‘Quem sabe faz a hora’
É comum, em todos os finais de ano, empresas e executivos elaborarem extensos relatórios sobre balanços, números e avanços da temporada que se encerra. Nesse contexto, o desempenho da Central Nacional Unimed em 2019 foi excelente. Mas quero usar este espaço para falar de futuro, se possível, imediato. Temos uma questão que não pode mais ser empurrada para “um dia qualquer”. Nossa expertise é a Saúde e nossas vitórias, importantes, mas pontuais, não podem esconder a questão de fundo que afeta empresas e beneficiários em geral da Saúde Suplementar: a prioridade total precisa ser a mudança de cultura, trocando definitivamente o modelo de Atenção à Saúde. A solução, não nos restam dúvidas, é a Atenção Primária como base do Sistema de Saúde.
Não podemos mais adiar a mudança. É uma tarefa difícil, sabemos. Trata-se de uma batalha cultural. Empresários, beneficiários e toda a equipe de saúde, especialmente os médicos, acostumaram-se a aplicar o chamado “modelo americano” no Brasil. Nele, resumidamente, o foco está na entrada do sistema pelas especialidades e com base prioritariamente no atendimento hospitalar. Mudar hábitos e filosofias nunca é fácil para o ser humano. Mas admito certa impaciência com a resistência e demora para sair das palavras, e irmos à concretização da ideia.
A estrutura do sistema de Saúde brasileiro está equivocada. Justiça seja feita, o Sistema Único de Saúde (SUS) conceitualmente já adota a visão de priorizar a entrada do atendimento via um clínico-geral para, só depois — e em caso de necessidade comprovada — encaminhar o paciente às especialidades. O problema do SUS, sabemos todos, é a precariedade muitas vezes revelada na estrutura. Mas nós, da Saúde Suplementar, temos as ferramentas que, se bem utilizadas, podem operar a transformação proveitosa para empresas, médicos e, principalmente, para os nossos beneficiários.
Alguns críticos à ideia de um único médico centralizar o atendimento inicial — o médico de família, agora, com mais ferramentas e tecnologia — apontam que existiria a intenção de cortar custos das operadoras por trás. Falso. Dados recentes de Portugal e de muitos outros países da Europa, por exemplo, apontam que a adoção da Atenção Primária à Saúde provocou queda na procura por atendimento de emergência e a aprovação dos beneficiários. Humanizar a relação com quem procura nossos serviços em área vital leva a um ganho maior ainda. Hoje, a base de remuneração se dá pela quantidade de procedimentos, a maioria deles dispensável, e que muitas vezes expõem os pacientes a um estresse também desnecessário. Um acompanhamento centralizado não só evita desperdícios, como propicia a proximidade maior com o médico que, hoje, mais do que antes, tem a orientação correta para a prevenção de enfermidades e novas práticas saudáveis. Condutas essas que evitam, ao fim e ao cabo, a execução de maratonas de exames e internações, sempre obstáculos dolorosos para quem é submetido a eles.
Hoje, na Unimed, encaramos como uma boa obsessão a batalha para mudar o sistema em que se baseia o atendimento à Saúde. Temos outras empresas que enxergam o óbvio como companheiros nessa jornada. Mesmo assim, sabemos que é necessário ainda mais engajamento. O Brasil não pode se dar ao luxo de deixar de colher os frutos saudáveis da Atenção Primária à Saúde no cotidiano. Palavras não bastam. Os brasileiros merecem que sua saúde receba uma abordagem focada no indivíduo, supere o vício cultural e garanta a sustentabilidade das empresas de nossa cadeia. Dá e é preciso melhorar o setor para todos os envolvidos. Já se falou demais e a hora exige ação. A impaciência, no caso específico, é uma virtude. Bom 2020, para todos nós!
MD, MSc, PhD
4 aExcelente texto, Alexandre. Muito lúcido. A meu ver, é o único caminho.
Enfermeiro Atenção Primária | Auditoria de Conta Hospitalar
5 aAí sim gostei! A hora é agora! Tenho interesse conhecer como está mudança será abordada na prática na Unimed Central Nacional!
Advogada e prof convidada FGV
5 aParabéns pelo texto. Nossas discussões em sala de aula e na advocacia tem passado por pontos cruciais para a sobrevivência das operadoras e a entrega de um serviço contínuo de qualidade. A muidança de cultura do segurado que deve se autoresponsabilizar pelo cuidado de sua saúde aliada a estratégias de gestão empresarial específica para o segmento só será possível com uma legislação objetiva e atualizada.
Professor, Conselheiro de Empresas, Membro de Comitê de Auditoria e Governança, e Consultor Estratégico
5 aExcelente reflexão Dr. Alexandre, humanização e tecnologia podem e devem caminhar juntas para superar desafios. Feliz 2020 e sucesso em seus planos! Abração
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5 aParabens Dr. Alexandre, muito bom o texto. É uma longa batalha para mudar a cultura, tomara que ela ocorra breve.