REFLEXÃO SOBRE O RÁDIO
O rádio, quando se tenta contar sua história, é quase sempre pensado em décadas. A novidade começa nos anos 20 e 30. Os anos 40 foram marcados pelos programas de auditório e o começo das radionovelas. Com a chegada da TV, os anos 50 foram de pura insegurança pois o rádio iria acabar, mesmo assim as radionovelas resistiram bravamente. Nos anos 60, em plena revolução dos costumes, o rádio AM domina e começam a surgir os disk jockeys. Nos anos 70 o AM começa a perder a força se rendendo à qualidade de som do FM. O rádio dos anos 80 e 90 passou por grandes transformações: os disk jockeys deram lugar aos comunicadores e grandes emissoras passaram a transmitir a mesma programação no AM e no FM. Nestes anos 2000 o rádio está cada vez mais forte, cercado de informação por todos os lados, por uma publicidade atuante e tecnologia cada vez mais acessível e disponível buscando novos caminhos, adaptações e conteúdo on-line. Não existe mais nenhum tipo da barreira geográfica e novas linguagens de entretenimento e interatividade estão aí para serem exploradas via internet ou celular, complementando e desafiando o rádio que finalmente alcança o status de imortal, definitivo, indispensável e onipresente.
Toda esta trajetória não seria possível sem os inúmeros, talentosos e perseverantes radialistas de todo o país. É neste ponto que começa minha reflexão pois, embora não seja uma unanimidade, a mão de obra do rádio dificilmente é reconhecida como merece. Pela própria forma de como foram dadas as concessões no Brasil, privilegiando uma maioria esmagadora de políticos, o rádio brasileiro foi impedido de se profissionalizar como em outros países. Um sindicato fraco e inoperante aliado a um mercado onde os salários são irrisórios no rádio e ridículos nas produtoras. Ora, se você quer ter um negócio de sucesso precisa ter pessoas na equipe que realmente amem o negócio e o valorizem, se importem com ele tanto quanto você. Então, é obvio que se valorize quem trabalha com você!
Infelizmente não é isso que se vê por aí. Há muito tempo o rádio não investe no material humano como deveria. Primeiro calaram os locutores acabando com suas personalidades e, consequentemente, com sua empatia. A ordem é falar rápido e o mínimo possível. A bem da verdade essa situação tem melhorado ultimamente, recolocando o rádio aos poucos num patamar de onde nunca deveria ter saído. Na produção, os promos, as chamadas, os textos comerciais são quase sempre iguais pois criatividade requer pessoas criativas. Na promoção é a mesma coisa: sorteios de kits e carona em shows e eventos com disputados ingressos e só, salvo raríssimas exceções. Embora o jornalismo tenha crescido muito ultimamente, nos mercados médios e pequenos o custo ainda é considerado proibitivo fazendo com que as emissoras recorram apenas à internet (Gilette Press da atualidade). Na programação musical o problema é mais grave. Alguém, em algum lugar, em alguma época, disse que fazer programação era uma questão de feeling e esta ideia foi se espalhando, ao longo do tempo, para uma série de programadores que foram escolhidos por causa deste feeling. Além disso, as preocupações de todo programador deveriam ser com a sequência, cercar bem as músicas menos conhecidas, controlar bem os ritmos e, se possível, evitar vozes femininas seguidas. Tudo bem, porém programação não é só isso. Ninguém ensina os fundamentos e as técnicas para se conseguir uma programação equilibrada, consistente e variada, 24 horas, todos os dias.
As redes cresceram muito nos últimos anos mas não conseguiram resolver problemas como frieza e distância do público em algumas e afastamento e descaracterização do padrão da matriz em outras. No primeiro caso a frieza se deve ao fato de alguns projetos usarem um estúdio para a matriz e outro para a rede, com equipes distintas. No estúdio da matriz pode-se falar do trânsito, da previsão do tempo, enquanto no estúdio da rede não se pode falar nada disso e, quando entra o horário de verão, nem a hora certa. No segundo caso, quando são implantados horários locais nas afiliadas o padrão da matriz é constantemente modificado causando um grave problema de imagem dificilmente controlado com rigor.
E pesquisa, então? Raramente se vê uma rádio verdadeiramente interessada em saber como está em relação ao seu público. O custo é alto, eu sei, mas nada como um bom planejamento para se ter, de vez em quando, uma ideia do que está acontecendo. O monitoramento constante é fundamental para não se perder o rumo, para detectar novas tendências, saber o que não está mais funcionando, descobrir um novo posicionamento e direcionar todas as ações da emissora. Para ser líder em um mercado competitivo, é necessário realizar uma profunda investigação deste mercado. Se uma minuciosa pesquisa de mercado não é feita, simplesmente estaremos tentando adivinhar o que está na mente do ouvinte potencial. Fazer rádio é manipular esta mente e se não sabemos o que se passa nesta mente não podemos fazê-lo. A sua rádio pode até ser um produto que vale a pena, mas não sabemos. Fazer rádio sem pesquisa é como dirigir no escuro.
Nas próximas postagens vou tratar cada assunto separadamente e com um pouco mais de profundidade.
Diretor comercial no Teatro B32
8 aÉ isso Paulinho, o radio não se profissionalizou, ficou obsoleto por todos os motivos que você explicou mas continua sendo, apesar de tudo o mais apaixonante dos veículos,o mais companheiro, o mais simples, o mais pratico, o mais democrático. Putz, sou ouvinte 20 horas por dia desde sempre, tenho rádio no quarto, no banheiro,no carro, no PC, no Smartphone, ouço,critico e participo, mando mensagem falando do transito,do buraco na rua e peço musica. Sou fã! O radio é tão bom que resiste a todos os desmandos, a falta de investimento, ao amadorismo, a pasteurização e a politicagem. Ainda não perdi a esperança de ouvir e ver o rádio com qualidade digital, com conteúdo e variedade de programação musical. Obrigado por abordar este tema tão apaixonante ! Abs