Quando chega o momento de deixar [quase] tudo pra trás...
Acredite, escrevi, apaguei, escrevi, apaguei, pelo menos uma dúzia de vezes esse texto. Sou realista demais pra esse mundo onde vivemos, ou onde as pessoas querem aparentar viver.
Neste exato momento, estou com uma implementação por fazer, uma webnar pra assistir, exercícios para responder e enviar ao professor, um certificado para terminar de tirar, uma certificação para estudar, podcast's pra ouvir, artigos para ler, um mundo inteiro sobre mim, ao qual eu observo e tenho impressão de que não vou conseguir vencer.
Neste exato momento, meu noivo está sentado à minha frente, em seu computador, editando um vídeo para o trabalho dele, eu olho pra ele e sinto orgulho, ele é dedicado, estudioso, perfeccionista, atingiu na carreira dele um momento onde é valorizado, um momento onde é hora de procurar se especializar mais, se dedicar mais, estudar mais, em três anos de relacionamento esse é um período onde ele está sendo mais e mais requisitado no mercado de trabalho, porque ele soube deixar pra trás um emprego de quase 10 anos que não fazia mais ele feliz, um emprego de quase uma década que não o satisfazia mais, ele soube comprar sua primeira máquina fotográfica, ele soube se dedicar aos estudos, dar os primeiros passos e nunca parar. Ele estudou noites a fio, fez cursos, exposições, ganhou prêmios em concursos, realizou projetos, aprendeu novas ferramentas, aceitou desafios, se comprometeu, e hoje colhe todos os frutos de anos de desafios, lutas e muito suor derramado. Ele soube a hora de deixar pra trás o que não fazia mais ele feliz, o que não pertencia mais a essência dele e o resultado deu mais do que certo.
Recentemente eu ouvi uma frase que dizia assim "Na caverna escura que você não quer entrar, pode estar guardado o tesouro que você tanto almeja", não me recordo o autor da frase, queria poder citá-lo aqui, no momento eu estou a céu aberto, sei o caminho que percorri, o que ainda vou percorrer, é tudo muito claro, e acredite, essa clareza toda não é algo tão bom assim. Já faz algum tempo que eu não sinto que estou evoluindo, não digo profissionalmente, pois aprendi muita coisas nos últimos dois anos, mas sinto que não evolui como pessoa, eu parei de ler por prazer e passei a ler apenas por aprendizado, eu parei de estudar coisas aleatórias como customização de roupas, auto maquiagem, corte e química para cabelo, enfim 'N' coisas das quais eu amava, para estudar coisas que eu precisava aprender para seguir minha carreira na área de desenvolvimento de software, a qual eu amo, diga-se de passagem.
Mas eu cheguei em um ponto da estrada na qual tem uma bifurcação, possivelmente, um ponto da estrada onde meu noivo chegou há anos atrás, um ponto onde muitas pessoas chegam, um ponto onde pessoas bem sucedidas, com ótimos empregos, bons salários, porém saturadas de suas rotinas, de seus chefes (leia-se CHEFES, não LIDERES), rotinas stressantes, simplesmente decidem deixar tudo pra trás e seguir uma vida mais simples, esquecer o carro na garagem e andar de bike por ai, se mudar do grande apartamento no centro da cidade para um menor em um bairro mais modesto, economizar nas saídas dos finais de semana, nem sempre viajar nas férias, pelo simples e único fato: porque querem ter mais qualidade de vida, um emprego mais modesto, mesmo que ganhando menos, vão organizar as contas e ir parando de usar o tão stressante cartão de credito, o cheque especial que tira o sono de qualquer um, não querem mais trabalhar até tarde da noite porque o prazo do relatório está estourado e as tarefas no escritório estão acumulando mais e mais e querem SIM sair as 18h sem pensar no que deixaram no trabalho, chegar em casa e curtir a família, sair pra dar uma caminhada, passear com o cachorro. Eles ainda querem ser profissionais competentes, reconhecidos, dar o seu melhor, mas eles também querem a vida deles pra eles viverem.
Mas o que a gente faz quando chega nessa parte da estrada? Como decidir qual caminho tomar? Como saber se é hora de deixar tudo pra trás? Seguir em frente na profissão que você escolheu com seus 17, 18, 20 anos... ou tentar dar seguimento aquele sonho que vem se moldando na sua cabeça nos últimos anos? Fazer um intercambio, morar em outro lugar, abrir seu próprio negocio, arriscar e ver o que a vida guarda depois da curva?
O medo constante que nos cerca em um novo caminho pode ser a chave do nosso sucesso, pode ser o empurrão que a gente tanto precisa. É na bifurcação da estrada que a gente encontra a resposta pras perguntas que enchem nossa cabeça.