Quais serão as grandes tendências nos setores de varejo e consumo no pós-pandemia?

Quais serão as grandes tendências nos setores de varejo e consumo no pós-pandemia?

Não é novidade que a pandemia e crise decorrentes da COVID-19 transformaram a oferta e a demanda em várias áreas, sobretudo no setor de Consumo e Varejo. As mudanças de comportamento e o distanciamento social aceleraram algumas tendências, mas também criaram muitas outras. Falar sobre o crescimento significativo do e-commerce nesse período, por exemplo, parece muito óbvio, mas as mudanças do mercado não terminam por aí.

Com a determinação da quarentena por parte dos governos, em adição a uma nova realidade em que as pessoas querem evitar ao máximo qualquer tipo de contato físico que possa apresentar algum risco de contaminação, o que já era tendência nos últimos anos ganhou ainda mais força. Só no primeiro trimestre deste ano, as compras no e-commerce avançaram 32%, e, de acordo com estudo da SmartCommerce, quase 40% dos atuais compradores online realizaram sua primeira compra em março deste ano. Já no segundo trimestre, conforme levantamento da Compre&Confie, o faturamento das vendas online foi de 33 bilhões de reais, alta de 104% em relação ao mesmo período de 2019. Se a estratégia de "omnichannel" foi capaz de alavancar exponencialmente as vendas de grandes varejistas em 2019, período em que a sociedade sequer imaginava enfrentar uma pandemia, em 2020, as empresas que já estavam inseridas no modelo de negócio online "surfaram uma onda melhor" - ou apenas sobreviveram - em detrimento às que estavam atrasadas neste quesito. 

Concomitante à expansão do varejo no online, uma mudança significativa no comportamento do consumidor tomou forma. A exigência por parte dos clientes por uma boa experiência também aumentou, e isso não quer dizer apenas que o cliente quer um atendimento e entrega rápidos ou um pós-venda bem feito. As pessoas querem mais do que nunca transparência, segurança e privacidade com seus dados e informações, e para além disso, querem se identificar com o propósito das empresas e conhecer o posicionamento delas no que diz respeito a temas como sustentabilidade, ações de impacto social, e iniciativas de inclusão e conscientização. Além de um processo decisório de compra mais minucioso, as prioridades do consumidor também sofreram alterações. O crescimento na demanda de produtos de higiene, primeiras necessidades e commodities (arroz, feijão e leite, por exemplo) e a consequente redução na oferta ilustram perfeitamente esta transformação. Enquanto antes da pandemia as empresas direcionavam seus esforços e investimentos comerciais para estratégias de diversificação e variedade, pois entendia-se que este era o fator mais relevante na decisão de compra, hoje, os negócios devem se atentar em garantir uma maior eficiência no funcionamento da cadeia de suprimentos, uma vez que a escolha do cliente está baseada na disponibilidade dos produtos. 


Toda essa transformação no ambiente de consumo traz grandes oportunidades de reflexão, melhoria, otimização e desenvolvimento para os negócios. Se a nova realidade está cada vez mais voltada para o meio digital, em um contexto onde o consumidor está ávido por uma boa experiência, e cujo fator decisivo na escolha da compra é a disponibilidade imediata dos produtos, resta às empresas aproveitar o momento para atacar estas frentes e solidificar seus negócios. Fidelizar os clientes, através do uso de tecnologia capaz de levantar e analisar dados, além de mapear os hábitos individuais de cada cliente, a fim de customizar ofertas ou criar programas de fidelidade, são exemplos de estratégias oportunas. Além disso, é pertinente avaliar a possibilidade de migração total do negócio para o modelo digital, como forma de reduzir custos fixos com operações físicas. Ademais, o investimento de ferramentas tecnológicas voltadas para aprimorar a eficiência da cadeia de suprimentos e a gestão de estoques pode também reduzir custos e tornar o negócio mais competitivo. 

Alguns setores e tendências que se destacaram na pandemia e que apontam crescimento no pós-pandemia

Delivery: as empresas de entrega no modelo Delivery, especialmente de alimentos, tiveram demandas muito altas, e estudos apontam que essa tendência se estenderá mesmo após a pandemia, pois será comum que as pessoas prefiram fazer suas compras sem precisar sair de casa, em virtude da comodidade, facilidade, e segurança do sistema. O Ifood, uma das principais empresas do setor, por exemplo, registrou em março deste ano uma média de um milhão de entregas por dia. E, como reflexo da diversificação do uso do serviço de delivery, não foram só as entregas que bateram recorde no aplicativo. As plataformas de entregas de comida incluíram diversos produtos que antes não estavam disponíveis. As padarias, por exemplo, tiveram participação 156% maior entre março e junho do que em períodos anteriores. Além de alimentos, o aplicativo agora dispõe de produtos da categoria de mercado. Ou seja, se as pessoas já tinham o hábito de pedir uma refeição pronta, agora, se tornou comum comprar um detergente, um papel higiênico ou até ingredientes para o preparo da comida em casa, tudo pelo app. Neste contexto, o setor de alimentos e bebidas, só através do e-commerce, cresceu 241%, segundo a revista Exame. 

Alimentação saudável: O mercado de alimentação ligado à saúde e ao bem-estar também já apresentava crescimento expressivo no Brasil nos últimos anos. Segundo pesquisas do SEBRAE, de 2009 a 2014 este mercado praticamente dobrou de tamanho, e movimenta US$ 35 bilhões por ano no país. Durante a pandemia, a busca por opções saudáveis não foi diferente. As pessoas passaram a se preocupar ainda mais com o que estavam ingerindo, buscando fortalecer a imunidade e minimizar os riscos de contágio ou do agravamento da doença. O Estudo NutriNet Brasil indica um aumento de 40,2% para 44,6% na frequência de consumo de frutas, hortaliças e feijão, durante a pandemia. As pesquisas sugerem que, em razão do isolamento social, as pessoas passaram a comer mais em casa e a preparar a própria comida. Além disso, o locavorismo (termo designado para uma tendência mundial que consiste na prática de comprar alimentos produzidos próximos ao local onde serão consumidos) também foi destaque durante a pandemia. Com um movimento forte da sociedade em prol da valorização do comércio local, a exemplo de campanhas como a Compre do Pequeno, o comércio alimentício local foi bastante impulsionado.

Cursos online: segundo sugere o estudo realizado pela Udemy, plataforma digital de cursos, as matrículas em cursos online cresceram 425% durante a pandemia. Isto pode ser analisado por diferentes óticas, sendo uma delas a consequência de um maior número de pessoas em casa com mais tempo livre para se dedicar a aprender novas habilidades, hobbies ou aprimorar sua qualificação profissional. Além disso, com os serviços não essenciais como salões de beleza, restaurantes e academia fechados, o movimento "faça você mesmo" foi bastante impulsionado em todo o mundo, e quem aproveitou o momento para produzir conteúdo neste contexto conseguiu tirar proveito. Outros estudos sugerem que, com a recessão econômica e o crescimento da taxa de desocupação no Brasil, muitas pessoas que ficaram desempregadas recorreram aos cursos e capacitações online como ferramentas para empreender e vencer a crise. 

Cosméticos e Beleza: que o mercado de higiene pipocou neste primeiro semestre todos já sabem, mas não foi só ele que teve destaque. A indústria da beleza tem comunicado com frequência sobre a importância do autocuidado e rituais de beleza, e essa estratégia parece que vem dando muito certo. Apesar de, no início da pandemia, alguns estudos terem alertado o setor de beleza sobre uma possível queda no consumo em razão da quarentena e do modelo "home office" de trabalho, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) aponta a perspectiva de que o mercado cresça 1,1% em 2020, em relação a 2019. Apesar de ser um crescimento tímido se comparado às projeções pré surto epidêmico, o fato de não terem sofrido recessão já é visto como bastante positivo. Segundo João Carlos Basílio, presidente da ABIHPE: “não existe uma ameaça ao consumo de itens do setor em decorrência da Covid-19, pelo contrário, os produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos são essenciais para promoção da autoestima, do bem-estar e, principalmente, para manutenção da saúde física e emocional. Esse é o maior trunfo comunicacional e de negócios das empresas do setor”. Além dos cosméticos de higiene pessoal que cresceram por razões óbvias, o destaque são os produtos relacionados ao cuidado com a pele, e segundo Sabrina Zanker, diretora de marketing da L’Oréal Luxe, isso se dá porque as pessoas estão em casa com mais tempo para se observarem, cuidarem de si, e experimentarem produtos que as ajudem a relaxar e a passar por esse momento de maneira mais leve. Segundo A ABIHPEC, a tendência em números é de: 92,8% em volume de vendas das máscaras faciais, 14,7% dos cosméticos antirrugas/sinais/idade e 8,3% dos hidratantes faciais, comparando os cinco primeiros meses de 2020 com o mesmo período em 2019. Outro dado interessante foi o crescimento na procura por cosméticos (maquiagens e cremes) para a região dos olhos, bem como por procedimentos estéticos nesta região do rosto. Devido ao uso obrigatório de máscaras, as mulheres estão investindo no destaque do olhar. Deste modo, a indústria da beleza pode se preparar para o crescimento gradual desta categoria por um bom tempo, como já se pode observar em maior escala na China. 

Itens de exercício físico: com o fechamento das academias durante quarentena, as pessoas que já tinham o hábito de se exercitar - ou aquelas que se atentaram à importância de realizar atividades físicas durante pandemia como forma de prevenção do vírus - tiveram que buscar alternativas dentro do próprio ambiente residencial. Assim como a busca por aulas de ginástica, esportes e treinos online cresceu (a demanda por yoga online registrou um aumento de 66%, por exemplo), a venda de itens e acessórios para atividades físicas que podem ser usados em qualquer lugar, como halteres, colchonete, elástico, anilhas, pesos, entre outros, também. O site Netshoes apontou um crescimento de 2.500% na procura por estes materiais na penúltima semana de março, quando as recomendações de isolamento ficaram mais rígidas. No Mercado livre, o crescimento foi de 132% em março, se comparado ao mês anterior para vendas da categoria de produtos "Fitness e Musculação". Outro movimento observado foi a iniciativa de aluguel dos equipamentos por parte das academias, como forma de sobrevivência à crise. No caminho contrário a este novo hábito de se exercitar em casa, os varejos voltados para itens de vestuário da categoria podem sofrer um impacto maior e uma possível queda nas demandas. 

Streamings: com o fechamento de cinemas e teatros, a busca por entretenimento e distrações aumentou muito por meio de plataformas como a Netflix, HBO e Amazon Prime durante a pandemia, que têm oferecido cada vez mais opções para os consumidores. A tendência é que os assinantes continuem com as suas contas e o consumo de filmes, séries e podcasts mediante streamings permaneça após a pandemia. 

Pagamentos por aproximação: É possível prever a tendência de crescimento nos hábitos ligados à saúde e higiene no futuro. As transações financeiras realizadas por aproximação em comércios tendem a crescer, justamente por evitar o contato físico e consequentemente o risco de contaminação, já que não é necessário digitar senha ou fazer qualquer tipo de contato com o atendente ou maquineta. 


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