Que idade você se daria se não soubesse a idade que tem?

Que idade você se daria se não soubesse a idade que tem?

A pergunta é normalmente atribuída a Satchel Paige, um jogador americano de beisebol, que competiu até uma idade bastante avançada, diante da inconformidade de um repórter frente à longevidade do atleta.

Nos últimos tempos as pessoas vêm se apercebendo que a idade cronológica é mais importante para os outros do que para si próprias. Quando você acorda pela manhã e se olha no espelho, quem você vê? Essa é a idade que você têm mas não necessariamente a idade que os outros acham que você tem. 

O problema disso tudo é que a publicidade, o marketing, comunicadores e formadores de opinião se baseiam largamente em estereótipos criados pelos filtros mentais das pessoas e não como de fato os maduros são.

Na parte superior da imagem que ilustra este artigo estão as fotos de casais de 60 e poucos anos que a mídia considera como idosos, de acordo com pesquisa feita no Google.

Não sei sua idade mas eu tenho 64 anos e a maioria dos meus amigos, conhecidos e contatos profissionais estão na faixa dos 50 a 70 anos. Esse grupo etário representa 73% de toda a população 50+. 

Olhe agora as fotos que estão na parte inferior da imagem. Comparado comigo mesmo, e com as pessoas que eu conheço, essas fotos de pessoas 50 - 70 anos estão muito mais próximos a mim e da realidade que eu vejo em volta de mim.

A mídia continua trabalhando com a imagem estereotipada de um sujeito velho, caído, doente, afastado do convívio social, improdutivo, agregando pouco à sociedade e essencialmente vivendo para os netos ou para nada. Essa imagem era verdadeira 40 ou 50 anos atrás. A realidade atual é bastante diferente.

Pessoas maduras trabalham até bem além da idade da aposentadoria. Tem gente montando startups a suando a camisa com a mesma energia de um garoto de 20 anos. Muitos se tornaram escritores, consultores, conselheiros ou simplesmente trabalham da maneira que der para trabalhar, mesmo que informalmente

Muita gente casa e reconstrói a vida afetiva após os 60 anos. E alguns tem filhos, caso de um ex-colega de faculdade que se uniu a uma mulher mais jovem e está feliz da vida com um bebê em casa. Maduros vão estudar e iniciam segundas ou terceiras carreiras. 

E como se não bastante tudo isso, gente na minha faixa de idade está se vendo frente ao desafio de cuidar de si ao mesmo tempo em que cuida de pais bem idosos, dá uma força para os filhos quando eles precisam e tomam conta dos netos quando os filhos saem para se divertir a noite. Convenhamos, pessoas “acabadas” não teriam energia para tudo isso

Os estereótipos afetam mais do que apenas a publicidade e a midia. Impactam, e muito, o mercado de trabalho, gerando o famoso idadismo - preconceito profissional contra pessoas maduras. O idadismo é um desastre cultural e um risco tremendo para a saúde econômica do Brasil. 

Os dados demográficos do censo 2022 que o IBGE acabou de divulgar mostram que pessoas acima de 50 anos representam 28% da população, enquanto a turma “produtiva”, entre 20 e 49 anos, representa 45%. Como o desemprego é altíssimo dentre os maduros, a conclusão natural é que os empregos existentes estão sendo largamente ocupados pelos adultos jovens.

O mesmo IBGE projeta a população para 2050. Nesse ano, a população entre 20 e 49 anos terá encolhido 12 milhões de pessoas em relação a hoje. E a população acima de 50 anos terá se expandido em 44 milhões de indivíduos. Olhando pela ótica profissional, a faixa etária 20-49 representará 37% da força de trabalho disponível, enquanto os maduros 50+ representarão 42%. 

Daqui duas décadas, os maduros ocuparão um espaço no mercado profissional igual ao dos adultos jovens. Isso não é especulação. É um dado que impacta a vida do país como um todo, da necessidade urgente de políticas públicas focadas na educação adulta continuada até o padrão cultural do brasileiro, que continua achando que o país é jovem e lugar de maduro é no sofá. 

A imagem projetada do sessentão acabado não apenas está totalmente desconectada da realidade atual como joga contra a necessidade de se preparar a sociedade para um mundo onde pessoas com 65 anos, gozando de boa saúde e com expectativa de vida acima de 100 anos, serão jovens. 

Independente do que diz seu RG, amanhã de manhã, ao se levantar, olhe no espelho da sua alma e veja sua idade interior. Você vai se ver como uma pessoa a caminho de se encolher em um sofá? Ou irá se ver como de fato é: uma pessoa muito longe de pendurar as chuteiras, cheio de energia, sabedoria, experiência, ideias, sonhos, propósitos e fogo nas tripas?

Lembre-se: você é tão velho ou jovem quanto se sente, tão velho quanto as suas dúvidas e medos, e tão jovem quanto suas esperanças e desejos .

Age is a question of mind over matter. If you don’t mind, it doesn’t matter”

Essa foi essa a resposta que Satchel Paige deu ao jovem repórter, lá no remoto ano de 1965, a caminho de jogar mais uma temporada profissional de beisebol aos 59 anos de idade.

O Observatório da Longevidade é uma instituição com 29 anos de mercado, focada em prestar serviços de consultoria estratégica e mercadológica (estudos estratégicos de mercado, clusterização, perfil de consumidor, estratégias de penetração, canais de distribuição, branding e gestão de marcas, etc) baseados em pesquisas e informação proprietária. Recentemente criamos o Instituto Observatório da Longevidade, um Think Tank que estuda a Economia Prateada e a interseccionalidade entre longevidade e quatro outros vetores de inclusão: afrodescendentes, lgbtqia+, PcDs e universo feminino. Visite nosso site: observatoriodalongevidade.com.br


Cláudia Lopes Pires

Mentora e Palestrante | Especialista em Psicologia Positiva pela PUCRS | O Poder da Autotransformação | Método Master Voice

1 a

Uau!! Bem assim!! Muito gratificante ler seu texto, Fábio! Parei para refletir e sinto que tenho muitas idades dentro de mim, conforme momentos e circunstâncias posso tanto me sentir com uma criança com total esperança e alegria do momento, como uma jovem iniciante na vida, com medos e inseguranças e ávida pelo novo, como uma mulher madura enfrentando desafios no dia a dia, como uma anciã aproveitando a sabedoria gerada por tantas experiências na vida, com a maestria vinda dos erros e os suportes dos acertos. E aos 51 anos iniciando nova fase de vida, dando aquele salto no vazio para realizar um sonho, com total entusiasmo e vitalidade. Bora crescer juntos caros colegas 50+!! É simplesmente a segunda e belíssima fase da vida que está só começando!! E muito obrigada, Fábio, por me ajudar a ver isso e acender essa chama em mim!

Andrea Biar Bertolucci

Diretora de Marketing | Gestão de Marca | Comunicação | Eventos | Inovação

1 a

Parabéns Fabio Nogueira pela análise perspicaz sobre o etarismo. Passamos da hora de mudar esses esteriótipos!

Viviane Palladino - Ela/ Dela

Melhorando vidas através da tecnologia - Empreendedora em EduHealth de inclusão digital & Consultora, mentora de Marketing e Inovação

1 a

Parabéns pelo texto, Fabio. Bastante real. Também me identifiquei muito porque, quando planejamos a Mais Vívida, um dos nossos primeiros incômodos e questionamentos, que nos fez despertar para este mercado, foi uma breve pesquisa no Google similar a que você menciona aqui. É muito simples perceber o equívoco, o difícil é resolvê-lo. O modelo da Mais Vívida é uma das formas.

Hellen Morais

Jornalista | ESG | Expert em Inovação, MKT e Comunicação | Ajudo sua empresa a se reposicionar e implementar cultura e governança eficazes de sustentabilidade

1 a

Concordo com cada palavra!

Marcia Barreto

CEO UinStock I UinHub I Forbes BLK 2023

1 a

Fábio adorei seu artigo. Preciso te apresentar o UinStock. Parabéns!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos