Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?

Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?

A classificação da sociedade através das gerações etárias sempre auxiliou os pesquisadores a entenderem mudanças históricas e a mapearem necessidades específicas de cada um destes grupos. Mas será que um indivíduo com 39 anos é tão diferente daquele que acabou de completar 40 anos e que, de forma automática, passou a pertencer a um outro segmento? Será que este aniversariante se sente em outra etapa da vida no momento seguinte em que assopra a velinha?

 O admirável mundo “algoritmizado” propiciou o surgimento de uma nova categoria que não é baseada necessariamente nos anos de vida, mas em desejos, interesses e comportamentos comuns, independente da faixa de idade. Trata-se do conceito de “Ageless Generation” ou “Perennials”, termo cunhado por Gina Pell, chefe de conteúdo da The What, que explica: “O mercado busca catalogar e homogeneizar nossos interesses, hábitos de consumo, até mesmo nossos valores e referências morais. Mas a realidade é que muitos de nós não se alinham com os rótulos que recebemos. Temos enorme capacidade de nos adaptar a mudanças, somos curiosos e estamos sempre florescendo. Enquanto estivermos com saúde, devemos continuar a crescer, aprender e explorar o que podemos fazer”.

 Esta segmentação, que se caracteriza pelo mindset semelhante, é composta por indivíduos, de qualquer geração, que vivem o presente, são atualizados tecnologicamente, circulam em ambientes diversificados e convivem com múltiplas faixas etárias. Enfim, estão em constante evolução.

Parafraseando o escritor francês Honoré de Balzac, “O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo”.

 A cronologia cede espaço para a identidade social. Estes grupos não se moldam às expectativas geracionais, nem a regras e a costumes engessados. Têm como características intrínsecas a vontade de viver, a ânsia por aprender, o desejo de ousar e de se reinventar permanentemente, aspectos que se refletem na forma como encaram os desafios diários e a qualidade de vida. Abraçam causas e pretendem deixar legados. Junte-se a isto a prontidão para o desenvolvimento do autoconhecimento e da inteligência emocional e temos um profissional equilibrado e qualificado para o mercado de trabalho, ajudando a construir uma sociedade mais plural e inclusiva.

Conhecer esse perfil também é indispensável para a análise dos novos modelos mercadológicos. Eles já são 17% da população, mas correspondem ao dobro disso em potencial de consumo e ao triplo na capacidade de influenciar os demais. Para Walter Longo, ex-presidente do Grupo Abril, “trata-se de uma tribo que aposenta de vez a “Idade Média” e inaugura a “Idade Mídia”.

A publicidade precisa ficar atenta”. Sem dúvida, cada um de nós se tornou um canal próprio de comunicação. E assumiu o protagonismo com a capacidade de persuadir, disseminar informações e estimular atitudes.

 A outrora “civilização da média”, alicerçada por notas escolares “acima de 5 para passar de ano”; padrões comportamentais “commodizados”, focados no desempenho regular, ou a fabricação de produtos pasteurizados, que eram praticamente a única opção do mercado, cederam lugar a uma realidade cada vez mais ágil, global e competitiva, em que

posturas inovadoras e a busca incessante pelo máximo não são opções, mas valores intrínsecos apresentados pelos verdadeiros vencedores.

Neste universo, a meritocracia é baseada na valorização da resiliência, destacada pelo propósito e avaliada pela capacidade de executar e de produzir resultados. Não basta ter iniciativas, mas também “acabativas”. Tudo junto e misturado. As profissões modernas envolvem atividades mais intelectuais e menos físicas e repetitivas – que serão exercidas pela automação. Desta forma, profissionais devem ressignificar a carreira através da construção de ricos insights. “A inteligência artificial não vem para roubar o emprego, mas para devolver a nossa humanidade”, garante Walter Longo. Para ele, a robotização permitirá que o tempo que seria destinado a tarefas burocráticas possa ser utilizado para incrementar o convívio familiar.

 Paralelo às modernas formas de trabalho, também surgem modelos de relacionamento disruptivos. O networking pontual vem se transformando no “Netliving”, um estilo de vida com conceito mais colaborativo e permanente.

E o “Homebody Economy” reforça esta cultura, agregando comodidade e redução de despesas. Há alguns anos era difícil imaginar concorrentes dos fast-foods fora da área de restaurantes. Hoje, estas empresas estão preocupadas com delivery de entregas de comida e provedores de programas via streaming, como o Netflix, que estimulam o lazer e a alimentação em casa.

 “O maior concorrente do McDonald’s hoje em dia é o iFood. Você pede de onde quiser, qualquer tipo de comida, em todas faixas de preço, e eles entregam rápido. E eles hoje já são quase do mesmo tamanho do McDonald’s do Brasil”, comentou o diretor da rede, Marcelo Nóbrega. Detalhe: a cadeia mundial de restaurantes foi criada em 1940 e o iFood surgiu em 2011.

Com os custos permissivos da tecnologia, a individualização também se tornou uma tendência irreversível. Medicamentos genéricos, encapsulados em longas bulas descritivas, vem sendo substituídos por receitas formuladas exclusivamente para aquele DNA ímpar.

 O mesmo ocorre no caso da educação. Cada vez mais o ritmo e os interesses de cada aluno serão respeitados com a introdução de metodologias interativas, agradáveis e criativas, que ampliam a experiência e fortalecem a absorção do conhecimento. As disciplinas tendem a privilegiar o raciocínio, as habilidades comportamentais e questões do dia a dia, como a ética, o voluntariado, a economia doméstica e o empreendedorismo. O conteúdo é aprofundado pela diversificação do debate, enquanto a saudável troca intergeracional proporciona o enriquecimento dos envolvidos.

 Se a vida começa aos 40, convido estes “jovens 40+” a pensar o que farão até os 120 anos e cito uma provocação do pensador chinês Confúcio: “Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”.

Artigo publicado na revista The Funnel Brasil

Mauro Wainstock é CEO do HUB 40+, comunidade que oferece conteúdo, networking e oportunidades de negócios aos "jovens acima de 40 anos"

Fran Winandy

60+ Referência no Brasil em Etarismo e Integração Geracional. Autora do livro: " Etarismo, um novo nome para um velho preconceito". Conselheira, Consultora, Palestrante e Professora de Programas de Formação Executiva.

4 a

Excelente Mauro Wainstock! Respondendo à questão final, eu diria algo entre 25 e 30 anos!. ;)

Helio Muniz

Consultor na HM Services | Estratégia, Desempenho Profissional

4 a

Mauro, belissimo artigo.

Para dar um exemplo da incoerência que é a classificação por idade, provavelmente um recrutador eliminaria Bill Gates, Warren Buffet ou Elon Musk de uma contratação fictícia, se olhasse suas datas de nascimento em um curriculum.

Para dar m exemplo da incoerência que é a classificação por idade, provavelmente um recrutador eliminaria Bill Gates, Warren Buffet ou Elon Musk de uma contratação fictícia, se olhasse suas datas de nascimento em um curriculum.

Valdir de Souza

Netweaver | Tecno-Humanista | Facilitador de Caminhos

5 a

Sensacional artigo @Mauro Wainstock!

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