Reiniciar o Mundo em "Safe Mode"

Reiniciar o Mundo em "Safe Mode"

Sexta-feira passada, o mundo digital acordou sobressaltado.

Durante as primeiras horas da manhã, à medida que o mundo ia começando a sua atividade comercial, o pânico gerou-se. Milhares de computadores em todo o mundo iam mostrando o famoso e indesejável ecrã azul da morte (BSOD – Blue Screen of Death).

Reiniciando os computadores parecia não surtir qualquer efeito.

 

A primeira dedução foi simples. Cada uma das companhias afetadas, julgava estar a ser vítima de um ciberataque. Com o decorrer das horas vieram noticias pacificadoras. Não se tratava de um ciberataque à escala mundial, mas “simplesmente” da distribuição de um update aplicacional que apresentava problemas.

A empresa americana de cibersegurança CrowdStrike distribuiu uma atualização defeituosa do seu software de segurança que causou a falha em larga escala. Rapidamente foi detetada a causa especifica, foi revertido o update defeituoso e iniciou-se o processo de correção das máquinas afetadas.

A primeira solução surgiu rapidamente. Tratava-se uma ação simples. Arrancar o sistema operativo da Microsoft em “modo segurança” (Safe Mode) e apagar um ficheiro específico. Tratava-se de um procedimento simples, mas que tinha de ser realizado individualmente. Tarefa demasiado morosa quando o mundo começava a dar sinais de desespero.

Mais tarde surgiram soluções mais práticas e eficazes, permitindo automatizar o processo de recuperação.

Durante o dia o problema foi sendo solucionado e o mundo foi retomando a normalidade.

Segundo os últimos dados foram afetados cerca de 8,5 milhões de computadores com versões específicas do Microsoft Windows e que os impedia de iniciar corretamente. David Weston, vice-presidente da Microsoft, descansou-nos a todos, afirmando que este número é menos de 1% de todas as máquinas Windows do mundo.

 

Independentemente do número efetivo de máquinas afetadas, a realidade é que muitos serviços ficaram indisponíveis, alguns deles críticos e imprescindíveis para a sociedade em que vivemos. Serviços médicos e hospitalares em todos o mundo, companhias aéreas, organismos da administração pública, bolsas, estações de televisão, entre muitos outros.

 

Apesar da causa não ter sido deliberada e se afirmar que a proporção de sistemas afetados foi relativamente pequena, devemos pensar na dependência que temos da tecnologia e como havemos de nos precaver quando o ataque for intencional e em maior escala.

Se um “apagão” de 1% de sistemas com Windows causou tanto incómodo à sociedade, como vamos fazer quando forem 5% ou 10% de todos os sistemas? Quais as soluções de backup em larga escala que temos preparadas? Na nossa empresa, na nossa cidade, no nosso país, na nossa vida??

Quanto tempo conseguimos (sobre)viver, sem transportes públicos, sem serviços públicos, sem serviços de saúde, sem emergência médica??

 

O Mundo não possui um boot em “modo segurança” (Safe Mode), mas talvez seja o momento certo para ponderar essa necessidade.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Nuno Carvalho

  • Mas… e se?

    Mas… e se?

    Continuando na senda do mediatismo dos incidentes de cibersegurança que tem ocorrido nos últimos tempos em Portugal…

    1 comentário
  • Cibersegurança: debater ou agir?

    Cibersegurança: debater ou agir?

    O ano de 2022 começou com o tema da Cibersegurança nos tabloides de uma forma incessante. Um grupo de media português…

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos