Quanto vale a sua saúde mental?
3, 4, 5 mil reais pagam a sua saúde mental?
Relutei para enxergar os danos, relutei mais ainda para escrever esse texto, afinal, na publicidade tudo é indicação, você pode se queimar com as agências, é melhor se calar do que correr esses riscos.
Mas preferi correr o risco e expor a situação que eu – e muitas pessoas passaram/passam – até porque: quantos preferiram se calar e não correr o risco de expor abusos?
Dois anos sem trabalhar devido ao nascimento da minha filha, primeiro emprego pós bebê – consegui me recolocar, ufa!
O primeiro dia foi conturbado, minha antecessora avisou um dia antes que estava indo embora e no outro dia tinha um evento com cliente que ela não iria. Perguntaram se eu podia ir: primeira oportunidade pós gestação, não podia me recusar. Fui às 7h para o evento, sem ao menos saber quem era o cliente.
Feriado estendido, fui trabalhar para tentar me familiarizar com os clientes. No primeiro dia, pós feriado trabalhei até às 22h40 (meu horário era até às 18h), mas estava tudo bem, afinal, era meu primeiro emprego pós gestação, não podia reclamar.
Em determinada situação, passamos por uma votação para escolher se ficaria no trabalho ou em home office, majoritariamente a equipe escolheu ficar em casa.
Foi combinado horário de almoço fixo para todos para não haver desencontros. Reuniões diárias para acompanhamento de status de trabalho e salários mantidos.
Começamos o home office, poucas pessoas estão acostumadas a trabalhar nesse sistema, então no começo consideramos normal a correria, as horas extras trabalhadas. Mas com o passar dos meses, o home office se tornou um grande pesadelo.
10, 12 horas de trabalho, sem horário de almoço, expediente que começava às 7h e terminava às 20h ou 21h, dependendo do humor da gestão. Final de semana? Trabalho! Feriado? Trabalho! Mensagem 00h ou 07h da manhã não era um problema.
“Mas eu nunca fiz isso, não sei fazer, não é da minha área” – “Não tem problema, aqui não tem escopo ou horário e, se tiver muito pesado para você, você avisa porque está pesado para todo mundo!”
“Estou trabalhando 12h por dia, consegui almoçar às 20h!”
Nessa altura, já com redução salarial, completamente compreensível devido ao momento. A redução era compreensível, mas a quantidade de trabalho “sem escopo ou horário” e a justificativa não. Pensa bem, vocês não gastam com transporte = economizam dinheiro, não gastam tempo de locomoção = podem trabalhar nesse período e ainda se alimenta em casa, o que é muito mais barato do que comer na rua, né?
Flavia, por exemplo, não precisa mais gastar com babá “essas mulheres são exploradoras né”, afinal, pode ficar em casa com a filha de 1 ano, disse pra mim, que trabalhava 12h por dia sem conseguir parar para almoçar, quem dirá dar atenção a um bebê de 1 ano. Vocês têm noção o quanto um bebê demanda? Sabe o que é ver sua filha e não poder parar para dar o mínimo de atenção ou suprir suas necessidades (que são muitas, já que ela é um bebê que não faz nada sozinha)? Tive que escutar isso.
A frase, claro, veio precedendo um “já preencheu seu timesheet hoje?” A marcação de horário era pesada, mas ele jurava que eu conseguia dar atenção para um bebê com cliente ligando, chefe cobrando timesheet, equipe pedindo ajuda e etc.
Em um momento que o mercado de trabalho está extremamente tenso, decidi pedir demissão. Aquilo não era vida, eu não conseguia fazer nada além de trabalhar. – O caos se instaurou –
Não deixaram eu me demitir, me prometeram assistente, processos, estrelas, Deus e o mundo. Devido o momento, aceitei. Uma semana passou, duas, três, na quarta recebi uma proposta! Fui até a gestão, pedi minha demissão novamente, afinal, nada do que me foi prometido aconteceu e eu enfim, consegui algo melhor.
“Mas você deveria ter avisado que estava participando de processos seletivos. Você não nos deu tempo para promover um assistente, você pode ficar, pelo menos, até sexta-feira?” Perguntou na segunda-feira, e eu disse que sim, afinal, sou responsável com meu trabalho e não queria deixar a equipe na mão. Criei um documento com tudo que era necessário para exercer a minha função, me foi prometido reuniões diárias para alinhar com a equipe como seriam os próximos passos sem mim.
Diariamente as reuniões eram canceladas, questionei e descobri que tudo aconteceria apenas na sexta-feira.
Para minha surpresa, no início do dia da quinta-feira fui removida de tudo. Perdi todos os meus acessos, junto com o documento que passei horas escrevendo e ninguém viu. Liguei e perguntei sobre respeito, empatia e consideração, a única resposta que recebi foi: “pensei bem e é melhor assim, mas caso seu novo trabalho não dê certo, eu te chamo pra um freela”. RS
Sabe qual foi o resultado de tudo isso? Uma equipe que não é de social media me mandando mensagem todos os dias, pois não sabia o que e como fazer, os clientes me mandando mensagem pois não sabiam o que estava acontecendo, eu desacreditada com mais esse absurdo, após meses de trabalho intenso (para não dizer que foi uma baita exploração) e a sensação de que, mais uma vez, meu trabalho foi jogado no lixo, sem nenhum reconhecimento, gratidão ou consideração, pelo menos, como já tinha sido anteriormente.
Depois dessa experiência, sai traumatizada. Tenho medo de passar por qualquer coisa parecida de novo, tive reações e problemas físicos devido ao estresse e o psicológico, acredito que não preciso dizer como ficou, né?!
Esse texto todo é para dizer: não vendam a saúde de vocês. Não está fácil para ninguém, eu sei, o mercado está um caos, mas dinheiro nenhum paga saúde física e muito menos mental. Valorize o seu trabalho e, principalmente, a sua integridade mental.
Gerente de Projetos, Produtora Gráfica, Executiva e Digital, Atendimento, Designer, Especialista em Relacionamento de Equipe e Empreendedora.
4 aCara Flávia, sinto muitíssimo por ter que passar por tudo isso, compartilho seu texto com certeza para que tenha maior alcance, é fundamental esse relato
Head de Contas na Agência Brocco | MBA em Gestão de Projetos USP/Esalq
4 aFla, pauta extremamente atual. Sinto muito que tenha passado por tanto. Parabéns pela força e coragem de compartilhar, todo o sucesso do mundo pra você!
Comunicação | Branding | Marketing
4 aExcelente texto e análise de uma - infeliz - realidade a qual muitos ainda passam. Que mais empresas saibam valorizar as pessoas e entender que tudo é por elas e para elas. 👏🏽
Account Manager | Marketing de influência
4 aEstamos juntas! 🙏🏽