Quais são as ideias principais por trás do conceito de etnomatemática?
Cláudio Márcio Ribeiro Magalhães
Doutor em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Rio Claro - SP. Mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP
Este é o segundo artigo, escrito especificamente para o Linkedin, de uma série que chamei de série citações onde procuro trazer temas relacionados à Educação Matemática. Os textos têm como objetivo apresentar conceitos, no formato de citações, sempre sob o ponto de vista de autores que são referências em suas respectivas áreas.
Embora esta seja uma rede formada por profissionais da área da educação, entendo que seja um tema desconhecido para a maioria dos professores de outras áreas do conhecimento, embora tão relevantes para a Educação Matemática. Acrescento a isto o fato de existirem diversos professores da área de ensino de matemática que buscam programas de pós graduação e que podem, com isso, despertarem interesse pelos temas apresentados.
Etnomatemática
Estudos envolvendo aspectos culturais no ensino de matemática não são recentes, embora se aceite que as discussões sobre o tema Etnomatemática remontam de movimentos surgidos após o período de decadência do movimento conhecido como Matemática Moderna, ocorrido entre os anos 1950 e 1980. Após este período surgiram movimentos de educadores que estavam interessados em ressaltar maior valorização a respeito do conhecimento cultural dos estudantes em oposição ao currículo comum e visão dogmática que eram base para a Matemática Moderna.
A Etnomatemática, como campo de pesquisa, foi instituída após a palestra Socio-cultural Bases of Mathematics Education proferida pelo saudoso professor Ubiratan D’Ambrósio (1932 – 2021) no International Congress on Mathematical Education (ICME), na Austrália, em 1984, consolidando de vez o tema.
Ubiratan D’Ambrósio tem um papel fundamental no desenvolvimento de temas relacionados à Educação Matemática, seja pelo grande volume de trabalhos por ele desenvolvidos ou através daqueles que de alguma forma foram por ele influenciados, grupo do qual me orgulho de pertencer.
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D’Ambrósio tem grande relevância para a área e pelas suas contribuições à Educação Matemática, foi condecorado no ano de 2001 com o Prêmio Kenneth O. May pela Comissão Internacional de História da Matemática e no ano de 2005 pela medalha Félix Klein da Comissão Internacional de Instrução Matemática, dedicou grande parte de sua vida à estudos relacionados a esta área.
O programa Etnomatemática foi lançado definitivamente em 1990 no livro Etnomatemática, no qual D’Ambrósio discorre:
Não seria necessário tentar uma definição ou mesmo conceituação de etnomatemática nesse momento. Mais como um motivador para nossa postura teórica, utilizamos como ponto de partida a sua etimologia: etno é hoje aceito como algo muito amplo, referente ao contexto cultural, e portanto, inclui considerações como linguagem, jargão, códigos de comportamento, mitos e símbolos; matema é uma raiz difícil, que vai na direção de explicar, de conhecer, de entender; e tica vem sem dúvida de techne, que é a mesma raiz de arte e de técnica. Assim, poderíamos dizer que etnomatemática é a arte ou técnica de explicar, de conhecer, de entender nos diversos contextos culturais. Nessa concepção, nos aproximamos de uma teoria de conhecimento ou, como é modernamente chamada, uma teoria de cognição. (D’Ambrósio, 1990, p. 5)
Desde então um grande número de pesquisadores têm se debruçado sobre o tema e o resultado das pesquisam mostram a existência de práticas matemáticas sofisticadas sendo utilizadas em diferentes grupos culturais, além do fato do caráter contextualizado da etnomatemática possibilitar o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras.
Cláudio Márcio Ribeiro Magalhães