Qahwa, Blues & Devaneios: O Peixe e o Gafanhoto
Ontem caminhava na areia fofa da praia e preso nos arrecifes estava um peixe de barriga branca coberto de moscas. Com o rabo do olho vi o dele mover-se. Estava vivo e debatia-se contra o azar do mar ter recuado e deixado o infeliz peixinho preso nas pedras. Não faço ideia há quanto tempo estava a se debater nem quantas pessoas haviam passado sem socorrê-lo.
Peguei-o pelo rabo e por ser liso caiu numa poça maior, recobrando-lhe as debilitadas forças. Mas, por não saber se a maré era cheia ou vazante, conclui que poderia não ser suficiente até a maré cheia. Tentei pegá-lo novamente, mas sendo escorregadio não conseguia. Usei a chinela como prancha e o arremessei numa poça bem maior aonde as ondas chegavam. Creio que o pequeno estava salvo. Ao retornar da caminhada, o local estava repleto d'água e ele realmente tinha sobrevivido nesse dia.
Hoje, em outra caminhada, me deparei com um grande gafanhoto na areia lambida pelas espumas do mar que tragavam o pobre inseto de asas molhadas. Não oferecia a mínima resistência. Estava ao sabor da maré e, certamente, seria uma suculenta iguaria para algum peixe guloso. Depois da refrega das ondas, peguei o danado e o levei até umas pedras, bem longe da arrebentação para que secasse as asas e voasse na direção contrária ao perigo, fincando a salvo! Interferi nos desígnios da natureza, mas foi a oportunidade da minha boa ação do dia.
O peixe e o gafanhoto, um morre por falta e outro por excesso d'água. Um nada e o outro voa. O que significam estes sinais?