Reciclagem Avançada: A Solução dos Resíduos Plásticos
Será mesmo a reciclagem avançada a solução dos resíduos plásticos? Vamos analisar alguns dados.
Nas nossas últimas edições falamos sobre a importância da reciclagem mecânica e também sobre as limitações desse processo. Como vimos, devido às limitações do processo de reciclagem mecânica dos plásticos, novos processos passaram a ser desenvolvidos e são chamados de reciclagem avançada.
Os processos de reciclagem avançada incluem os processos de conversão (aqueles nos quais os materiais voltam a ser matéria primas) e os de decomposição (onde os materiais voltam a ser um produto secundário)
Os processos de conversão, são processos térmicos, que levam a despolimerização do plástico. Vou explicar melhor...
Os plásticos são tecnicamente chamados de polímeros, onde poli= muitos e meros=cadeias, ou seja, são uma junção de diversas cadeias de carbonos. Essas cadeias individuais são chamadas de monômeros. Os monômeros são cadeias carbônicas de menor massa molecular, provenientes da nafta petroquímica.
Ao aquecermos os polímeros, as cadeias poliméricas vão se rompendo e voltando a sua matéria prima de origem, que no caso é a nafta.
Já os processos de decomposição, quebram os polímeros em seus monômeros de origem, através do uso de compostos específicos e temperatura.
Atualmente vemos no mercado grandes apostas no processo de pirólise. Este processo é um processo relativamente simples, que utiliza apenas temperatura e pressão para conversão dos plásticos em nafta. O funcionamento do processo de pirólise pode ser comparado ao de uma panela de pressão. A pirólise aceita todos os tipos de polímeros, tanto rígidos quanto flexíveis, permitindo assim que mais plásticos sejam reciclados. Além disso, a nafta produzida pode ser aplicada para a produção de novos plásticos, sem que haja qualquer interferência na qualidade do produto final.
De acordo com a Mckinsey, a reciclagem avançada vai ter um papel muito importante no cenário de reciclagem, podendo contribuir com a produção de 4 a 8 % da demanda de resina reciclada até 2030.
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Dados da International Solid Waste Association (ISWA) mostram que somente 4% do Resíduo Sólidos Urbanos (RSU) reciclável são encaminhados para a reciclagem. O total de materiais recicláveis encontrados no RSU chegam a 33%. Ou seja, há uma grande porcentagem que fica nos aterros.
Desses 33%, 16,8% são plásticos, 10,4% plásticos e papelão, 2,7% vidros, 2,3% metais e 1,4% embalagens multicamadas. Apesar da reciclagem mecânica reciclar aproximadamente 23% do plástico pós consumo, ainda há uma grande fração que vai para os aterros sanitários e até mesmo para o meio ambiente, causando cenas como as que recorrentemente vemos na TV com rios e mares cheios de embalagens.
As tecnologias de reciclagem avançada são, portanto, uma saída para a reciclagem dessa parcela de plásticos que não são facilmente reciclados. Esses plásticos são em sua maioria plásticos multicamadas e filmes, que se não forem reciclados pelos métodos de reciclagem avançada permaneceram nos aterros sanitários até sua decomposição.
Mas a reciclagem avançada é mesmo reciclagem?
Há um grande questionamento sobre a reciclagem avançada ser ou não um processo de reciclagem. Os processos de reciclagem avançada podem ser usados para diversas finalidades, como por exemplo: produção de matérias primas, produção de combustíveis, produção de energia. De acordo com a definição de reciclagem, todos esses processos são processos de reciclagem, uma vez que dão ao resíduo uma nova função. No entanto, o único que efetivamente contribui para circularidade é o processo de transformação dos resíduos em suas matérias primas de origem, uma vez que nesses casos o material permanece no ciclo produtivo.
E como fica a reciclagem mecânica nesse cenário?
Os processos de reciclagem avançada e mecânica são complementares e não concorrentes. Atualmente, a reciclagem mecânica já é muito bem estabelecida no mundo, em especial para a reciclagem de garrafas PET. Como já é conhecido que as garrafas plásticas tem um valor no mercado, a maior parte delas é separada e destinada corretamente antes de atingirem os aterros sanitários. Em contrapartida a esse cenário, os plásticos filmem, alguns rígidos de PVC, PP, PE, são amplamente descartados nos lixos comuns e não possuem um processo de reciclagem bem definido, é nesse cenário que se encaixam os processos de reciclagem avançada.
Tá, mas então a reciclagem avançada é a solução para os resíduos plásticos?
Essa é uma pergunta com resposta ainda indefinida. Há uma grande expectativa de que essa seja sim a solução dos resíduos plásticos, porém ainda será necessário um tempo para que as tecnologias que estão emergindo se desenvolvam e atinjam uma escala significativa para o tratamento dos resíduos plásticos. As analises de ciclo de vida realizadas para esses processos mostram que as tecnologias são promissoras em termos ambientais (dependendo do tipo de tecnologia utilizada para o processo). Sendo assim, para os próximos anos, espera-se um alto investimento por parte das industrias nestes tipos de tecnologia, e consequentemente um aumento de escala, o qual pode contribuir para um aumento expressivo na reciclagem dos plásticos.