Quem mais faz é quem faz mais
A frase do título era muito usada pela minha tia-avó Margarida. Naquele teor de que, se você precisa de uma ajuda, deve pedir à pessoa mais ocupada da turma. Quem é realizador dá um jeito, arruma uma alternativa, encaixa na agenda e faz acontecer. Quem procrastina, arruma mesmo é uma desculpa. Pode ser um reforço de estereótipos que não abre oportunidades para aqueles indivíduos menos proativos? Certamente! Porém, é uma realidade habitual nos ambientes que frequento.
Em nossa vivência com educação corporativa notamos, ao longo dos anos, uma necessidade cada vez mais explícita de realização. As demandas para treinamentos organizacionais costumam vir com recomendações expressas como: precisa ter mão na massa, não me venham com muita teoria, eles precisam partir para a prática e exercitar casos reais, a turma deve “tirar a bunda da cadeira”. Fica na entrelinha o entendimento de que as teorias já são, minimamente, bem conhecidas. Pelo menos o suficiente para embasar ações consistentes. Ou deveriam ser.
No livro “Execução: a disciplina para atingir resultados”, Larry Bossidy e Ram Charan sustentam a tese de que a execução passa longe de ser apenas o aspecto tático ou operacional da estratégia traçada - ela deve ser uma disciplina, internalizada como parte integrante e indissociável da estratégia.
Os autores são taxativos ao afirmar: “a menos que você traduza as grandes ideias em passos concretos de ação, elas são inúteis. Sem execução, a ideia inovadora se esfacela, a aprendizagem não agrega valor, as pessoas não cumprem suas metas ambiciosas e a revolução morre na praia”. A boa e velha obviedade que precisa ser lembrada, pelo menos de vez em quando!
Quando o tema é aprendizagem, precisamos nos orientar aos nossos reais objetivos – dentro das organizações, de que vale especialistas catedráticos que não convertam conhecimento em performance? Muita argumentação, sem conversão de vendas? Grandes teses sobre filosofias de gestão, que não reflitam na melhora do clima? Desenhos complexos sobre experiência do usuário, sem entrega efetiva de satisfação? Teorias sobre ciclo longo de vendas, sem ampliação das margens de contribuição? No frigir dos ovos, os resultados importam – e muito!
Não defenderia, jamais, que os fins justificam os meios. Claro que as organizações, cada vez mais, precisam alcançar seus objetivos – financeiros, inclusive – por meios coerentes e práticas sustentáveis. Como cooperativistas que somos, a exigência para cumprir tudo o que apregoa a cultura cooperativista é um elemento fundamental a ser considerado no alcance dos resultados pretendidos. Não dá pra ser de qualquer jeito, não dá pra ser na base do “custe o que custar”. Ou, como diz um amigo: “não me importa se é pata ou pato, que quero é ovo”. Claro que não!
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O desafio é equilibrar conteúdo e forma, sem renunciar à entrega, à realização, ao desfecho capaz de garantir a perenidade dos negócios.
Houve um tempo, num passado não tão distante, em que a nossa turma, de treinamento e desenvolvimento, se dava ao luxo de “viajar na maionese” com certa intensidade. Aulas excessivamente lúdicas, analogias quase vexatórias, dinâmicas desconfortáveis, exposições infantilizadas, gente fantasiada, entre outras aberrações, a depender do contexto... Lembra desse tempo? Pois então!
Já no pós pandemia, nossa sensação – atestada pelas experiências em processos de educação conduzidos ao longo destes 5 anos pela Cooperativa Coletiva – é de que demandantes e educandos esperam pragmatismo e inspiração. Praticidade e compreensão. Clareza e leveza. E objetividade - sem perder a ternura, jamais.
Nossa educação corporativa tem por contribuição levar as pessoas a novos patamares de execução. Que a realização seja acessível, superando os medos inerentes à ação. Afinal, é na ação que, de fato, estamos vivos. Aquela história do verbo se fazer carne, que nos acompanha desde muito tempo.
Que quem faz mais, siga fazendo muito. E inspire aqueles que ainda não se encorajaram a realizar o potencial que carregam. Porque todo mundo tem em si essa potência. O ponto essencial é que, quanto mais trabalhamos a musculatura do “fazer”, a rigidez inflexível imposta pelo medo – da rejeição, do fracasso, da frustração – é diminuída. Fazer é vulnerabilizar-se – é nele que moram as chances do insucesso. Enquanto nos dedicamos apenas ao “pensar”, não nos expomos às intempéries da vida. Porém, viver é justamente isso! Ou não?
“Liderança sem disciplina de execução é incompleta e ineficaz. Sem a habilidade para executar, todos os outros atributos de liderança ficam vazios.” Sem ação, não sobra quase nada. E não há melhor método para se colocar em movimento do que dando os primeiros passos. Vez ou outra tropeçaremos pelo caminho, ou nos veremos estatelados no chão por passos largos demais. Caminhando juntos, temos a chance de não deixar ninguém pra trás. Bora lá?