Quem (ainda) tem coragem de vender para o governo?
Com a crise instalada na casa e na vida de milhões de brasileiros, agora que é passada a eleição municipal, o monstro da recessão mostra sua cara mais horrenda.
Governos estaduais e municipais começam a entrar em default. Trocando em miúdos, estão próximos da falência.
Quando uma empresa entra em falência, fecha-se o empreendimento, faz-se a fila dos credores, que em geral incluem o governo (impostos e taxas), bancos (empréstimos), fornecedores e empregados. Feitas as contas do que se pode arrumar vendendo patrimônio e os créditos a receber, paga-se o que der a todos e fecha-se o barraco. Em geral, os últimos da fila, e que ficam no chamado "ora veja", são os fornecedores.
Por isso os fornecedores organizados, fazem a medição do risco de vender para esse ou aquele comprador. Esse risco é assumido (ou não) e influencia no prazo de pagamento, na taxa de "custo financeiro associado", peso e número de parcelas, etc.
Quando a falência é do estado, a coisa é um pouco pior.
Dívida de governo com governo é resolvida pela via política. Os trabalhadores agasalhados na proteção mais que especial do estado, os barnabés, podem até sofrer com atrasos de proventos e pensões, mas vão receber o que se lhes deve e não estão ameaçados de perder o emprego. Quem vai ficar no "ora veja" de novo e numa condição bem pior, são aqueles personagens conhecidos pela alcunha geral de "fornecedor".
No Brasil, quando um pedido chega no setor de venda, a primeira cosia a fazer é consultar o SERASA. Óbvio, para saber se o comprador é ficha limpa, se e quanto e a quem está devendo na praça.
Mas no SERASA não aparecem os órgãos do governo, administração direta e indireta. Sobre esses compradores, as informações disponíveis estão nos jornais, nas redes sociais, no boca a boca do mercado.
Recentes decisões de tribunais de justiça têm obrigado os governos estaduais a raparem os cofres para pagarem os funcionários e aposentados da máquina pública. Essas "rapadas" nas contas bancárias dos estados avançam até em dinheiro de programas viabilizados com empréstimos internacionais, como combate a doenças e saneamento básico.
Não importa se há valores a pagar para honrar fornecimentos de merenda, de medicamentos, de insumos hospitalares como bisturis, manutenção de helicópteros da policia, combustível de ambulância, máquinas de raio x, papel higiênico ou seringas descartáveis. Esqueça. É conta de fornecedor? Por favor, volte no ano que vem.
A máquina pública vai parar, pois pagando só salários, não vai haver fornecedor que se atreva a vender para um cliente que sabidamente não vai pagar e é incobrável. Deixa de ser risco e passa ser suicídio.
Os desdobramentos dessa situação estão agora se mostrando mais e mais cruéis e a sociedade toda vai, sem piada pronta, "pagar" pelos erros políticos.
A solução?
Exatamente como fazemos em nossas fábricas, quando aplicamos ferramentas de análise de causas de falhas, é importante conhecer as consequências para se chegar ao objetivo maior que é definir a causa raiz. E a causa raiz deste imenso está onde tudo começou: na política.
A solução desta fantástica roda do infortúnio, caro amigo, será política.
Onde você entra?
Se a análise de causa raiz for até onde deve ir, no último Porque?, você descobrirá que a causa maior disso tudo é de uma pessoa bastante conhecida: você.
Sim, você. Você, seus pais, filhos e irmãos. Seus amigos. Seus conhecidos, vizinhos. Eu também. Toda essa turma que de dois em dois anos assume o papel de eleitor.
Comecei falando de crise, falência dos governos, etc., e termino falando de cidadania.
De fato, quem voto fere, com voto será ferido. O bumerangue volta com força.
Em muitos lugares ainda temos segundo turno. Por algum lugar temos que começar.
Pense nisso.
Abraços
Paulo Walter