Que falta faz um Ayrton Senna!

Que falta faz um Ayrton Senna!

Escrevo esse artigo olhando para uma miniatura da Mc Laren MP4/4, número 12, representando o campeão do GP de San Marino em 1988, também conhecido como Ayrton Senna. Te explicar a simbologia desse carro, envolto nessa corrida, lhe fará entender melhor porque Ayrton Senna faz tanta falta!


Senna estreia na Fórmula 1 no ano de 1984, no grande prêmio do Brasil do mesmo ano, competindo pela equipe Toleman-Hart, de não muita exposição, angariou pontos em 5 corridas, fechando o ano em 9ª posição. Entre 85 e 87, correu pela Lotus-Renault, saindo-se vencedor em 6 ocasiões ao longo de 3 temporadas.


Já em 1988, o jovem promissor se juntava ao veterano Alain Prost pela McLaren-Honda, equipe que prometia altos resultados naquele ano. A estreia para aquele ano era no Brasil, lugar perfeito para o jovem Senna demonstrar sua habilidade, a final não há lugar melhor para se ganhar do que em casa, o que era esperado pela mídia e por todos os brasileiros.


O esperado ocorreu, de certa forma, enquanto na classificação, Senna realizou os treinos de maneira excelente, angariando o primeiro lugar do Grid de Largada, enquanto Piquet amargava o 3º. Porém, antes da largada, o carro de Senna ficou parado, obrigando os pilotos a realizarem mais uma volta de apresentação, enquanto a equipe de Ayrton trazia o carro reserva para troca. Senna chega a largar, mas durante a prova, foi desclassificado, a comissão julgou ilegal a troca realizada. Com o melhor carro da temporada e sem seu maior adversário por perto, Prost não teve dificuldades para vencer.


A segunda corrida seria no GP De San Marino, contendo, lógico, muitas emoções. Com o vexame do GP do Brasil, Senna buscava se recuperar no campeonato e conseguiu a pole, seguido de Prost. Na largada, Senna manteve a ponta enquanto Prost caia de segundo para sétimo. Senna se caminhou para uma vitória tranquila, e venceu pela primeira vez pela McLaren.


É claro que toda a história de Senna não resume a esse fato, muito menos a histórica rivalidade entre Senna e Prost, que recomendo que um dia você leia sobre, mas o fato a ser trabalhado é: Senna não desistiu, assim como nunca desistiu: em sua primeira corrida que pontuou, foi direto pro hospital com espasmos musculares pelo corpo todo; ficou conhecido como o rei da chuva, pois em sua primeira corrida de kart em pista molhada, teve um péssimo resultado, o que o levou a treinar sempre que alguns pingos caiam em São Paulo; no GP do Brasil de 1991, em uma das voltas finais, percebeu que não tinha mais a terceira marcha, tentou engatar a quarta marcha, mas sem sucesso, a caixa de câmbio estava quebrada, terminou as últimas 4 voltas do percurso apenas com a sexta marcha.


Senna foi o mestre das entrevistas marcantes, todos os canais de televisão e jornalistas gostavam de entrevistas Ayrton Senna pois era uma personalidade que sempre tinha uma frase de feito, algo que fosse até meio clichê, mas que causava e caberia perfeito como chamada de matéria. Senna faz tanto parte do imaginário popular, que nasci em novembro de 94, 6 meses após sua morte, e isso não me impediu a lhe admirar, em me emocionar com as reprises domingo de manhã, em me interessar pelas entrevistas que assistia pelo YouTube e muito menos deixar de ser impactos por suas frases de efeito, seja elas vistas em reprises, internet ou revividas por comerciais.


Senna representa o que um ídolo verdadeiramente é, alguém entregue a um propósito sem medo de errar, ciente do seu potencial e fielmente ligado a aquele objetivo, considerando sim, todas as adversidades, assumia os percalços que tinha pelo trajeto, sem acusar um ou outro, simplesmente internalizava o que era desafio e o vencia, com determinação, um boné da nacional e entrevistas marcantes ao Globo Esporte.


Impossível viver no Brasil e não ouvir “crise moral, política, econômica e/ou social sem precedentes” ou alguma coisa semelhante a isso, vivemos preso a um sistema que não muda, um jogo em que há muito já se sabe as regras e mesmo assim não conseguimos mudar. Os anos 90 vem com a esperança de renovação, a redemocratização após 20 anos de amarras dos militares revive a esperança em tempos melhores, tudo isso jogado ao chão com os planos cruzados do Sarney e a maluquice que foi o Governo Collor.


Hoje passamos por tempos sombrios e semelhantes, ou você não leu as notícias em que é possível repetirmos o quadro do segundo turno de 1988 nas eleições presidenciais de 2018?


Eis aqui que entra a figura de Ayrton Senna, uma pessoa que nunca foi político, nunca ocupou um cargo público ou concorreu a nada, simplesmente foi ídolo por seu trabalho, por sua dedicação e entrega. Um mero símbolo, uma mera homenagem, em balançar a bandeira do Brasil a cada prêmio vencido era uma lembrança, eu lembro de vocês, sou o mesmo que vocês, assim como eu pude, você também pode, basta apenas creditar.


Nos faltam ídolos pois não temos em que mais acreditar. Todo país recebe um processo de formação nacional em base de mitos, cultura e figuras histórica, os pais fundadores representam o nascimento dos EUA, mas o que representa a formação do Brasil? A República até que tentou estabelecer alguma conexão, mas foi falha.


Uma pessoa reconhecida que sempre figurava nos noticiários como frases impactantes que realmente chegavam naquilo que mais nos afeta era a saída que todos procuravam e necessitavam. Ainda existem alguns desprovidos de inteligência que dizem que Senna não foi isso tudo, que Schumacher conseguiu muito mais em muito menos tempo, mas não era somente resultados que Senna trazia aos brasileiros, era esperança.


Não temos mais ídolos, e por tal, não temos mais esperança, nos falta alguém para acreditar, confiar e apesar de tudo, ainda há algo de bom reservado no final. É a esperança reservada numa figura pública, porém simples, que fala olhando para a câmera em palavras simplista, de forma que qualquer um pode entender. A falta que Senna faz é de pessoas que não olham somente para o próprio umbigo, que não falam isso não é problema meu, ou isso é de outra área; faltam pessoas que saibam o papel que exercem estando na mídia todo dia, e pouco se importam com o rumo que as coisas estão tomando.


A falta de Senna é a inexistência de uma voz de razão e coerência no meio de todo esse caos.


Pode ser segunda-feira de manhã, em que você pega aquele ônibus lotado, senta no seu cubículo velho e mofado, com a mesa cheia de relatórios para entregar, salário atrasado ou metas sem cumprir, e apesar de tudo isso, ontem um brasileiro venceu uma corrida, fez questão de balançar nossa bandeira e te emocionar com o hino da vitória.

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