Realização - Recompensa - Reconhecimento
por Cecilia Lodi
Já fazem uns dois anos que tive o privilégio de ouvir uma palestra de Paulo Kakinoff na sede da Assobrav em São Paulo. Palestra esta que mudou significativamente as escolhas profissionais que eu fazia em minha vida. Kakinoff ressaltava que precisamos buscar um trabalho que nos traga, de maneira equilibrada, realização, recompensa e reconhecimento. Nada menos que isto será sustentável a longo prazo. Mais cedo ou mais tarde, a falta de qualquer destes elementos começará a gritar dentro de nós, como uma fome não saciada.
Entendo que, quando somos jovens, ansiosos por aprender, devemos aceitar trabalhos cuja única função é preparar nossa mente para as adversidades do futuro. Como uma pedra de afiar. Com o tempo vamos compreendendo que tipo de trabalho nos faz levantar mais alegres numa segunda feira e que tipo não e passamos a escolher melhor. Hoje os “millennials” querem pular a primeira etapa fazendo apenas o que é sensacional. O que assistimos é frustração e desemprego.
Mas vamos entrando na casa dos trinta ou quarenta anos e nosso nivel de tolerância vai baixando em relação à falta de reciprocidade do mundo empresarial nestes quesitos ressaltados por Kakinoff.
Alguns profissionais não poderão ter o luxo de largar um emprego mediano pois assumiram algumas responsabilidades que limitam as escolhas de sobrevivência. Boa parte da população mundial passa a vida trabalhando pela subsistência básica de si e de sua família.
Aqueles que tiveram melhores oportunidades para estudar e se preparar para o mercado podem escolher mais e buscam esta tríade de necessidades profissionais, consciente ou inconscientemente. Bons profissionais buscarão ambientes que dêem feedback de seu desempenho e premeiem bons resultados.
No universo Disney de treinamento, se enfatiza muito que não apenas de salário vive o profissional. É necessário que ele se alimente também de reconhecimento do trabalho realizado. O modelo Disney compara o salário à água e o reconhecimento à comida. Entende-se que um ser humano não sobrevive sem água no curto prazo mas, certamente irá morrer de fome, no longo prazo, se não receber a comida.
Uma das primeiras e cruéis lições da minha vida profissional foi entender que, em algumas empresas, entramos para trabalhar como uvas Itália e saímos da empresa como uma uva passa. Naquele período demos nosso suor, inteligência e, em alguns momentos, nossas lágrimas e não recebemos em troca nenhuma orientação, treinamento, elogio a um trabalho bem feito, equipamentos adequados. Por mais que nos dediquemos a fazer além do pedido, a organização se tornou fria e surda àquele ser humano. Como se um salário mínimo fosse mesmo a justa paga por quase três mil horas anuais de sua vida.
Muitas empresas começam a enxergar isto nos tempos atuais. Aquele modelo despótico, autocrata e abusador está, gradativamente, sendo substituído por mais espaço para um RH atuante, mais apoiador. Mas um profissional tem sido, muitas vezes, esquecido neste trabalho. O sucessor das empresas familiares.
Este profissional traz em si, necessidades de realização, reconhecimento e recompensa mais complexas. Enquanto um profissional de mercado tem uma certa objetividade em relação ao que esperar da empresa em que trabalha, na cabeça do sucessor reina uma confusão de sentimentos, expectativas que transcendem o trabalho, que serviriam para Freud explicar. Necessidades como aceitação do pai, orfandade, ciúmes, disputas entre irmãos pela atenção entre outros sentimentos colocam recompensa, reconhecimento e realização em outro patamar de tradução.
Ajuda a tornar mais complexo este cenário, o ambiente empresarial e social em que vivem. Estes sucessores são pressionados pelos familiares e amigos a serem excepcionalmente bem sucedidos, angariar patrimônio rapidamente e mostrar ao mundo que venceram. Como dispusessem de um pó de pirlimpimpim para lidar com os desafios do mercado.
Os sucessores tem uma ansiedade maior por adquirir realização, recompensa e reconhecimento. As vezes conseguem até a recompensa e a realização mas, quanto ao reconhecimento, eles acabam por não ouvir de seus pais, familiares e demais sócios no negócio familiar. Uma viagem bem solitária esta, então.
Todas estas linhas buscam a reflexão. Buscam lembrar aos envolvidos nos negócios familiares que o caminho é longo nesta viagem empresarial mas que, de tempos em tempos, devemos celebrar com os nossos as vitórias alcançadas. Exatamente pelo fato do esforço ser grande e a jornada cheia de incertezas é que precisamos, de tempos em tempos, dar um tapinha nas costas e dizer... valeu.
Gestão Financeira e Complice
4 aBelo texto Cecília! Parabéns pelas sabias e certas palavras!!!