Quem disse que mudar é bom?
Nos anos 1990, período arrebatado pela abertura dos mercados e pelos projetos de qualidade total e reengenharia (como instrumentos de sobrevivência organizacional), funcionário bom era aquele que se adaptava às mudanças. Até então, as pessoas trabalhavam muitos anos fazendo as coisas da mesma forma e, de uma hora para a outra, estava tudo errado.
Com a revolução tecnológica, a mudança passou a ter ciclos de transformação cada vez menores. O sentimento de inconstância passou a ser permanente, gerando, muitas vezes, uma sensação de angústia pela dificuldade de adaptação. As pessoas começaram a sentir que as mudanças propostas não eram boas para todos e por todo o tempo.
O ser humano se caracteriza por uma impressionante capacidade de se adaptar às condições novas que se apresentam, mas é fato que uma mudança não é boa por si só. Ela é mais aceita quando a situação futura proposta é melhor do que atual. Mesmo que ela seja percebida como igual (considerando vantagens e desvantagens), a pessoa pode querer permanecer numa condição conhecida e resistir ao novo.
Normalmente, o que acontece nas empresas é que a situação atual é insustentável e aí qualquer mudança é melhor porque não há como retornar. Muitos profissionais se agarraram a essas cordas por falta de chão firme, lançando-se em outras jornadas sem opção. Eu aceito o inevitável, mas não me comprometo. E a comunicação corporativa tratou de "vender" a mudança como coisa de gente preparada e bem-sucedida, que não tem medo do futuro.
O resultado, muitos sabem, foi o fracasso dos projetos de mudança. Novos processos, estruturas menores, com gente descompromissada, despreparada e pensando de maneira antiga. Não deu certo.
Hoje o cenário é ainda mais inconstante. A incerteza parece que se transformou num valor de referência. É preciso considerar fazer diferente a cada momento e o certo tem período curto de validade. Nos sentimos desconfortáveis em trabalhar assim, mas tratamos essa realidade fazendo parecer que o sucesso passa por aí. Somos "descolados".
Não sei se a mudança que vem por aí é boa, mas devo estar preparado para o desconhecido. E achar tudo muito bom.
Considere construir um plano estratégico pessoal e profissional, que deve prever uma rota principal e outra, alternativa. Desenvolva-se constantemente para não ser pego de surpresa. Também nunca se acomode com a situação atual, por melhor que ela lhe pareça. Esteja atento aos sinais de fumaça.
Quem propõe a mudança também tem muita responsabilidade pelo sucesso da iniciativa. Para gerenciá-la, comunique-se de forma transparente com as pessoas envolvidas (identifique a situação de cada um no processo, porque as expectativas serão diferentes, e os argumentos, também). Não existe um discurso único para a mudança, porque as pessoas não são iguais.
Analise o ambiente, palco da mudança. Reconheça as experiências passadas e qual o impacto das expectativas para a construção de um novo cenário. Destaque o que vai melhorar na nova situação e o que vai permanecer, ancorando o processo em algumas condições que já são conhecidas. Planos de prêmios e compensações podem ser utilizados para minimizar resistências.
Mudar de série, mudar de casa, mudar de emprego, mudar de vida: as mudanças de alto impacto exigem um esforço das pessoas envolvidas. Elas chegarão, sem dúvida, e procure estar preparado.
Consultor Associado na Analítica Comunicação
8 aCamila, com a crise que vivemos nestes tempos, eu percebo nas empresas um ambiente de muita insegurança em relação ao que vai acontecer. Uma condição de muito estresse porque as pessoas têm que ficar ligadas 100% do tempo. Obrigado pelo comentário.
Social Media Senior Lead @ Kyndryl
8 aMuito boa a sua reflexão, Eduardo. Trabalhando há um tempo em uma companhia em que mudança e transformação têm sido constantes, lido muito com a incerteza e o desejo de que seja sempre para melhor.