«Regresso a Brideshead» de Evelyn Waugh
Regresso a Brideshead de Evelyn Waugh
«Regresso a Brideshead» é um retrato de Inglaterra na primeira metade do século XX. A partir do romance de uma casa e da história de uma família. Sente-se a guerra europeia, as contradições da industrialização e da tradição, o anglicanismo e o catolicismo, a crise da velha nobreza, a decadência das casas antigas e do que significavam, mas também as reminiscências da honra, da dignidade e também do dogmatismo em ligação com a esperança.
Contudo, a Graça divina vai emergindo subtilmente, uma vez que a esperança, a honra e a dignidade não permitem a indiferença. Há, aliás, um diálogo entre Charles e Cordelia, a irmã mais nova de Sebastian, em que Waugh traz uma citação célebre de Chesterton (bem sentida por ele mesmo) retirada de um dos contos mais conhecidos do Padre Brown, sobre pescadores de almas: «Apanhei-o com um anzol invisível e uma invisível linha tão comprida que posso deixá-lo vaguear até aos confins do mundo e, mesmo assim, trazê-lo de volta só com uma sacudidela do meu dedo».
E essa ligação é teológica, tendo também a ver com a relação vital e rica entre pedras vivas e pedras mortas e entre o passado, o presente e o futuro.
A amizade entre Charles Ryder e Sebastian Flyte é feita da procura de compreensão do «outro» com todas as dificuldades e resistências de aproximação e de distância. O romance é, assim, entretecido por um profundo afeto por uma casa histórica e pelas pessoas que a habitam.
E Evelyn Waugh diz no prefácio à edição de 1959 que, em 1944, quando escreveu a obra, estava longe de supor que as casas de campo inglesas ganhassem a importância que obteriam como exemplos vivos de história e de identidade.
Pode, aliás, dizer-se que o escritor foi dos contribuiu decisivamente, para que essa atenção patrimonial, de modo que as casas não fossem vítimas de um cruel esquecimento, como tinha acontecido com os conventos no século XVI.
No fundo as casas têm alma e são pontos de encontro entre a história e a vida.
Guilherme de Oliveira Martins.
President at TRAFALGAR HOLDINGS
9 aTambém gostei muito do livro e do filme.