Rejeitos: Gestão de Tsunamis
Devido às duas maiores tragédias ocorridas no Brasil envolvendo barragens de rejeitos (Mariana e Brumadinho), deu-se uma maior atenção ao tema dos rejeitos com ênfase no seu reaproveitamento e na segurança das estruturas de contenção. Em setembro de 2019 o IBRAM assumiu publicamente que envidaria esforços para desenvolver tecnologias visando a redução na geração de rejeitos, melhorar a segurança das barragens e fomentar novos negócios para uma melhor destinação e transformação de rejeitos em novos produtos. A redução na geração de rejeitos ainda segue fora da pauta de prioridades.
Vivemos uma escassez de estatísticas oficiais sobre a quantidade de rejeitos de mineração gerados pela indústria no país. No entanto, um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2012, trouxe dados importantes sobre a geração de rejeitos da mineração no decênio 1996-2005, a partir da análise de quatorze substâncias minerais, sendo que o ferro (35,08%) e o ouro (13,82%) foram os que mais contribuíram para a geração de rejeitos no período. Uma projeção de cenário futuro da geração de rejeitos também foi elaborada, partindo de 348 milhões de toneladas em 2010 para 684 milhões de toneladas em 2030. No cenário trabalhado, o ferro permaneceu como a principal substância geradora de rejeitos.
Outro estudo sobre a geração de rejeitos no Brasil, elaborado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em 2017, dividiu o cenário dos rejeitos em duas partes (Cadeia Produtiva e Reaproveitamento de Rejeitos) e trouxe estimativas sobre a quantidade acumulada de rejeitos de mineração entre 2000 e 2014. Estimou-se que foram acumulados cerca de 4,86 bilhões de toneladas de rejeitos no período, sendo que as produções de minério de ferro, ouro e fosfato superaram individualmente o patamar de um bilhão de toneladas cada, e que apenas os dois primeiros representaram 58% do total de rejeitos gerados no período estudado. Segundo estimativa do IPT, a quantidade de rejeitos gerados no ano de 2009 (515 milhões de toneladas) sobre o montante de minério extraído, foi de 35,5%.
Em relação à segunda parte do estudo do IPT, o questionamento que fica é: Como reaproveitar os rejeitos de mineração na mesma proporção das montanhas geradas anualmente? Encontrar soluções que acompanhem o ritmo dessa geração descomunal é a principal pergunta, ainda sem resposta, para o problema.
Há um consenso geral sobre a queda nos teores das jazidas e a estratégia convencionalmente adotada para enfrentar esse paradigma, tem sido aumentar a capacidade de tratamento do minério de baixo teor, o que gera maiores quantidades de rejeitos. Sendo um dos principais passivos ambientais da mineração, todos os esforços da indústria estão concentrados em gerenciar e manter sob controle verdadeiros tsunamis, deixando para segundo plano as soluções que visam mitigar a sua geração. Uma frase que foi muito difundida no meio mineral, “o rejeito de hoje será a mineração de amanhã”, parece nos dar algumas pistas sobre como chegamos a esses números.
Segundo dados da ANM (Agencia Nacional de Mineração), das 925 barragens cadastradas no SIGBM, 16 apresentam volume superior a 50 milhões m³. Os estados de MG, GO e PA abrigam as sete maiores barragens do país:
MG
> 415 milhões m³ (Ouro)
> 364 milhões m³ (Ouro)
> 209 milhões m³ (Ferro)
> 196 milhões m³ (Fosfato)
> 166 milhões m³ (Ferro)
GO
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> 245 milhões m³ (Cobre)
PA
> 141 milhões m³ (Ferro)
Para efeitos de comparação, a famosa Lagoa da Pampulha na cidade de Belo Horizonte, possui 10 milhões m³. Precisaríamos de 41 Lagoas da Pampulha para preencher a maior barragem do país. Segundo a previsão do IPEA para o cenário de 2030, produziremos o equivalente a 68 Lagoas da Pampulha em volume de rejeitos de mineração por ano.
A Agenda ESG da Mineração não tem medido esforços para reparar os estragos à sua reputação, causados pelos dois últimos desastres envolvendo barragens de rejeitos. Suas ações coordenadas tem como foco principal a inclusão social, equidade de gênero, diversidade e soluções alternativas de disposição, segurança e reaproveitamento de rejeitos. A gestão dos riscos operacionais e segurança de barragens de rejeitos se tornaram indispensáveis, face o enorme volume de rejeitos armazenados existentes no país e o seu impacto socioambiental associado, quando há colapsos nessas estruturas.
Apesar dos inúmeros problemas gerados pelo atual paradigma no tratamento de minérios, ainda não vemos o assunto da redução na geração serem temas de debates nos congressos de mineração. No próximo editorial*, discutiremos as potencialidades existentes para reduzir a geração de rejeitos, respeitando as diferentes características de cada tipo de minério e demonstrando os benefícios socioambientais resultantes dessa abordagem. A apropriação desse tópico pela Agenda ESG se faz necessária e urgente, uma vez que o cenário à nossa frente tende a piorar se continuarmos nessa toada.
MOPENEWS
Curiosidade
*Editorial: Reduzir Rejeitos Finos
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