Reforma Trabalhista? Concepções e aspirações que constituem subjetividades
Operários, 1933. (Tarsila do Amaral)

Reforma Trabalhista? Concepções e aspirações que constituem subjetividades

A democracia não ganhou, pois os trabalhadores são a maioria que sustentam o país.

Minha vida atual de trabalhador, diante da minha realidade, na maioria das vezes privilegiada, está muito distante da massa esmagadora do povo brasileiro. Porém, venho de uma origem de relações de trabalho abusivos, de ver meus pais nestas mesmas situações por falta de instrução, de sentir e perceber a necessidade em me proporcionar o mínimo de condições de dignidade em estudo, moradia, alimentação, etc... e, de ver e conviver com diversas pessoas, sobretudo honestas, mas vulneráveis socialmente ao sistema e mais ainda, em silêncio pelas relações de poder que imperam socialmente sobre elas, mas por dentro delas, gritando num sentimento de exploração.

Diante desta análise, eu com 33 anos, já tenho 18 sendo trabalhador empregado e sinto-me provocado na constituição de subjetividade ao expressar o desconforto frente a reforma trabalhista.

No outro extremo da minha atual conjuntura de relações, vejo discursos funcionalistas, de vários empresários ou gestores a quem já tive e tenho acesso ainda, já ouvi objetivamente e de forma subliminar que nem todos tem as mesmas condições, sendo normal, isso faz parte da constituição social que vivemos; não é ruim, afinal, imagina se todos fossem iguais, quem lhe serviria? Estarreço, estremeço e a cada dia percebo que este universo corporativista "selvagem" não é e nunca foi pra mim! Sempre, ao olhar suas falácias de que a meritocracia é o idealismo de justiça para quem se esforça mais... tsc, tsc, tsc... Quanta ignorância! Saiam de suas zonas de conforto e sujem seus sapatos percorrendo lugares que vocês só vêem em documentários ou reportagens jornalísticas, mas que estão mais perto do que vocês acreditam, andem de ônibus, metrô para trabalhar, olhem para as universidades públicas quem as habita... enfim, seriam tantos exemplos de desigualdades.

Seria ótimo se tod@s tivessem as mesmas oportunidades, da forma mais ampla possível, mas o fato é que não têm, poderia chamar isso de utopia, mas me resta um fundo de esperança na nação, quem sabe dos meus filhos e netos. O privilégio das classes é estrutural e poucos rompem com isso. Precisamos de ajustes na CLT, sim, mas esta Reforma definitivamente não é pra todos, menos ainda, para a maioria pobre e trabalhadora, e, isso me afeta...

Escancaradamente, olhar para fora das nossas elitizadas condutas e ver um país onde muita gente vive com um salário mínimo, (e é muita mesmo), ao perceber que alguns direitos existiam justamente para amenizar ou proteger os mais vulneráveis, no entanto estão se perdendo reformatados por uma classe voltada para a ganância do empresariado, de uma burguesia sem a estética da empatia, que sabe dos sofrimentos dos seus, mas negligência pelas suas ambições capitalistas.

Eu tenho profissão, e aliás estou correndo atrás de outra, mas reconheço que meu lugar de privilégio, a ponto de não me dar o direito de justificar a importância de uma reforma com itens como "home office" que diretamente me beneficia.

Pensemos... Será que a "Dona Maria" pessoa com falta de esclarecimentos, de uma simplicidade ímpar pela sua vida sofrida e sem oportunidades de estudo, entendeu que sua jornada diária pode chegar a até 12h, e o limite semanal a 48h, incluídas quatro horas extras. E isso é dito pra ela que ela não vai trabalhar mais do que trabalhava...

E que o seu esposo, "Sr. José", logo, um trabalhador do mesmo perfil e que moram em uma comunidade carente e que sempre fez horas extras porque a empresa o obrigava e se não fizesse não seria comprometido com os valores da empresa, mas também porque esta renda era complementar, mas que agora, no entanto, seu banco de horas poderá ser negociado por acordo individual, (ele sabendo ou não acordar, que é diferente de concordar, aceitar), com a compensação em seis meses destas horas a mais que ele realizou. Difícil se colocar no lugar eles, quem sabe eles nunca irão ler tudo isso por sinal...

Deixar que um empregado, pela via dos seus RHs, negocie com empregador seu contrato de trabalho é no mínimo uma hipocrisia descabida! Olhem para as comunidades, para as vilas, becos e servidões... vão até estes locais e observem como um empresário negociaria com a humildade deste povo.

O nome disso é ganância por uma mão-de-obra assujeitada ao seus preços e calada por não ver mais saídas!

Em tempos de um humanismo doente que reverbera, esta reforma maquiada com um bom requinte de bondade ao trabalhador é o resultado de um anseio de empregados baratos e sem voz para encobrir a dificuldade de manter-se empresário em um país fraco de condutas éticas e políticas. Para isso recai na empatia com a sociedade das minorias, visto de que elas não são as menores. Quem sabe a saída de uma reforma fosse menos corrupção, inclusive vindo de empresários e políticos tão interessados na matéria.

Fernando Novais da Silva, Msc.

Agente de Inovação | Professor universitário | Consultor | Gestão de Pessoas e DHO

7 a

Essa reforma é complexa, mas é fato que precisa acontecer.

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