Redes permissionadas de Blockchain na cadeia de valor das organizações
Introdução
Algumas das questões frequentes sobre Blockchain envolvem o uso de plataformas públicas ou privadas e quando escolher entre uma ou outra. Mais do que isso, muitas pessoas acabam perguntando sobre casos de uso onde uma rede permissionada pode ser interessante.
Com isso este artigo procura explorar um pouco dessas questões, ainda que não de forma exaustiva, mas com o objetivo de iniciar uma boa discussão a respeito.
Ao ler este artigo você irá conhecer onde aplicar plataformas de redes permissionadas de Blockchain.
A cadeia de valor das organizações
Cadeia de valor é um conjunto de processos ou atividades pelas quais uma organização adiciona valor para seus produtos e serviços, incluindo produção, marketing e serviços de pós-venda.
Num mundo B2B as cadeias de valores destas organizações se relacionam. As trocas de valor entre as empresas são cada vez mais importantes. Essa troca de valor acontece através de modelos de integração plenamente utilizados nas diversas indústrias.
As plataformas de Blockchain, tanto públicas quanto permissionadas, permitem novas formas de trocas de valor entre as empresas. Novos modelos de negócio podem ser construídos a partir dessa adoção.
Importante ressaltar que num modelo de troca de valor como o exposto, muitas vezes são os mesmos dados ou as mesmas informações que são trocadas e trabalhadas por cada participante. De certa forma os mesmos dados (considerando os aspectos de confidencialidade envolvidos) são usados com finalidades diferentes ao longo da cadeia.
As diferenças entre plataformas públicas e permissionadas
Alguns aspectos envolvendo as plataformas de Blockchain Públicas (ou permissionless):
- Qualquer um pode se juntar a rede e ter uma cópia do ledger
- Exemplos: Bitcoin, Ethereum
- Em geral envolve um processo intense de uso de recursos computacionais para mineração para adicionar blocos
- Modelo de consenso requer o poder de processamento de vários nós para garantir a segurança
E como se caracterizam as plataformas de Blockchain permissionadas?
- Ecossistema fechado: membros são convidados para se juntar e ter uma cópia do ledger
- Os membros são reais e conhecidos
- Exemplos: Chain, R3 Corda e Hyperledger Fabric
- Protocolos de consenso depende de se saber quem são os membros
- As organizações podem escolher entre plataformas públicas ou permissionadas.
Neste artigo se procura explicar cenários envolvendo uso de plataformas permissionadas e como as organizações de um ecossistema podem se beneficiar com a adoção de Blockchain.
O relacionamento entre diferentes empresas HOJE
O mundo B2B já vivenciou várias formas de integração. Anos atrás se falava sobre EDI - Eletronic Document Interchange, que envolve a troca de documentos entre as empresas. Outras estratégias foram evoluindo (como webservices, APIs, dentre outras) para que essa integração se tornasse mais fácil. Isso porque cada empresa tem sua própria realidade.
Aplicações diferentes, banco de dados diferentes, tecnologias em uso diferentes, ciclos de desenvolvimento e manutenção totalmente diferentes entre si.
Como exemplos, algumas formas comuns de integração B2B são:
- upload/download de arquivos
- acesso remoto de serviços
- APIs - Application Programming Interfaces
- mensagerias
Considerando também que cada empresa estabelece os seus próprios padrões de integração incluindo o método a ser usado e o conteúdo da mensagem. Por exemplo, a comunicação entre as empresas A e B pode ocorrer via arquivos contendo conteúdo na forma de texto e entre B e C a comunicação ocorrer via web services considerando um conteúdo na forma de XML.
Também ao longo do tempo algumas indústrias procuraram encontrar uma forma de facilitar todo esse processo. Na Saúde, por exemplo, se tem o padrão HL7 para trocas dessas mensagens. Assim cada empresa ainda vivencia a sua própria realidade mas ao menos a troca de informação e o conteúdo é a mesma para toda a cadeia produtiva.
A mudança no relacionamento entre empresas com BLOCKCHAIN
Importante ressaltar que o cenário de integração B2B apresentado na seção anterior não é um problema. É a forma como diversas empresas tem trabalhado nos últimos anos. E será a forma considerada para muitas integrações sendo construídas nos dias de hoje. E isso está tudo bem e é normal que seja assim.
Porém estamos interessados em cenários onde a cadeia produtiva envolvendo as empresas A, B, C e D está de alguma forma sendo afetada e trazendo custos maiores na operação entre elas. Por exemplo, atrasos ou gargalos não mapeados no processo da cadeia produtiva ou ainda processos lentos em uma das empresas participantes.
Abaixo estão relacionados alguns dos desafios onde mudanças no relacionamento entre os participantes da cadeia produtiva podem ser interessantes para todos:
- estabelecer confiança e evitar custos e riscos de intermediários
- evitar a troca de informação com erros (ocasionada por trocas manuais)
- acelerar as reconciliações que possuem alto custo e são demoradas
- eliminar as discrepâncias de informações entre ERPs de diferentes organizações
- impedir transações entre organizações com alto risco e sujeitas a fraudes
- ter visibilidade da informação em tempo real
Blockchain poderia ajudar em cenários como esses? SIM!
Recentemente a Intelipost, empresa que participou do programa de aceleração na Oracle, o OSCA - Oracle Startup Cloud Accelerator, conduziu um desafio bastante interessante. Ela reuniu várias empresas participantes de uma determinada cadeia produtiva logística em um desafio de final de semana para encontrar uma solução para todas elas considerando os diferentes papéis de cada uma delas tais como: embarcadores, operadores logísticos, seguradora, corretora.
É uma experiência que foi muito interessante e que ilustra muito o que se busca com Blockchain: colaboração, integração e confiança.
Exemplos de possibilidades em outras indústrias:
- Banco, Seguradora, Corretora, Prestadora de Serviços
- Distribuidor, Transportadora, Aduana, Varejista
- Fazenda, Órgão de Governo, Banco, Cartório
- Prefeitura, Concessionária, Tribunal de Contas, Banco
As possibilidades de combinação são inúmeras. E lembrando: hoje estas empresas já trabalham de uma forma ou de outra se integrando entre si. O que queremos é encontrar formas para que essas empresas possam trabalhar juntas de uma forma melhor ou criar novas formas de trabalho que ainda não foram pensadas.
E nesse ponto Blockchain pode ajudar bastante. Considere a imagem abaixo:
Nesta imagem as quatro empresas (A, B, C e D) estão participando de uma rede permissionada de Blockchain. Cada uma delas mantém uma cópia do ledger, que é um registro imutável de todas as transações realizadas entre eles. Todas essas transações são registradas, validadas, sincronizadas e replicadas para todos os nós participantes. Ou seja, cada empresa A, B, C e D possui uma cópia idêntica desse ledger.
Importante notar que questões como o que será registrado, validado, sincronizado e replicado por quais participantes é objeto da definição dessa rede permissionada. Dados serão criptografados e os participantes não terão acesso a informações que não podem ser acessíveis para eles.
Com uma simplificação da cadeia envolvendo as quatro empresas, os processos se tornam mais simples e ágeis, e os participantes possuem acesso em tempo real a todas as transações que estão acontecendo. Cada participante poderá então, através de APIs, acessar ou registrar dados na Blockchain e integrar com seus próprios sistemas internos. Cada participante poderá fazer isso conforme lhe convier mas é importante notar que a informação está no ledger disponibilizada para todos os participantes.
Conclusão
Interessante notar que o mundo B2B está se transformando e que novos modelos de negócio envolvendo um ecossistema de empresas estão sendo possíveis com o uso de Blockchain. Destas formas, o uso de redes permissionadas terá um papel importante nesse cenário de integração entre essas organizações.
----
Fernando Galdino é Arquiteto de Soluções da Oracle do Brasil. Rodrigo Regente é Senior Digital and Cloud Sales Team Leader da Oracle do Brasil. As opiniões emitidas neste artigo são de caráter pessoal e não representam as opiniões da Oracle ou de seus empregados.
Arquiteto de Soluções Empresariais
6 aRodrigo Regente Juliano Triska Stefan Rehm