QUANDO O CORPO DIZ NÃO AO SEXO
Algumas mulheres chegam ao meu consultório com queixas sobre dores no momento da penetração, contando que fogem das relações sexuais. Como não conseguem ser penetradas se sentem diferentes, ou menos mulheres, mas não entendem as causas dessas dores e sensações.
Trata-se de vaginismo, incapacidade de ser penetrada, causando uma contração involuntária da vagina. Algumas mulheres fazem isso inconscientemente e se sentem incapazes de ter uma boa relação sexual com prazer.
O vaginismo é uma disfunção polêmica da sexologia. Alguns especialistas acreditam que as técnicas de dilatação vaginal resolverão a dor e o incômodo por si só; pois ao conseguirem dilatar a vagina para receber o pênis, o problema estará solucionado.
Mas não funciona bem assim e depende de outros fatores...
Um deles é a crença religiosa. Algumas religiões difundem que as mulheres precisam preservar a virgindade e manter o hímen intacto até o casamento. Deveriam se “entregar” somente após a cerimônia. Entretanto, fica difícil para essas mulheres mudarem o mindset (mentalidade) instantaneamente após a assinatura de contato nupcial.
Outra particularidade das mulheres que sofrem com vaginismo é a permissão para a penetração anal. Isso acontece porque, para elas o ânus não tem o significado do feminino como acontece com o útero, ovários e a vagina. Assim, talvez, não se sintam invadidas enquanto mulher.
O sucesso do tratamento depende do comprometimento da paciente
Certa vez, uma paciente chegou até mim recomendada por sua ginecologista. Foi diagnosticada com vaginismo. Era engenheira civil, casada com um engenheiro elétrico. Já estava no segundo casamento porque com o primeiro marido não conseguiu ter relações sexuais. Desta vez se casou com um colega de trabalho com muitas afinidades e comprometido a ajudá-la na solução deste problema. Ambos demonstravam ser bem focados em seus objetivos.
A ginecologista não diagnosticou problemas físicos, portanto, a paciente e seu companheiro queriam saber como eu poderia orienta-la para resolver o problema pontual, o mais rápido possível, pois gostariam de engravidar. Queriam saber se existiam exercícios físicos e qual o prognóstico de sua cura. Ela não falava sobre sua vida, foi bem clara e direta questionando o que deveria fazer e não preocupava com as possíveis causas de sua dificuldade. Expliquei que, no seu caso, a solução do problema depende muito mais da paciente do que do terapeuta sexual e recomendei alguns exercícios de dilatação vaginal.
Como ela e o marido eram muito determinados resolveram juntos e em 3 meses de tratamento conseguiram engravidar. Não voltaram mais ao consultório nem fizeram terapia. Assim que resolveram o problema físico – a incapacidade de dilatação da vagina - consideraram que tiveram sucesso.
Nesse caso é bem provável que ela volte a ter os sintomas de contração involuntária da vagina e dor na penetração, logo após o parto porque não tratou a causa. Trabalhou somente o sintoma pontual.
Causas prováveis
As causas do vaginismo podem ser fisiológicas, psicológicas ou ambas. É preciso investigar com muita atenção.
Uma das causas pode ser a insegurança para se entregar ao prazer. Por isso as mulheres contraem a vagina de forma exacerbada. É uma forma que encontram para se proteger do “invasor” mesmo que conscientemente eles não tenham esse papel. O vaginismo também pode ser decorrente de:
- Educação castradora
- Castração religiosa
- Abuso sexual
Essas causas nem sempre estão acessíveis ao consciente e precisam de mais tempo de investigação.
Tratamento
É recomendável um tratamento multiprofissional envolvendo ginecologista, psicoterapeuta sexual, fisioterapeuta e educador sexual.
O psicoterapeuta sexual acolhe a dor, entende o histórico da paciente e sua vida familiar, antes de dar início à terapia. Aborda as causas psicológicas e as ressignifica.
Existem algumas técnicas que ajudam a enfrentar as situações: a hipnose, técnicas de dessensibilização com aproximação progressiva, fisioterapia especializada na saúde da mulher.
Vale lembrar que, mesmo com vaginismo algumas mulheres conseguem engravidar porque os parceiros podem ejacular no introito vaginal, sem penetração. Outras preferem optar pela inseminação artificial.
Caso você se identifique ou conheça alguma mulher com esse tipo de queixa, procure tratamento especializado.
Sobre a autora
Vânia Macedo Bressani - Psicóloga clínica e hipnoterapeuta, especialista em terapia cognitivo comportamental e psicoterapia sexual. Especializada em medicina comportamental, orientadora sexual, psicoterapeuta de casais, professora convidada em cursos de especialização em sexualidade humana, presidente do CEPCoS, membro associado da SBRASH, membro associado da ABPMC, sexóloga do Hospital Pérola Byington, em São Paulo. Palestrante em cursos de aperfeiçoamento e especialização, workshops, congressos e jornadas. Acompanhamento de profissionais em início de carreira. CONTATO: vmbressani@gmail.com
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