Reage Brasil... em tua essência
A sociedade brasileira está atordoada. Mesmo no que pese o ciclo pandêmico corrente, os últimos anos trouxeram uma instabilidade emocional para o brasileiro que nem nas maiores crises sociais ou econômicas - e não foram poucas - na sua oblíqua história, o país se deparou com tamanha volubilidade.
A Constituição Federal vigente (tipificada em 1988 com o pomposo epíteto de "carta cidadã") trouxe inúmeras vantagens e aberturas, direitos à lasso, mas, em caráter dissonante, uma flexibilidade desvairada que desestrutura a normalidade social até os dias atuais. Em verdade, o Brasil não estava preparado para tanta condescendência, conquanto, recebemos uma Carta Magna de país de primeiro mundo num país extravagante e sem disciplina social.
A questão é sim cultural! E, como é sabido, a cultura de um povo só se altera em longo prazo, por ser, conforme dito pelo sintetizador do termo, o inglês Edward Tylor, ...um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos por uma pessoa como membro de uma sociedade. Nesse prumo, notadamente, a atual constituição trouxe uma esperança desenfreada devido à bruteza da mudança consequente dos pretéritos anos enrijecidos. E coube à sociedade brasileira - mesmo despreparada para tal - se acostumar com essa cunhagem de homem liberto.
Na inigualável obra República, Platão suscita a Anomia Moral à Anarquia Política, explorando um entendimento no qual o afrouxamento da Democracia tangencia uma nação a um regime em permanente convulsão, assentando, assim, uma sociedade instável e babélica, proporcionando, destarte, que incautos sejam instrumentos pavimentadores de um caminho degenerador à dominação demagógica, geralmente baseada em retóricas, dissimulações e manipulações, parindo uma democracia em frangalhos, farta de permissividades, segregações e distúrbios degenerativos culminadores de irreversíveis infensas às hierarquias sociais.
O eleitorado brasileiro, historicamente, tem votado sempre sob a alça do moralismo e pelo herói emergencial. Equivoca-se no diagnóstico e raramente define as causas alicerçantes de um país menos díspare; ao contrário, vislumbra tão somente as consequências visíveis e palpáveis, por meio, óbvio, do viés imediatista. O Brasil real e equitivo está com dificuldade de crescer, porque dentro dele existe um outro Brasil, minúsculo, arrogante e sórdido que obstrui o todo sistêmico. E a mudança há de ser longa, porque a natureza humana se democratiza, conforme já dito, pela cultura.
Por outro flanco, uma inquietude emerge de parte da sociedade brasileira quanto ao futuro do país, à cata de uma identidade proba, alheia aos malefícios, às enfermidades e às barafundas duradouramente emolduradas ao longo de cinco séculos. Nesse decurso, há um nítido embate com aqueles que pregam o delírio pessimista e que, por dolo ou por bonomia, fortificam, equivocadamente, a ideia de que o Brasil não tem jeito. Nesse lastro vultuoso, coadunar com essa linha patológica significaria liberar cada vez e ainda mais a via predatória sedenta aos desmandos e saques. Temos que eliminar, além da sujeira, os resíduos.