Quem olha para os idosos?
Os brasileiros com mais de 60 anos já são, aproximadamente, cerca de 30 milhões de pessoas, o equivalente a 15% da população, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda de acordo com o IBGE, a tendência é que um em cada quatro brasileiros tenha mais de 65 anos, em 2060. Este será o meu caso e espero que até lá o cenário melhore. Mas meu objetivo com esta publicação é falar do agora. Porque estamos diante da pandemia do corona vírus, que tem a população mais idosa seu principal grupo de risco, segundo informações de autoridades de saúde. Eles que são “invisíveis” para mercado de trabalho e para a previdência social (Cheguei a fazer uma publicação sobre meu pai mostrando essa realidade), também vão continuar sendo esquecidos pelo o sistema de saúde? Quem olhará por eles?
Eu acredito no poder da transformação das pessoas e busco por elas para mostrar que é possível fazer diferente. Esse é o caso da Márcia Tavares, fundadora WeAge, startup dedicada à educação para a longevidade e a diversidade etária nas organizações. Ela tem um olhar especial para os idosos e é a nossa convidada de hoje da edição do “Mulheres Incríveis e Possíveis”, um espaço dedicado para mostrar e enaltecer a ação de mulheres empreendedoras.
Espero que gostem da nossa conversa 😊
Monique Dutra: Em que momento da sua vida você decidiu que estava na hora de empreender?
Márcia Tavares: Empreender não foi uma decisão recente. Minha história no empreendedorismo começou na infância. Curiosamente, meu primeiro ‘negócio’ foi exatamente na área da minha startup atual: educação. Aos 11 anos, comecei a ganhar dinheiro com alfabetização e reforço escolar para outras crianças, algumas com a mesma idade que eu. Na época, isso não parecia glamouroso, e no meu caso, também não era condenável. Era apenas uma forma de conseguir comprar os livros da escola, ajudar em casa e aprender a ser financeiramente independente no futuro. E foi assim até bem depois de concluir a faculdade. Nessa minha trajetória empreendedora, além de educação, vieram alimentação, artesanato, estética, design. Assim como grande parte dos empreendedores brasileiros, por anos, fui empreendedora por necessidade. Vieram também empregos, em consultorias no RJ e SP. Meu último emprego foi na gerência de fundadora inovação do centro de serviços compartilhados da Vale. Eu já fazia mestrado e pesquisava a temática trabalho e longevidade, que seria tema do meu livro em 2015, lançado quando eu já cursava o doutorado. Dois anos depois, fundei a WeAge, uma startup de educação para a diversidade etária e a longevidade no ambiente de trabalho.
Monique Dutra: O que te levou a buscar esse caminho?
Márcia Tavares: A certeza de que eu teria a oportunidade de melhorar não apenas a vida da minha família, mas a de muitas famílias, trabalhadores e organizações brasileiras, se eu transformasse o conhecimento científico das minhas pesquisas em um negócio. Meus pais trabalharam duramente da infância muito pobre à velhice. Eram outros tempos, outras ideias sobre o trabalho. Em nenhum momento da vida, eles tiveram acesso a mecanismos que lhes garantissem condições seguras para realizar seu trabalho, o que resultou em uma velhice com problemas de saúde significativos. Eles também não tiveram mecanismos que os protegessem da discriminação etária, o que quase causou uma tragédia na família quando meu pai cogitou suicídio (pensamento felizmente abandonado). Tempos depois, meu pai, já idoso, trabalhava por conta própria quando foi diagnosticado com câncer de pâncreas em estágio avançado. Durante 2 anos, eu, minha mãe e irmã nos revezamos para cuidar dele. Apesar de não termos conhecimento acerca dos cuidados paliativos adequados, não tínhamos recursos para contratar cuidadores profissionais, uma realidade comum à maior parte da população brasileira. Era uma rotina exaustiva e dolorosa que tinha que se encaixar na maratona de trabalho, sem prejuízo para o meu empregador, ou certamente, eu seria demitida. Antes disso, minha mãe já havia desenvolvido hipertensão e também requeria cuidados especiais. Dona de uma expectativa de vida maior do que a do meu pai, ela envelhecia sem emprego nem aposentadoria porque havia interrompido a carreira para cuidar da casa, da sogra idosa e, posteriormente, das filhas. Trabalhou por conta própria durante décadas e conseguiu atender aos requisitos da aposentadoria parcial com um benefício mínimo. Questões de gênero ainda atuais e que ainda precisam ser discutidas seriamente, assim como inúmeras outras questões que permeiam a perspectiva da longevidade no ambiente de trabalho. Embora o Brasil seja um dos três países que envelhece mais rapidamente no mundo, no tecido empresarial ainda faltam políticas de gestão da diversidade etária e da longevidade. Isso acontece principalmente porque os níveis de compreensão e capacidade de avaliação e resposta dos gestores aos desafios sócio produtivos da longevidade ainda são limitados. Pensando em resolver esse problema, eu fundei a WeAge. Meu trabalho é ajudar as empresas a desenvolverem as competências necessárias para gerenciar os riscos e oportunidades da diversidade etária e da longevidade dos trabalhadores. Fazemos isso através do treinamento dos profissionais de RH em uma metodologia de gestão desenvolvida durante o meu doutorado em Engenharia de Produção na Coppe/UFRJ. Também desenvolvemos tecnologias educacionais que induzem o aprendizado por meio da reflexão, possibilitam o diagnóstico do quanto a empresa está preparada para a diversidade etária da força de trabalho e quais os pontos críticos a melhorar, e ainda, formamos multiplicadores nesse modelo de gestão.
Monique Dutra: Quais os desafios que você encontrou pelo caminho?
Márcia Tavares: Eu diria que o principal desafio tem sido a formação do mercado. A gestão da diversidade etária e da longevidade no trabalho ainda é um tema novo para as organizações e, como tal, está conquistando espaço gradativamente. Levar um produto ou serviço inovador a um mercado que ainda não alcançou a maturidade necessária para absorvê-lo é um grande desafio. O esforço de entrada é maior do que o de introduzir um produto ou serviço em um mercado já estabelecido. Por outro lado, um mercado ainda inexplorado pode ser um oceano azul de oportunidades. A economia da longevidade (ou economia prateada) traz um enorme espectro de possibilidades para a geração de novos negócios porque a demanda da população 50+ é grande em todas as áreas. Estamos apenas no começo dessa jornada que será bastante longa. Apesar do certo grau de relutância que ainda existe em nossa sociedade, a economia prateada é definitivamente um mercado em ascensão. É um mercado que precisa ser desenvolvido, de forma ágil, para dar conta das demandas que estão emergindo à medida em que vamos envelhecendo. Minha experiência mostra que estamos em uma fase de transição na qual as empresas começam a despertar para o potencial dos trabalhadores 50+. Mas elas ainda não sabem ao certo como mapear e aproveitar o potencial de cada um. Faltam acesso a conhecimento especializado, métodos, ferramentas para a gestão adequada e, na maioria dos casos, uma cultura organizacional que seja favorável à diversidade etária no ambiente de trabalho.
Monique Dutra: Você pode compartilhar 3 dicas que foram úteis para o seu negócio?
Márcia Tavares:
• Tenha um diferencial. Se a empresa, o produto ou serviço tiver alguma característica difícil de copiar ou substituir, isso será uma vantagem competitiva frente aos concorrentes.
• Fale com muitas pessoas (e principalmente, escute-as!). Ter uma ideia incrível não significa ter uma oportunidade de negócio incrível. Via de regra, antes de investir recursos em um negócio, é preciso validá-lo com um número significativo de pessoas ou empresas que representem o seu cliente em potencial. Contar a ideia, apresentar um MVP (mínimo produto viável), a fim de receber feedbacks vai ajudar a verificar a real demanda do mercado, refinar o produto ou serviço e, possivelmente, pivotar o seu negócio.
• Tenha os três Ps que necessários para qualquer empreendedor ou empreendedora. Tenha propósito. Faça um planejamento. Seja persistente. Há muito glamour em torno do empreendedorismo. Mas a rotina dos empreendedores não é nada fácil. É preciso ter muito claro o seu propósito para empreender, planejar bem as ações, os recursos, as metas. Finalmente, é preciso persistir. Você receberá muito ‘não’, até que o ‘sim’ mais esperado seja dito. Manter-se firme até lá é essencial.
Mais do Mulheres Incríveis e Possíveis
Entrevista com a Flávia Gamonar, principal voz feminina do Linkedin
Entrevista Ana Fontes - CEO da Rede Mulher Empreendedora
Entrevista Beatriz Souza - Consultora de Gente e Gestão na BSGRAFO
Sub Encarregado de caixa na Supermercado Guanabara
4 aParabéns. O jovem de hoje é o idoso de amanhã,então quer ter mais conhecimento interaja com eles e verá o quanto será proveitoso e animador para o tempo vindouro.
Gestora de RH na Auto Viação Tijuca | Partner at Rh40+ | Palestrante
4 aParabéns!!
Fundadora ElaFutura I Palestrante TEDx I Professora FGV | CEO WeAge | Pesquisadora UFRJ I LinkedIn Creator | Podcaster | Eleita Melhor Mentora Hacking.Rio 2021 | Construindo futuros longevos, produtivos e sustentáveis
4 aParabéns pela iniciativa. Foi um prazer compartilhar um pouco da minha história empreendedora.