Quem é você quando está sem audiência?

Alguns dias atrás, assisti um trecho do especial chamado Make Happy do cantor e comediante Bo Burnham, que está disponível no Netflix. 

Nesse pequeno trecho, o artista fala sobre como as redes sociais são uma reação do mercado de mídia ao fato de que as gerações atuais são altamente focadas em auto expressão. Ou seja, as redes praticamente cultivam e ensinam, diria até forçam essas pessoas a performar para o outro diariamente, o dia inteiro.

Conteúdo é criado com o propósito específico de chamar a atenção. Performances que, se formos pensar nos chamados influenciadores, significam inclusive saber exatamente qual pose fazer e qual roupa usar para ganhar aquelas desejadas curtidas.  

Mas quem são essas pessoas quando estão sem audiência? 

Em sua famosa teoria, o psicanalista, pediatra e psicanalista britânico Donald Winnicott, afirmava que os adultos mais felizes são aqueles que foram capazes de expressar seu eu verdadeiro quando crianças. 

Sim, se lembra quando você se expressava sem considerar a opinião dos seus pais ou amiguinhos? Você chorava ou gritava quando estava triste, cantava músicas sem sentido enquanto comia seu lanche favorito, brincava livremente com o que gostava não porque um par ou autoridade te falava que era legal montar um forte apache. Você estava verdadeiramente interessado. 

O falso eu é aquela mascara que criamos para agradar nossos pais, professores, amigos, e nossos seguidores no Twitter, Facebook, Instagram. 

Indo um pouco mais longe, o TED da Dra. Brené Brown sobre vulnerabilidade fala um pouco mais sobre esse caminho para a autenticidade.  

Apesar de pensarmos que estamos mais solitários quando estamos vulneráveis, a pesquisa de Brené Brown mostra exatamente o oposto: vulnerabilidade é o primeiro passo para nos sentirmos plenos. Na verdade, a chave para uma vida plena e feliz, é exatamente derrubar essa ideia de perfeccionismo, derrubar a nossa expectativa de como o outro nos enxerga, derrubar a necessidade de um feedback o tempo todo, para que possamos, de fato, ser criativos e viver em autenticidade. 

Então minha sugestão de hoje: passe algumas horas off-line, sem audiência, inclusive de clientes e colegas de trabalho que não se lembram mais quando é dia e quando é noite. Quem é você quando ninguém está olhando?