Quando o nosso ponto cego é a inveja

por Marluce Dezorzi

Todos nós sabemos que a inveja compõem a blacklist dos pecados, é considerada um pecado capital, ou seja, um pecado mortal aos olhos de Deus e da igreja.

Muitos de nós têm histórias para contar sobre a inveja, seja como vítimas ou conhecedores de alguma vítima do invejoso. Até usamos como anedota para nos referirmos a ela - "estou sentindo uma inveja branca de você amiga" ou "ela está verde de inveja" - e fazemos acusações aos outros quando desconfiamos de alguma comportamento sinistro de um colega ou "amigo" que ao saber que recebemos uma boa notícia ou tivemos alguma conquista nos olha de um jeito meio estranho, comentam que merecemos, mas com um tom de voz esquisito, com desdém, tentando nos fazer acreditar que não é tudo isso é qualquer um poderia ter conseguido também (inclusive ele, não é ?), porém, lá no fundo está fervendo de raiva (e às vezes ódio) por não ter sido ele o merecedor da boa nova e é nesse momento que esse sentimento vil começa a ocupar terreno e questões como: por quê ela e não eu? Sou mais inteligente, mas bonita, me esforcei mais, e por aí vai, tomam a mente e o coração da pessoa. Com a mente e o coração corrompido, a inveja assume a direção e a partir disso, muitas coisas mudam, em especial o espírito do invejoso.

Existem muitas definições interessantes para a inveja ou invídia como é chamado esse sentimento de angústia ou raiva que podemos sentir perante o que o outro tem e nós não. Alguns definem a inveja como um sentimento de frustração ou rancor por não ter conquistado ou realizado algo ou ainda por não ter alguma qualidade ou atributo que gostaria de ter, mas o outro têm. Essa descrição é de dar arrepios! Sentir raiva, angústia ou rancor porque não temos ou não conseguimos algo que outro tem ou conseguiu ? Deprimente, mas não só isso, é também revelador. 

O que esse sentimento tão obscuro pode revelar a nosso respeito? Muitas coisas, desde sintomas de certos transtornos de personalidade como na síndrome de Bordeline, no transtorno passivo-agressivo e no transtorno de personalidade narcisista. Entretanto, como não se trata de um artigo técnico-científico sobre o tema, é tão pouco, minha especialidade, não entrarei nessa seara. 

Voltando ao que a inveja pode revelar a nosso respeito além do que foi mencionado acima, quando um de nós sente inveja, o que de fato está acontecendo conosco? O que temos ou não que nos leva a apropriação desse sentimento? O que não gostamos em nós, ou melhor, será que realmente gostamos de nós?

Será que uma pessoa com a autoestima saudável pode sentir inveja? Penso que não!

A pessoa com baixa autoestima (ou sem nenhuma), não acredita em si mesmo, tão pouco em seu poder interior, não se vê merecedora do melhor da vida e diante dessa fragilidade fica exposta às muitas emoções e sentimentos negativos e sombrios existentes. 

Napoleão Bonaparte costumava afirmar que "a inveja é um atestado de inferioridade", pensando bem, faz muito sentido.

Se a ausência de autoestima traz sentimentos de inadequação é bem provável que o invejoso ou invejosa tenha por si mesmo sentimento de desprezo, desrespeito e nenhum amor próprio. 

Se falarmos de amor, podemos considerar que sua presença não permite espaço para nenhum outro sentimento vil, logo, quem tem autoestima, respeita-se, tem fé em si mesmo e reconhece seu próprio valor. Definitivamente, a inveja não teria espaço.

Posso afirmar então que, onde o amor impera, a inveja perde a guerra!

Enfim, temos alguns bons caminhos a percorrer para saber lidar melhor com essa perigosa armadilha mundana e minhas sugestões são:

Ame-se! Cuide-se! Evolua, seja um ser humano cada vez melhor.

Conquiste a si mesmo antes mesmo de conquistar bens materiais ou algo que pertence ao outro ou que ainda não esteja preparado para ser ou ter, seja honesto consigo mesmo.

Retire a névoa cinzenta de seus olhos, de sua alma, feito isso, o discernimento lhe fará companhia, e ele, iluminará sua consciência que lhe trará lucidez e atitude para que continue ou comece sua jornada vigilante e comandante de si mesmo.

Que façamos as devidas reflexões.