Quando a pessoa é maior que a sua marca – minha experiência no D.O.M, de Alex Atala

Quando a pessoa é maior que a sua marca – minha experiência no D.O.M, de Alex Atala

Quando o Waze indicou a minha chegada ao destino, achei que o aplicativo tivesse me levado ao lugar errado. Nada naquele fim de rua indicava que o tão famoso restaurante D.O.M ficava naquele lugar. Em frente a uma loja com uma grande vitrine, o que se enxergava era apenas uma parede alta e escura.

Para tirar a dúvida, resolvi perguntar ao rapaz do Vallet se ali era o restaurante. Confuso, creio eu, por não ver estar acostumado a ver donos de carros como o meu frequentando o lugar, sua resposta foi: “Sim, mas você tem reserva”?

Só na saída notei que havia um pequeno letreiro sem nenhuma luz e com poucos centímetros quadrados indicando “D.O.M” na parede. Depois de passar pela grande porta – entre 3 e 4 metros de altura, acredito, também não se via a marca do restaurante em nenhuma parede da parte interna. Tudo ali era projetado para que as atenções ficassem aos pratos e à cozinha, visível através de paredes de vidro.

Quem vai ao D.O.M, como eu fui, está atrás de uma experiência gastronômica, uma busca por conhecer as comidas que fizeram tão famoso o chef Alex Atala. Quem vai lá sabe o porquê de estar lá, por isso não são necessárias grandes exposições da marca. Maior do que a marca D.O.M é a marca Alex Atala.

Também não há muitas referências ao seu nome no restaurante. Mas sua presença e liderança é marcante a todo o momento nos contatos com os garçons. “Esse ingrediente é escolha ‘do chef’”; “’o chef’ encontrou esse mel na Amazônia”; “’o chef’ valoriza as comunidades ribeirinhas” etc. Ninguém cita seu nome, mas nós sabemos quem é “o chef”.

Nessa onda de restaurantes “instagramizáveis”, nada ali parecia o local ideal para uma foto. Por isso, após pagar a conta, querendo guardar esse momento – quando comemorava o primeiro ano do meu casamento –, perguntei ao rapaz que me trouxe a maquininha de cartão se havia um lugar onde as pessoas costumavam tirar fotos lá. Seu olhar decepcionado para aquela pergunta tola veio seguido por uma resposta simples e direta: “as pessoas costumam tirar foto com ‘o chef’”.

Atala sabe do seu papel como marca e como relações públicas de sua empresa. Nos recebeu na cozinha com um grande sorriso, perguntou como havia sido a experiência e nos convidou a voltar. Ele sabe da importância desse papel de valorizar os clientes. Porque, no fundo, poucos estão ali pelo D.O.M – a maioria está ali pelo ‘chef’.

A valorização da comida brasileira

O menu servido fazia referência ao descobrimento do Brasil. Desde o primeiro prato – uma formiga (saborosíssima, diga-se de passagem) – até a sobremesa, tudo levava em conta os ingredientes utilizados por tribos indígenas no passado e no presente, comunidades ribeirinhas, enfim, sabores encontrados na nossa rica natureza.

Quando saí do restaurante, a primeira palavra que me veio à cabeça sobre a experiência foi “exótica”. Depois, não pude deixar de notar a ironia e a nossa falta de conhecimento próprio por achar exótica a nossa própria culinária. Nós não conhecemos os nossos sabores. E essa, talvez, seja a principal mostra do empreendedorismo de Atala.

Ele notou o quanto não valorizamos a nossa história e a nossa comida, se arriscou ao investir nisso e, hoje, leva pessoas do mundo todo ao seu restaurante – enquanto estive lá, vi um rapaz que viera de Dubai e aguardava a abertura de alguma mesa apenas para que pudesse conhecer o restaurante que já foi considerado o terceiro melhor do mundo.

Pode até ser que os estrangeiros saiam de lá com a falsa impressão de que aquele tipo de comida é tão brasileiro quanto o hambúrguer é americano, mas isso pouco importa. Hoje, a marca Atala talvez seja maior que própria culinária brasileira, pouco conhecida até mesmo entre nós. 

Adelane Rodrigues

Revisão Textual | Consultoria Linguística | Docência Superior

5 a

Samuel, adorei ler o seu texto do início ao fim e acompanhar a sua experiência!

Marília Néspoli

Gerente de Marketing | Geração de Demanda | Brandformance | Planejamento

5 a

Que texto incrível, Samuel. Fui transportada para lá com sua história. E curti muito a reflexão de como conhecemos tão pouco nossa própria gastronomia.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Samuel Gonçalves

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos