Queimando pontes...
Prestes a completar dois anos de mandato, é importante que traçemos um painel sobre o que foi o governo Bolsonaro até o momento. Primeiro, faremos uma análise dos movimentos do presidente na política, depois, tentaremos encontrar elos da gestão Paulo Guedes na área econômica.
Na política, são váriados os "fios desencapados". A começar pelas várias movimentações erráticas do presidente em busca de apoio, sua saída intempetiva do PSL, seu esforço fracassado de fundar um novo partido, o "Aliança pelo Brasil", enfim, sua total inapetência para a construção de pontes, para uma maioria "folgada" e poder tocar sua agenda de reformas ou projetos. Acabou ele totalmente refém do deputado Rodrigo Maia, do DEM, presidente então da Câmara dos Deputados. Muito se comenta que se trava aqui uma "luta surda", visando 2022, já que são correntes as opiniões dos que acham que Maia também tem pretensões para 22.
Vários foram os embates e desencontros, com boa parte da agenda do Paulo Guedes, meio que obstruída por Maia. Claro que com a pandemia as prioridades se tornaram outras, mas hoje estão paradas nos escaninhos do Parlamento, as Reformas Tributária e a Administrativa do ministro Guedes, já sabendo que acabarão descaracterizadas pelos deputados, assim como foi tudo enviado ao Congresso.
Isso, aliás, causa desconforto. Ao longo destes dois anos, tanto Guedes, como Sergio Moro, ex-ministro da Segurança e Justiça, em pesadas agendas, antes com pretenciosas ambições, medidas essenciais, acabaram frustradas, esquecidas pelo caminho.
Eram "constantes" as batalhas nas Comissões do Senado e da Câmara, e estes dois ministros (Guedes, teimosamente, continua), acabavam pelo caminho, "massacrados" por Deputados e Senadores das esquerdas (ou nem tanto, dada a timidez dos situacionistas).
Afinal, onde estava o PSL, então partido do governo, nestes momentos cruciais? Por que os deputados se omitiam em temas tão essenciais e delicados?
Lembremos que Jair Bolsonaro foi eleito e obteve ampla maioria na Câmara, onde o PSL obteve maior número de deputados, e boa margem de manobra no Senado. Tanto o "Pacote contra o Crime", de Sergio Moro, como a extensa agenda de reformas do ministro Guedes, acabaram praticamente inviabilizados, ora pelo comportamento errático do Bolsonaro, ora pelo baixo apoio da troupe, pela sanha destruidora dos oposicionistas.
A reforma da Previdência, por exemplo, foi muito desidratada, se tornando uma "caricatura" do que se pretendia. O regime de capitalização acabou abandonado, assim como variadas medidas, como a transição de regimes, e mudanças nos regimes previdenciários dos servidores públicos e dos militares.
E o que dizer da Reforma Tributária, não saindo do lugar, embora já nas gavetas do Congresso?
Claro que aqui observamos um embate entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cioso dos seus interesses, pouco claros, e o Executivo.
E não poderíamos esquecer dos "ataques" do presidente ao "teto dos gastos", já pensando neste ano de Pandemia e sua resistência ao terminar com o subsídio emergencial. Será que em 2021 ainda teremos este subsídio?
Poderíamos ainda enumerar a atuação do presidente, em confrontação à esta pandemia. Por que negar o que o mundo observa como verdade científica? A prevenção terá que vir pela vacina e esta não tem nacionalidade. Não é chinesa, russa ou americana. Será aceita a mais eficaz. Ponto final.
Além disso, num primeiro momento, diante do desconhecido sobre o virus, não restava aos governos outra saída a não ser o isolamento social. Em Portugal, por exemplo, me chamava atenção a coordenação do primeiro ministro, Antonio Costa, junto ao presidente, Marcelo Rabelo e o Parlamento da República, no combate ao Covid19. Há, de fato, uma simbiose entre estes atores pelo interesse nacional, de preservar vidas e combater o virus. Não havia outra alternativa, a não ser a higiene e o uso de máscaras, assim como o evitar de aglomerações, e os recolhimentos depois de certo horário. Não podemos brigar com os fatos e negar o risco aí embutido. Bolsonaro, no seu delírio permanente, nunca deu maiores atenções a isso. Sempre considerou este vírus uma "gripezinha", segundo o próprio.
Importante destacar seu comportamento temerário, até porque ele é uma espécie de "farol da República". Seus atos e decisões reverberam, ganham destaque, positivo ou negativo, mas é inegável o alcance das suas palavras, considerações, decisões. Nada passa incólume.
Bolsonaro, no entanto, sempre tratou de testar os limites e esticar as cordas. Deu no que deu.
Chegamos a 170 mil mortos pelo Covid19 e acreditem, ainda não acabou!
Vamos observando...