Quiet Ambition e o Vazio Existencial
Na atualidade, o pêndulo que acompanha as transformações parece estar se movendo em direção a um extremo preocupante. Em vez de buscar um equilíbrio saudável entre carreira, bem-estar e outras dimensões da vida, a sociedade vem gradualmente fragilizando ainda mais esse sentimento essencial para o crescimento pessoal, desenvolvimento e realização.
O questionamento cada vez mais prevalente sobre o modelo tradicional de ascensão incessante dentro da hierarquia corporativa está redefinindo não apenas o conceito de sucesso profissional, mas também minando perigosamente a pulsão em direção à prosperidade e à realização.
A falta de interesse em assumir novos desafios e buscar posições de liderança, em favor de uma vida mais tranquila e estável, é muitas vezes celebrada como Quiet Ambition. No entanto, essa postura pode mascarar, justificar ou contribuir para uma carência de motivação para a conquista de metas significativas.
Essa tendência, especialmente visível entre as novas gerações, revela um fenômeno preocupante: o abandono de um objetivo profissional em troca de uma pseudo vida-boa, onde a busca por conforto e estabilidade substitui a ambição e o desejo de crescimento.
A simples aversão ao esforço necessário para alcançar altos patamares profissionais, estão levando muitos jovens a se contentarem com o mínimo necessário para viver bem, sem grandes aspirações, podendo ter um impacto profundo na construção de sua autoconfiança e de um sentido para a vida. A vida boa, promovida pelas redes sociais como um estilo de vida ideal, frequentemente esconde o vazio oriundo da falta de um propósito maior e da ausência de desafios que impulsionam o verdadeiro crescimento e desenvolvimento pessoal e são inerentes a plenitude humana.
Essa pseudo vida-boa oferece uma sensação momentânea de satisfação, mas, a longo prazo, pode gerar um sentimento de vazio e arrependimento por oportunidades não aproveitadas. As novas gerações, ao rejeitarem o desconforto do crescimento, também podem estar perdendo a chance de experimentar o poder transformador que o sucesso genuíno traz – não apenas em termos de status ou riqueza, mas em termos de impacto, legado e contribuição para a sociedade.
Em linha com esse pensamento, o renomado psiquiatra e neurologista austríaco, sobrevivente do Holocausto e criador da Logoterapia, Victor Frankel, argumentou que o sentido da vida é a força motriz fundamental da existência humana. Quando as pessoas perdem o sentido ou o propósito, o vazio existencial toma conta, gerando uma sensação de desorientação e apatia, algo que ele chamou de "vazio existencial".
A busca incessante por uma vida de aparente conforto e felicidade superficial, amplamente disseminada pelas redes sociais, pode afastar as novas gerações da necessidade de encontrar um significado mais profundo em suas vidas.
Para Frankl, essa busca por significado é o que nos permite enfrentar e superar as adversidades, transformando o sofrimento em uma oportunidade de crescimento. A ausência de desafios e de um propósito maior não apenas impede o desenvolvimento pessoal, mas também priva o indivíduo da verdadeira realização e plenitude.
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Assim, a logoterapia sugere que, em vez de buscar uma vida isenta de dificuldades ou comprometida com padrões de sucesso ilusórios, deveríamos nos engajar em uma busca ativa por propósito e significado. Isso não significa rejeitar o conforto ou a estabilidade, mas sim integrar esses aspectos a uma vida rica em sentido, onde os desafios são vistos como oportunidades para crescer e encontrar nosso verdadeiro eu. Na sociedade contemporânea, é no alinhamento do propósito de vida com as atividades profissionais onde reside as maiores probabilidades de isto acontecer.
Portanto, é crucial repensar como estamos definindo sucesso e incentivando o crescimento pessoal e profissional. Precisamos questionar se estamos realmente promovendo uma vida boa, ou se estamos apenas criando uma ilusão que, ao final, pode deixar muitos desorientados, sem direção e insatisfeitos com a vida que escolheram. O equilíbrio entre a busca por uma vida tranquila e a ambição saudável é fundamental para garantir que as novas gerações não apenas sobrevivam, mas prosperem em todos os aspectos da vida.
Não estou defendendo a busca insana por ascensão hierárquica, muito pelo contrário. Me refiro as consequências de uma sociedade que está abrindo mão do valor e da importância da “superação pessoal” em prol de uma pseudo “vida equilibrada”.
Temos a necessidade de nos sentirmos capazes, sendo a superação e a conquista de objetivos parte da construção da nossa autoestima e isso é algo fundamental para que haja bem-estar, plenitude e felicidade autêntica. Uma vida “equilibrada” sem sonhos e sem superação pessoal é uma vida morna.
Assim, compreendo que a busca por realização pessoal e profissional vai muito além de uma simples aspiração por luxo ou indulgência; é uma necessidade intrínseca para o desenvolvimento humano. A ambição saudável é fundamentada em valores éticos e em um propósito individual.
Dessa forma, em vez de sucumbir à tentação de uma vida “harmônica” é possível adotar uma mentalidade que reconheça a importância tanto do crescimento pessoal quanto do bem-estar e compreender que o equilíbrio não se dá em tempo integral, pois cada uma das fases de nossa vida requer priorizações distintas.
Desejar algo a mais para si e para a sociedade está intrínseco ao instinto humano, não é uma construção social, pode acreditar nisso!
Independente das suas motivações, crenças e valores, colocar em movimento a conquistas dos seus objetivos, comprometendo-se fielmente com a busca pela realização de algo maior e desafiante é um dos melhores caminhos para uma verdadeira “vida que vale a pena”.
Talent Management and Communications Manager | HRBP
3 mExcelente artigo, Marcos! A reflexão sobre a importância de encontrar um equilíbrio entre ambição e bem-estar, bem como o verdadeiro significado do sucesso, é fundamental para as novas gerações!
Consultoria e Mentoria para PME's - StartUps - Empreendedores. Planejamento Estratégico, Soluções Inovadoras com ferramentas de Inteligência Artificial.
3 mJá pensou se, essa mesma "onda" se abater nos consumidores, tipo consumir somente o estritamente necessário? Consequências: queda nas vendas em geral, principalmente supérfluos e PIB negativo... Claro, isso é uma utopia, o sistema se encarrega d mover a roda d consumo. 😉
Educação Corporativa | Mentor Executivo e de Carreira | Palestrante | Treinamento & Desenvolvimento
4 mÓtima reflexão! Parabéns!
Head de Vendas | Desenvolvimento de Negócios | Estratégia | Gestão e Liderança | Mestrando na Fundação Dom Cabral
4 mÓtimo texto Marcus Ronsoni. Você percebe as empresas pavimentando o caminho para que essa nova geração encontre valores e propósitos que se conectem?