Quem quer ser refém do Threads?
O tempo é uma mercadoria preciosa. Tem uma frase famosa do poeta e filósofo americano Henry David Thoreau que diz que “O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você troca por ela”. Eu concordo e por isso sempre repenso minhas prioridades de trabalho e lazer e coloco na balança: este projeto (ou hobby) vale meu tempo?
Desde quarta-feira passada tenho lido muito sobre o Threads, nova rede social da Meta – grupo dono do Facebook e do Instagram – que pegou carona no próprio Insta para se popularizar e tem toda ambição de se tornar o novo Twitter. Eu, particularmente, não gosto do Twitter: acho muito polarizado, com muitos discursos agressivos e cancelamentos rápidos. Me parece mais um lugar onde jornalistas, políticos e outros, se reúnem para brigar em torno das notícias do dia. Mas claro que quis saber o que estava rolando na nova rede.
Pensei que o Threads poderia trazer para um tipo diferente de conversa com o clima positivo e criativo do Instagram e a agilidade do Twitter. Então, me cadastrei e... virei refém. Saciada minha curiosidade, resolvi deletar a conta e descobri que ela está vinculada ao Instagram. Ou seja, se fizesse isso, precisaria deletar também minha conta no Insta. Precisei me conformar em apenas “desativar” a conta e confesso que isso acabou com a minha vontade de usá-lo. A sensação de “ser obrigada” a algo minou minha empolgação. Então, fique atento: se a sua ideia é só passar e dar uma conferida, saiba: o Threads é um caminho sem volta. No mau sentido, visto pelo meu prisma de querer deletar a conta.
Esclareço que eu não sou defensora de nenhuma rede social, acho que cada uma tem aplicações específicas para cada tipo de uso, seja pessoal ou corporativo. Mas é preciso direcionar esforços para as quais você acredita que serão mais benéficas para você ou seu negócio. E é aí que está o pulo do gato. Fazer esta seleção é fundamental para usar as redes, e não ser usada por elas, criando dependência e ansiedade
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Se a gente olhar dados globais, o cenário é assustador. Uma pesquisa realizada em abril pelo Global WebIndex mostra que, globalmente, 60% da população mundial usa mídias sociais. E mais: de acordo com “Top Social Media Statistics And Trends Of 2023”, da Forbes Advisor, publicado em maio, uma pessoa média passa cerca de 145 minutos nas redes sociais todos os dias. Para colocar isso em perspectiva, é como se uma pessoa que vive 73 anos passasse espantosos 5,7 anos nas plataformas de mídia social. Outro dado alarmante: lançada na noite de quarta (05 de julho), a Threads ultrapassou os 30 milhões de usuários cadastrados em menos de 24 horas.
Outro lado negativo desse “vício” contemporâneo é a constante comparação da nossa vida real com a vida sempre bela e feliz mostrada nas redes. Aliás, daí vem um contramovimento sobre o qual ouvi falar esses dias: o dos “Beige-Influencers”, influenciadores que promovem uma visão monótona da vida como se o simples e básico fosse uma nova aspiração. O curioso é que esses influenciadores estão ganhando tração especialmente entre as pessoas com menos de 30 anos. Acho que nem tanto o céu, nem tanto a Terra. Penso que, ao fazer isso, acabamos perdendo a complexidade e a diversidade que tornam a vida verdadeiramente satisfatória. Oras, a vida é mais do que conformidade e rotinas previsíveis.
É importante refletir sobre como essas tendências na mídia digital estão moldando nossa percepção da realidade e influenciando nossas escolhas. E, sobretudo, ter mais tempo para o real. Afinal, como bem disse a escritora norte americana Annie Dillard: “Como gastamos os nossos dias é, certamente, como gastamos a nossa vida”.
CEO @ SAS Group | Leading Telehealth Innovator
1 aExcelente reflexão, Ana! Dados assustadores. Há muita vida fora das redes e com certeza uma forma mais otimizada e realista de aproveita-las.
Contribuo para a transformação dos negócios por meio de estratégia de gestão de pessoas, comunicação e diversidade & inclusão | CHRO | VP de RH | Conselho Consultivo | Conselho de Administração | Comitê de Pessoas
1 aAna Zamper, adorei o seu artigo e a sua abordagem ponderada.
Potencializo sua comunicação profissional, CEO Linguagem Direta, Inteligência da Comunicação para líderes, Fonoaudióloga, Partner do Ecossistema Great People & GPTW, Escritora, Palestrante, Mentora
1 aAna Zamper, eu adorei seu artigo! Dois pontos merecem destaque: o primeiro, é o tempo gasto em redes sociais que é impressionante. Vou controlar mais ainda meu tempo para redes sociais. E o segundo são os beige-influencers, termo que eu não conhecia, que sua descrição me despertou o interesse por mais.