Quando a horta se torna sala de aula
Por Luisa Haddad*
Desde 2018 temos atuado em escolas públicas. Em conjunto com a comunidade escolar implementamos hortas ou módulos de canteiros para ser usado como espaço de aprendizagem. E então oferecemos um trabalho contínuo de acompanhamento que permite aos professores não apenas plantar como também fazer toda a manutenção da horta. Nossa experiência mostra que quando empoderados, a equipe da escola e do entorno consegue absorver este conteúdo tanto para fazer os alunos protagonistas do cuidado com o espaço como utilizar conceitos ali presentes como apoio para as aulas.
Uma parceria que nos orgulhamos muito começou com a Unibes em 2018 quando fomos convidados pela Seguros Unibes para revitalizar a horta do Centro da Criança e do Adolescente (CCA). O jardim comestível serve até hoje como espaço de aprendizagem para centenas de crianças e adolescentes, que acompanham o desenvolvimento das hortaliças e aprendem sobre a importância de se ter uma alimentação equilibrada. Os professores também foram capacitados sobre os cuidados com a horta, para que eles possam trabalhar os assuntos de educação alimentar e ambiental com os alunos.
Em seguida, também iniciamos um trabalho com escolas no entorno da sede do Centro de Integração Empresa Escola, em São Paulo. Com ação dos voluntários da própria organização, atuamos com as crianças da Escola Estadual Prof. Ludovina Credidio Peixoto em diversas oficinas sobre alimentação e cuidados com o meio ambiente em 2018 e 2019. Quando já não era possível fazer encontros presenciais com todos, durante o início da pandemia em 2020, realizamos uma ação híbrida que possibilitou revitalizar os canteiros e o muro da escola com a criação de um jardim sensorial e desenvolvemos materiais para inspirar professores e merendeiras a usar a horta nas atividades escolares e no preparo da alimentação.
Nestas ações inclusive, conseguimos envolver voluntários de outras unidades de diferentes cidades do país no preparo de materiais à distância, fazendo com que mesmo quem está longe fisicamente consiga se envolver nesta importante ação para a instituição. Em setembro de 2021 voltamos presencialmente na escola com alguns voluntários para revitalizar um novo muro utilizando desenhos das crianças e para ampliar a horta escolar com atividades bem mão na massa - ao ar livre, com máscaras PFF2, horários espaçados e com voluntários que estavam com ciclo vacinal completo. Foi uma linda retomada das ações!
Para ampliar o nosso projeto em escolas públicas, ainda em 2020 iniciamos um projeto-piloto que está sendo co-criado com EMEF Des. Amorim Lima, em parceria com a Mãe Terra. Nesta ação, além da formação e da co-criação de atividades junto com os professores para entrar nos roteiros pedagógicos oficiais, revitalizamos a horta pré-existente da escola e implantamos uma sala de aula circular ao ar livre que poderá também ser utilizada como cozinha pedagógica (e receberá todos os equipamentos necessários para isso). A parceria conta ainda conta com a elaboração de materiais de apoio em texto e vídeo-aulas que ficarão disponíveis para toda a rede pública de ensino.
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E para expandir ainda mais a nossa atuação com educadores de vários cantos do Brasil realizamos, em parceria com o Sesc 24 de Maio, o curso gratuito "Usando hortas e compostagem como plataformas educativas". Foram 6 encontros para pessoas interessadas em transformar a horta em espaço pedagógico de trocas, vivências e muito aprendizado.
Acompanhamento e continuidade
Recentemente temos sido bastante procuradas por empresas que já apoiaram a implantação de hortas escolares com outros parceiros, porém estão inseguras quanto à continuidade do projeto por não sentirem a escola engajada e confiante no uso da horta como um espaço pedagógico e nos cuidados para mantê-la viva. Por isso, desenhamos um formato de projeto em que empresas, institutos e fundações podem financiar a expansão desse projeto para outras escolas públicas por meio de atividades de formação sobre horta, alimentação e compostagem para dar mais confiança e autonomia para a comunidade escolar manter projetos como esse ao longo do tempo.
Já pensou que sua empresa pode ser apoiadora na formação desses professores de todo o país? E apoiar na formação de profissionais da educação para trabalhar a alimentação saudável e sustentável nas escolas e implantar e, principalmente, manter hortas escolares? Se este é o seu caso, não deixe de me procurar.
Com este texto também queremos homenagear todos os professores que estiveram conosco nesses últimos anos de atuação do Pé de Feijão. São os professores que, quando vivem essas experiências com as crianças, na escola, têm a possibilidade de facilitar não apenas o conhecimento sobre frutas, legumes e verduras, mas principalmente experiências relevantes que provoquem o encantamento sobre o meio ambiente, sobre a alimentação e tudo que se relaciona com os cuidados com a horta.
Plantar a própria comida faz com que você se envolva, se apaixone por ela. Sem falar da carga afetiva que é intrínseca à alimentação: comemos porque precisamos nos nutrir, mas gostamos do que comemos porque isto nos remete a lembranças, sensações, experiências e pessoas queridas. E é este poder que a horta tem de despertar em nós: essa criação de vínculos entre as crianças e seus professores, entre as crianças e os alimentos e tudo o que está à nossa volta. Celebramos poder atuar sempre em conjunto e levar ainda mais a natureza para a vida dos pequenos.
Luisa Haddad é bióloga, foi gerente de projetos de estratégia de sustentabilidade corporativa e hoje lidera o Pé de Feijão. Decidiu empreender quando transformou o aprendizado da sua mudança de estilo de vida em um programa que reconecta as pessoas com os alimentos, mostrando que o caminho para comer melhor pode ser uma experiência transformadora e envolver toda a família a consumir mais frutas, legumes e verduras.