Quem é você?
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Quem é você?

Isso aqui é sobre comunicação, e o modo de começar diz muito. Centenas, milhares, milhões, bilhões de pessoas assistindo ao espetáculo que sai de seu exterior... comédia, terror ou drama?

É hábito dizer que o que há dentro de si é o que importa, afinal é o tipo de frase que cai bem tanto no jantar de negócios quanto no encontro casual, passando pela sinuca no bar. Volto ao título: quem é você?

Lembra do barco de Teseu? no final das contas, o que importava era o conceito do barco, baseado no itinerário, ou a materialidade do próprio? Que belo embate entre Hegel e Marx, se estivessem vivos para ver isso!

Talvez valha a pena produzir um spin-off do velho conto do barco, colocando, agora, um observador numa ilha bem no meio do caminho. Ele reconheceria dois barcos ou um barco apenas? O que eu sou, afinal de contas, não é o que eu sou em relação a alguém? Aqui, como alhures, as coisas clamam por especialistas... que venha Newton e Einstein, pensar sobre sistemas físicos que até hoje falhamos em compreender na essência. Que venha Planck e a horda dos quânticos para complicar ainda mais o problema.

Tal qual relatividade e física quântica, eu interno e eu externo duelam dia e noite, sem paz, sem trégua, sem cessar-fogo. A única certeza, talvez, é a de que não há essência alguma, e estamos é a procura de um bom fantoche para fazermos de divindade. Que será de nós sem ele?

Putos da vida tanto quanto estamos nesta pós-modernidade de identidades diluídas, ficaremos quando chegarmos à singularidade tecnológica, fazendo máquinas descobrirem a própria essência, mas ainda sem descobrir a nossa. Será que o basilisco de Roko dará fim a tão angustiante pergunta? Não se esqueça de alimentá-lo.

No fim das contas, queremos é descansar de existir, mas isso é impossível, mesmo enquanto dormimos. A hipermodernidade "beira do abismo" tornou a existência um abacaxi insuportavelmente difícil de descascar. Não dá mais pra saber se a religião salva ou se salvamos na memória interna ou na nuvem. Já era. O que falta pra nós, fartos? IoT, a internet das coisas, como se já não tivéssemos coisas insuportáveis o suficiente poluindo nossa visão.

Voltar às raízes como, se nem as raízes sobraram? Tornamo-nos a forma mais engajada de construção sem alicerce, inveja dos modernistas cá e lá, sem porém uma sombra sequer de postura. No final, temos que assumir: falhamos.

Quanto ao ser, a resposta parece saltar aos olhos, ainda que intragável: é uma mentira que somos o que temos por dentro. A verdade: você é o que você comunica. Comunique-se melhor.


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