Queima
Quando comecei no atletismo (isso há mais de 30 anos), tinha o sonho de um dia participar da famosa Corrida de São Silvestre de São Paulo, como a maioria dos atletas. Para quem não sabe, o nome da corrida – disputada pela primeira vez em 1925 – homenageia o santo do dia, São Silvestre, aliás, o Papa Silvestre, morto nesse dia no ano 335 (imagino que todos devam saber, papa que morre vira santo). Não consegui participar; por circunstâncias variadas, corri muitas “São Silvestre”, em diversas cidades do interior paulista, mas nunca a da capital.
Na época, a principal característica dessas provas era passar a virada do ano correndo, então a largada era sempre depois das 23:00h; logo após a chegada, corríamos para as TV’s a fim de conferir quem tinha vencido na Avenida Paulista. Com o tempo, as corridas do interior mudaram seu horário para permitir que os atletas também assistissem a célebre disputa internacional... No fim, a São Silvestre original também mudou seu horário, não sei exatamente por qual motivo; talvez para não ter que disputar os holofotes com as cada vez mais concorridas queimas de fogos... E foi assim que se perdeu completamente a magia que a expressão “São Silvestre” tinha em minha vida e na de muitos conhecidos meus...
Nunca fui muito fã desses shows pirotécnicos. A chegada das corridas em cidades do interior sempre acontecia em uma praça central, geralmente com coreto e chafariz, e quase sempre arborizadas; na manhã seguinte víamos espalhados pelo chão da praça os pombos e pardais mortos no foguetório... Quem tem animais de estimação também já viu o stress dos pobrezinhos, desesperados e sem entender o que está acontecendo.
Sei da estimativa feita pela Riotur, de que o Rio de Janeiro deva receber 2,7 milhões de pessoas no Réveillon, de que a economia carioca seja engordada em R$2.2 bilhões, de que a festa de Copacabana seja apenas o pontapé inicial de um programa que visa aumentar o fluxo de turistas em 20%, gerando 170 mil empregos em 2018 e injetando R$6,1 bilhões na economia...
Mesmo assim, em um cálculo rápido concluí que no Brasil, logo mais à meia noite, serão queimadas mais de 2000 Toneladas de fogos... Não consegui fechar o custo disso, mas sei que atingirá facilmente a casa das centenas de milhões de reais, queimados basicamente para que pessoas olhem todas para o mesmo lado na virada do ano, por um pouco menos de meia hora.
Sei também que não tem a ver exclusivamente com os fogos, mas vale lembrar que há exatamente 29 anos, 150 pessoas fizeram exatamente isso... Foram todas para o mesmo lado ansiosas para ver a queima de fogos, e com isso desequilibraram o excesso de peso a bordo, fazendo virar o Bateau Mouche IV, que naufragou na Baía da Guanabara, entre a Ilha de Cotunduba e o Morro da Urca. 55 delas morreram ali.
(Pedro Costa)
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Este Artigo foi publicado originalmente em www.pedrolcosta.com.br