Repensando a Medicina
Precisamos repensar a medicina como profissão.
A medicina tem calcada em suas origens um objetivo e missão sacerdotal, semidivina, com nossa mitologia preenchida por arquétipos como Hipócrates, Asclépio, Cosme e Damião, e outros que passeiam entre a divindade e a santidade. Tal aspecto é representado pelos discursos do saber e sua relação com o erro (não causar dano) e o da resiliência e abnegação, que durante a pandemia foi amplamente evocado. Nestes últimos anos fomos situados como heróis, semideuses de uma guerra injusta, incansáveis e marcados por um inimigo mais eficiente e robusto que nos colocou como espectadores de silêncios, dores e impotências.
Há muito tempo temos discutido a medicina como símbolo de acesso a uma classe social superior, conectados a objetivos assistencialistas, representantes de tecnologias que se superam em inovações e custos e principalmente como mitigadores do sofrimento humano. Sim são objetivos nobres, mas pouco debatemos o outro lado dessa equação: judicialização exponencial, conflitos com gestores das instituições e operadoras de saúde, perda de autonomia cada vez mais crescente e falta de condições básicas para exercermos nosso trabalho, sim, porque a medicina é também um trabalho como qualquer outro, e merece poder usufruir desse pensamento.
Como profissionais, estamos em um momento que se tornará definidor de um futuro (não tão distante) onde as restrições se avolumam, nosso processo decisório terá que passar necessariamente pelo crivo das finanças das instituições e os conceitos de multidisciplinaridade e experiência do paciente serão nosso dia a dia.
Temos muito que aprender, pois no geral, nos falta o conhecimento gerencial para nos posicionarmos em igualdade com os algoritmos e setores de custos e auditorias, onde negociações são feitas sem nosso conhecimento alterando formas de pagamento e atuação, e impactando nossa qualidade de vida.
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Temos muito em que pensar, quando burnouts e agressões se tornam um cotidiano aceitável pelos médicos, e a remuneração já se torna desanimadora frente a processos e gastos cada vez mais intensivos.
Voltamos, portanto, ao inicio, onde precisamos reformular a profissão medica, retirando a sensação de sacrifício em prol da humanidade, buscando um equilíbrio entre o cuidar e o se cuidar, entre a assistência e o empreendedorismo, entre o discurso técnico e o gerencial.
Precisamos nos envolver em nossa profissão, somente assim poderemos realmente fornecer o que nosso cliente precisa: saúde.
SCS