Quando o valor do conhecimento não é recíproco
Imagem feita por IA

Quando o valor do conhecimento não é recíproco

Os profissionais de Tecnologia da Informação (TI) desempenham um papel fundamental no mundo contemporâneo. São eles que mantêm as engrenagens tecnológicas das empresas, das instituições e até mesmo das vidas pessoais funcionando sem interrupções. Devido à sua expertise, eles são indispensáveis em todas as áreas do conhecimento, do setor público ao privado, da ciência à educação. No entanto, esse reconhecimento profissional nem sempre se traduz em valorização pessoal, especialmente no convívio com familiares e amigos.

É comum que profissionais de TI sejam frequentemente abordados por parentes, amigos e conhecidos com pedidos de "favor". Esses pedidos variam desde tarefas mais clássicas, como formatar um computador, instalar um software, remover vírus ou configurar dispositivos, até as mais atuais, como escolher o celular ideal ou configurar ferramentas tecnológicas para o dia a dia. Recentemente, com a popularização da inteligência artificial (IA), esses pedidos ganharam um novo nível de complexidade. Agora, é comum ouvir frases como "Você pode me explicar rapidinho como funciona essa IA?", ou "Só me ajuda a configurar uma ferramenta de inteligência artificial para o meu trabalho?". Muitas vezes, a expectativa é de que o profissional não só compreenda rapidamente as necessidades, mas também ofereça soluções práticas e detalhadas, sem custo e em pouco tempo.

Essa percepção, por mais que muitas vezes seja bem-intencionada, carrega um problema maior: a "subvalorização" do trabalho técnico e intelectual desses profissionais. Há um entendimento equivocado de que, por serem da área de TI e estarem familiarizados com tecnologia, essas atividades fazem parte de um "pacote de habilidades naturais", e que compartilhá-las de forma gratuita é quase uma obrigação. No entanto, essa visão desconsidera o esforço necessário para adquirir conhecimento em TI, que envolve anos de estudo, prática constante e atualização contínua, principalmente em um campo que avança em ritmo acelerado.

A chegada das IAs ao cotidiano das pessoas ampliou ainda mais essa demanda, mas também acentuou o desequilíbrio na percepção de valor. Muitos acreditam que "dar uma explicadinha" sobre como funcionam tecnologias complexas como ChatGPT, sistemas de automação ou plataformas de aprendizado de máquina não consome tempo nem exige esforço do profissional de TI. No entanto, por trás de uma explicação aparentemente simples, há anos de preparação, entendimento técnico e vivência prática que tornam possível transformar conceitos avançados em algo compreensível e aplicável.

Enquanto outras profissões – como medicina, advocacia ou engenharia – possuem limites bem estabelecidos entre o pessoal e o profissional, a TI continua sendo vista como um campo onde a ajuda pode ser solicitada informalmente, sem considerar o custo envolvido. Esse custo não é apenas financeiro, mas também de tempo e energia. Muitos profissionais da área relatam que, ao precisarem de um serviço em outras áreas especializadas, como um aconselhamento jurídico ou uma consulta médica, são prontamente cobrados, muitas vezes sem descontos ou qualquer tipo de benefício pela relação pessoal. Esse cenário reforça o desequilíbrio: o trabalho do profissional de TI é tratado como algo menos valioso ou digno de remuneração.

Essa disparidade é um reflexo não apenas da falta de conhecimento sobre a complexidade do trabalho em TI, mas também de uma cultura onde a tecnologia é tão onipresente que se torna invisível. As pessoas não percebem que, para algo funcionar de maneira simples e intuitiva, há por trás um longo processo de desenvolvimento, manutenção e atualização realizado por profissionais altamente qualificados. Essa realidade se traduz no dia a dia desses profissionais, que muitas vezes precisam lidar com a pressão de atender a demandas pessoais e profissionais sem receber o devido reconhecimento.

O dilema se torna mais evidente quando o profissional de TI, em uma situação inversa, precisa de ajuda de um amigo advogado, médico ou de outra área especializada. Nesses casos, o serviço geralmente é cobrado, muitas vezes sem descontos ou qualquer consideração especial pela relação pessoal. Esse comportamento cria um sentimento de frustração entre os profissionais de TI, que sentem que sua boa vontade não é correspondida com a mesma generosidade.

Essa falta de reciprocidade não é apenas financeira; é uma questão de reconhecimento. O tempo e o conhecimento de um profissional de TI têm o mesmo valor que os de qualquer outro especialista. No entanto, o trabalho técnico é, muitas vezes, subestimado e tratado como algo que "não custa nada" para quem o executa.

Essa disparidade pode ser atribuída a alguns fatores culturais e sociais:

  1. Familiaridade com a Tecnologia: Muitas pessoas acreditam que, por viverem cercadas de tecnologia, as tarefas realizadas pelos profissionais de TI são simples e rápidas. O que elas não percebem é que o domínio dessas habilidades requer anos de estudo, prática e atualização constante.
  2. Percepção de Serviço Gratuito: Como muitas soluções de tecnologia, como aplicativos e softwares básicos, são oferecidas gratuitamente, há uma ideia equivocada de que o conhecimento técnico também deva ser acessível sem custos.
  3. Falta de Educação Digital: A carência de conhecimento sobre a complexidade de certos problemas tecnológicos contribui para a "subvalorização" do trabalho dos profissionais de TI.

A subvalorização do trabalho técnico pode ser ilustrada por uma piada antiga. Certo dia, um médico renomado levou seu carro a um mecânico. O mecânico, enquanto avaliava a supermáquina, disse ao médico: "Doutor, esse aqui é o coração do carro, esse é o pulmão, e esse aqui é o intestino. Então, me diga: por que o senhor ganha tanto mais do que eu, se ambos cuidamos de 'corpos'?" O médico sorriu e respondeu: "Ok, então conserte-o com o motor ligado."

A lógica do médico está correta. Na medicina, o corpo humano está "ligado" o tempo todo, e qualquer erro pode ter consequências fatais. No entanto, essa resposta não justifica subvalorizar o trabalho do mecânico. Afinal, se não fosse por ele, o médico não chegaria ao hospital com o conforto e a segurança de seu veículo. A analogia reflete bem o dilema dos profissionais de TI, cujo trabalho muitas vezes é invisível até que algo dê errado. Assim como o mecânico, o profissional de TI é fundamental para o funcionamento de sistemas e tecnologias que sustentam atividades em todas as áreas. Ainda assim, seu esforço é frequentemente tratado como menos importante, enquanto, na realidade, seu trabalho é indispensável para o sucesso e o conforto de outros profissionais. Essa analogia vale perfeitamente para os profissionais de TI e de como são tratados por parentes e amigos de outras profissões.

Para enfrentar esse dilema, os profissionais de TI podem adotar algumas estratégias:

  1. Estabelecer Limites: É importante definir claramente quando a ajuda será oferecida como um favor e quando será tratada como um serviço profissional. Isso pode ser feito com uma explicação educada, deixando claro que, como em qualquer profissão, o tempo e o conhecimento têm valor. Exemplo, em um churrasco de fim de semana quando alguém perguntar, "oi pode dar uma olhada no meu computador", a resposta pode ser: "Sim, claro, olho e faço um orçamento bom para você".
  2. Valorização Pessoal: Incentivar uma mudança de mentalidade entre amigos e familiares, ajudando-os a entender que a TI é uma profissão tão séria quanto qualquer outra e que exige respeito. E principalmente requer atualização muito mais do que qualquer outra área do conhecimento, nos dias atuais, 2025, quase que diariamente.
  3. Troca de Favores: Quando for possível, sugerir uma troca de serviços em vez de um pagamento em dinheiro. Por exemplo, um profissional de TI pode ajudar um amigo advogado em troca de uma consulta jurídica, quando for necessária.
  4. Educação e Sensibilização: Promover uma maior compreensão sobre o trabalho de TI na sociedade, destacando sua importância e a necessidade de remunerar adequadamente os serviços técnicos.

A importância da educação tecnológica desde o ensino fundamental não pode ser subestimada. Vivemos em um mundo cada vez mais dependente de tecnologias que tornam nosso dia a dia mais confortável e eficiente, mas, paradoxalmente, muitas pessoas desconhecem a complexidade por trás dessas inovações. Introduzir a educação tecnológica nas primeiras etapas da formação escolar é fundamental para criar uma geração mais consciente e preparada.

Quando crianças e jovens aprendem sobre os fundamentos da tecnologia – desde como um computador funciona até noções básicas de programação e segurança digital – eles desenvolvem uma compreensão mais profunda do trabalho necessário para sustentar o conforto moderno. Isso inclui tudo, desde a internet e os dispositivos móveis até ferramentas de automação e inteligência artificial. Essa consciência ajuda a valorizar os profissionais que tornam esse mundo digital possível, desmistificando a ideia de que a tecnologia "simplesmente funciona".

Além disso, a educação tecnológica estimula o pensamento crítico, a resolução de problemas e a criatividade, habilidades indispensáveis para o futuro do trabalho. Também forma consumidores mais conscientes, capazes de tomar decisões informadas sobre tecnologia e, consequentemente, de respeitar o esforço envolvido no seu desenvolvimento e manutenção. Um público mais educado em tecnologia será menos propenso a subestimar o trabalho técnico e mais apto a colaborar de forma produtiva com os profissionais da área. Em última instância, isso contribui para uma sociedade mais equilibrada, onde a tecnologia é compreendida não apenas como uma ferramenta, mas como um pilar fundamental que requer esforço e expertise para existir.

Os profissionais de TI são, sem dúvida, um dos pilares da sociedade moderna, garantindo que nossas vidas conectadas permaneçam funcionais. No entanto, sua contribuição muitas vezes é subestimada no âmbito pessoal, onde se espera que sua ajuda seja gratuita. O caminho para resolver esse dilema envolve educação, comunicação e o estabelecimento de limites claros, para que esses profissionais recebam o respeito e a valorização que merecem em todas as esferas da vida. Afinal:

Conhecimento tem valor – e isso é algo que deve ser reconhecido por todos.

Participação: "Envie suas perguntas e comentários! Adoramos ouvir suas ideias e sugestões sobre como podemos melhorar nossa news!!

francisco.garcia@difini.com.br


Confira a TV Humana, a WebTV dedicada a mostrar o "lado bom da humanidade". Como fundador, tenho o privilégio de colaborar com um grupo de amigos altamente talentosos e capacitado, criando conteúdo dinâmico focado em educação, entretenimento e cultura. Acesse www.tvhumana.com.br e confira meu programa semanal, "Papo na Cidade", onde converso com personalidades de diversos segmentos. Venha explorar conosco os aspectos mais positivos da vida!


💛 Gostou desta newsletter? Envie para os amigos com esse Link: Horizonte 21.


Mariana Fernandes

Especialista em Organização | Transforme o seu ambiente para ter mais produtividade e leveza | Organização para Residências e Empresas | Mudanças | Documentos | Atendimento presencial e online | Personal Organizer

4 d

Eu convivo com um profissional de TI e sem dúvida nenhuma atrás das cortinas eles são grandes heróis para todas as áreas das empresas. O diferencial deles em administrar muito mais do que possamos pensar é incrível e a não valorização muitas vezes é uma realidade. Grandes profissionais, e que merecem atenção, respeito e mais valorização.

Excelente abordagem. Vamos viver o extraordinário em 2025.

Julio Humberto Andaur Moya

representante legal y propietario..

4 d

Programa de integración y formación de empleos vocacionales Inscripciones abiertas ahora Perfil de la personalidad solamente CL $25000 (US $30) #orientacioneducacionaldocentespa #orientadoreducacionaldocentespa Juntos en la inclusión educativa social Reflexiones sobre la luz en las tinieblas Aprender a ayudar en la vocación de servicio Julioandaurmoya@gmail.com NIVELES DE ACCESO : 1 PERFIL DE LA PERSONALIDAD 2 CAPACITACIÓN 3 EMPLEO EN EL ÁREA TE ESPERAMOS PACIENTEMENTE EN SAN ANTONIO PUERTO CHILE PLANIFICAR Y HACER CONFIANZA CURSOS PARA EL EMPLEO INCLUSIÓN DE LA EXCLUSIÓN ACCESO

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Francisco de Assis Garcia

Conferir tópicos