Qual o poder que existe em nós?

Quando éramos crianças, dentre um dos nossos maiores desejos, sem dúvida alguma, se encontrava a possibilidade de sermos super-heróis e termos superpoderes para combater o mal.

À medida que crescemos e que passamos a ter uma maior noção da realidade e do que existe de fato e do que não existe, a crença de sermos poderosos juntamente com a crença da existência do Papai Noel, do Coelho da Páscoa e de outras figuras se esvai. Com o tempo, nos tornamos reféns do natural e investimos nossos esforços seja para termos melhores condições de vida ou apenas para sobrevivermos.

Deixando a escala mundial de lado e concentrando a nossa atenção atual no Brasil, não é difícil notarmos a corrupção e a crise política vivenciada pelo país, o aumento exponencial da violência física e moral, os ataques ferozes de ansiedade às mentes assoladas pelo estresse e pelo crescimento da competitividade, a deturpação dos valores morais dos jovens e os altos índices de suicídio.

Os jornais e revistas a todo o momento bombardeiam a sociedade com as piores notícias possíveis causando em nós revolta interior e frustração com o atual cenário e, ao mesmo tempo, conformismo como o de que nada se pode fazer a não ser seguir a rotina como reféns e torcer ou orar para que tais tragédias não nos alcancem.

           É triste admitir, porém verdade, que o contexto horrendo vivenciado por nós, brasileiros, nada mais é do que um reflexo da nossa própria sociedade e, com ousadia, digo ainda que revela um espelho de nós mesmos. A pilantragem no meio político com o desvio de milhões de reais se apresenta em nossas atitudes ao recebermos um troco maior e ficarmos calados mesmo sabendo que o caixa é quem arcará com o prejuízo, ao sonegarmos os impostos nos justificando pelo mau uso e desvio dos mesmos em vez de sermos orientados por nossos próprios princípios e agirmos de maneira idônea independente de como os demais agirão, ao que embora pareça simples, como apenas uma “cola” em uma prova, que apesar de não fazer mal a ninguém a não ser a si próprio, manifestam o nosso verdadeiro caráter.

           Criticar a política quando somos nós os que os escolhemos como representantes, criticar a rebeldia de nossos jovens e adolescentes quando desde crianças os próprios pais trocaram o seu tempo de qualidade por presentes, se espantar com os suicídios quando enquanto vivos pediam o nosso alento e o negamos, se frustrar com os fraudadores quando em todo o tempo apresentamos ser algo que não somos de fato, se espantar com a violência quando violentamos o próximo com preconceitos e acusações; nada mais é do que transferir a responsabilidade pela culpa que cabe a nós.

Apesar disso, ainda que a nação pareça perdida, existe em nós poder para mudar essa realidade. Ainda que se apresente como utópico e insensato, o desejo de ter superpoderes e de sermos super-heróis na infância nada mais é do que a manifestação de uma capacidade nata e possível do ser humano de mudar o meio. O que tratamos por vezes como infantilidade é, de fato, algo que habita em nós e nascemos para fazer: sermos agentes de mudança dotados não de poderes mágicos, mas de poder de influência na sociedade.

           Temos a capacidade de nos desconformarmos, de nos reinventarmos, de transformar o egoísmo, a corrupção e o julgamento em ações de solidariedade, transparência e empatia. Tal processo começa em nós, nas pequenas atitudes, nos detalhes de obediência a lei dos homens, de retidão em relação aos padrões morais e de uma vida orientada por nossas crenças e princípios. Sim, temos poder para mudar o cenário à medida que paramos de buscar exemplos e nos tornamos o exemplo, de procurar por alento e nos fazermos alento, de implantarmos a paz e sermos a paz.

Somos poderosos para influenciar, poderosos para não apenas sermos admirados, mas também seguidos, poderosos para em vez de visualizarmos a esperança do país, ser a esperança que os outros visualizam, poderosos para manifestar o que quando crianças tentávamos ser: super-heróis que não são reféns da realidade e do medo, mas dotados de ousadia, de amor e de equilíbrio. Para isso, basta apenas ter a convicção de que o Poder que opera em nós é maior do que o poder que habita no mundo e Usá-lo para transformar a sociedade.




           




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