir adquirir aquele produto ou serviço. Nós profissionais sabemos muito bem como funciona o mecanismo por de trás da publicidade. Não nos abalamos tanto, mas quando você se coloca no lugar da massa mesmo, da população exposta à isso, sem dúvida, você vai ter sentimentos de felicidade e tristeza como resultados de uma mesma mensagem publicitária.

Marina Pontes Oliveira

Distribuição de Conteúdo e Parcerias de Mídia Latam na Red Bull

3 a

Provocação interessante. Meu pai sempre me disse "a gente deseja o que a gente conhece". Dessa maneira, ao sermos impactados por uma publicidade, conhecemos algo e passamos a querê-lo. Acho que a publicidade em si não gera tristeza, essa culpa está sim mais associada à um comportamento natural humano.

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