Quem são os 30% de bolsonaristas e quem serão seus antagonistas
O Brasil está passando por uma profunda transformação social desde os anos oitenta. Neste movimento, os evangélicos e os jovens aparecem como atores principais. Os primeiros apresentam um crescimento exponencial devido ao uso das rádios, TVs, Jornais, revistas, livros e, a partir dos anos dois mil, as mídias sociais.
Os evangélicos passaram de 8% para 35% da população do país em quatro décadas e isso mudou bastante vários espectros das manifestações dos anseios sociais. As prioridades deste grupo são diferentes dos outros grupos da população e entre elas estão: o crescimento de suas religiões através de templos e ocupação da mídia tradicional; a defesa da vida, isto em relação ao aborto; a defesa família tradicional; e também apresentam um certo conservadorismo que antes se manifestava fortemente na igreja católica e seus praticantes, mas agora, aparece de uma forma mais forte e até mais fanática entre os evangélicos de confissão pentecostal e neo-pentecostal.
Estes dois grupos, os pentecostais e neo-pentecostais são hoje a base do bolsonarismo juntamente com parte da PM (polícia militar), a maçonaria, os soldados da ativa do exército e também os militares da reserva. Esse grupo tem uma identidade com o bolsonarismo pela identificação com um certo messianismo, ou melhor dizendo, um Sebastianismo (crença de que o rei Sebastião, português que reinou de 1557 até 1578 quando sumiu no norte da África em uma batalha, iria reaparecer e salvar o povo do sofrimento) que sempre esteve presente no Brasil, basta lembrar do Antônio Conselheiro em Canudos que apresentava um discurso em que o rei Sebastião iria voltar e restaurar o reino português destruindo a república.
Nesta ocasião exército destruiu a cidade matando todos: mulheres, crianças, idosos e homens. No livro Os Sertões, Euclides da Cunha ao relatar a destruição da comunidade evangélica construída pelo líder Antônio Conselheiro demostra que aquela população que era desprovida de qualquer atenção do governo necessitava mesmo de educação e não da violência do exército.
Essa ideia de batalha do bem contra o mal é presente entre os militares e também o é nas pregações das igrejas, principalmente nas igrejas de cunho pentecostal e neo-pentecostal, onde o tema central é a luta do bem contra o mal. Vemos nos cultos manifestações de demônios onde são vencidos pelos homens e mulheres ungidos pelo poder de Deus, e também vemos as manifestações do Espírito como sinais de que Deus está dando poder ao seu povo contra o mal.
Nessa batalha, o discurso de que políticos de esquerda, que são corruptos e que querem aprovar leis contra a família, contra a vida, contra as crianças porque são comunistas ateus cai como uma luva. Os "homens ungidos', os líderes evangélicos viram em Bolsonaro a oportunidade de alçar o poder que acham que devem possuir por direito.
Esses líderes precisam do poder do estado para estabelecerem e ampliarem o alcance de suas empresas com fachada de instituições religiosas pois querem os mesmos benefícios que a igreja católica sempre possuiu neste país. Assim, usam o discurso de que Jair "Messias" Bolsonaro é um enviado de Deus para dar poder para a igreja contra aqueles que querem destruí-la. Por isso o discurso "Deus acima de todos".
Assim também no meio militar, seja no exército como também na polícia o discurso contra os comunistas está bastante presente. Principalmente nas questões de direitos humanos que é caro à polícia em relação aos bandidos. É neste sentido que Bolsonaro encarna os anseios de mudança deste grupo.
Por outro lado, existem os jovens brasileiros, que desde 2013, nas grandes manifestações de junho, abalaram o cenário político. Esse novo contingente de jovens fez o governo entrar em crise e foram rotulados como coxinhas pela esquerda que estava governando o país.
Ficaram assim a mercê do aparecimento de líderes que apresentassem o discurso que estavam buscando. Como no Brasil não existe um conservadorismo no sentido político desta palavra e também não possui uma direita com influência e cultura com líderes que pudessem canalizar as forças para uma mudança que esse grupo desejava, apareceram políticos que tentaram liderar esse movimento.
O Bolsonarismo encampou esses novos políticos e nas eleições de 2018 foram eleitos muitos pastores, soldados, delegados, empresários, jovens e até juiz. A lava jato e também as mídias tradicionais lideradas pela Rede Globo tiveram um papel crucial nesse movimento, e as massas que apresentaram um desejo de mudança que hoje se demonstra abalado pela pífia performance do presidente da república e dos políticos que surfaram na onda e por ela foram eleitos, está desiludida, revoltada e pronta para um novo movimento.
Com as novas manifestações nos Estados Unidos, o "Black lives matters", mesmo em meio a pandemia vemos a possibilidade de novas rupturas e movimentações da nossa jovem sociedade. É possível que muito em breve passemos por mais acontecimentos que demandarão mudanças que ainda não se realizaram.