Resenha Filme Ex Machina
Resenha crítica da obra cinematográfica Ex Machina: Instinto Artificial
Diretor: Alex Garland
Elenco: Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, Oscar Isaac, Sonoya Mizuno
Autor: Gustavo Luiz Bittencourt Cravo
Filmes que discutem a relação homem com a máquina são nada novos, basta voltar a 1927 com o filme “Metrópolis”, do alemão Fritz Lang e 2014 o filme “Ela”, de Spike Jonze. Outro filme que explora esse relacionamento sangue/plástico é “Ex Machina: Instinto Artificial” (2015), o longa conta a história de Nathan Bateman (Oscar Isaac), um excêntrico CEO de uma empresa que convida o programador Caleb Smith (Domhnall Gleeson) para realizar o Teste de Turing numa robô humanoide dotada de inteligência artificial chamada Ava (Alicia Vikander).
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O filme gira em torno de Ava, mesmo Caleb sendo o protagonista. E é nela que habita a mágica do filme com uma atuação delicada e no ponto para a robô, de forma que não fique tão humana nem tão mecânica, dando o aspecto ideal para que, mesmo sendo mostrado na tela uma criatura não humana, consigamos nos afeiçoar com algo feito de parafuso e borracha. Já os cientistas, Caleb e Nathan, são personagens com composições menores, enquanto Caleb é o jovem promissor abobalhado e temeroso, Nathan é o playboy rico, bem sucedido, cheio da pinta descolada e maneira.
O filme usa de forma bem inteligente vários dilemas humanos sobre sociedade e relacionamentos, que passam por machismo, objetificação feminina, síndrome de Deus e sexualidade pela carcaça de um robô. Ava é um robô construído por um homem. Ela, assim como todas as outras robôs feitas por Nathan, são construídas em moldes femininos magros e curvilíneos, o padrão estético hegemônico. Isso mostra a idealização e objetivação do corpo feminino, principalmente por ter sido feita por mãos masculinas, e tais mãos masculinas de Nathan são a representação da supremacia do homem na nossa sociedade.
O cientista vai construindo várias robôs – todas femininas – e descartando-as com o passar do tempo e o aprimoramento da sua técnica, cada vez avançando mais de uma perfeição histriônica, numa alusão à indústria opressora que busca encaixar e objetificar as mulheres em formas que prezem o prazer do homem. As robôs são fantoches e objetos do seu mestre, tão qual o machismo nosso de cada dia tenta adestrar as mulheres humanas.
Ainda no longa, o Deus é Nathan, que em certo momento se auto declara a divindade por conseguir gerar “vida”, mesmo que de forma artificial – o nome da robô, uma alusão à Eva, a primeira mulher criada por Deus, é autoexplicativo. Só que Ava deixa de ser mera máquina que conduz Deus para tomar as rédeas de seu próprio destino, interferindo no curso sacro do seu criador Criatura contra criador).
A riqueza de “Ex Machina” está nas discussões existenciais e éticas provocadas, e todas elas caem em cima dos próprios seres humanos. Deveríamos mesmo criar algo tão parecido conosco? Se criarmos, temos o direito de destruí-lo? Até onde podemos avançar no relacionamento com essa criatura? Aliás, podemos chamar de “relacionamento”? Nathan fala “No futuro, nós seremos destruídos pela inteligência artificial”, então é sábio se dedicar a algo que pode superar o próprio criador? Mas se for para ser inferior, o que diminuiria os riscos de rebelião, por que criá-lo?
Outro ponto intrínseco com nossa realidade é a abordagem dada pelo filme sobre o império dos dados. Na era digital, empresas como o Google controlam bilhões de correntes com informações sobre todos nós que estamos conectados nesse momento, e como isso pode ser usado contra nós a qualquer momento.
Licentiate degree | Universidade de São Paulo / USP
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